Mas Theo sempre fora uma criança dada a agradar aos adultos, era quieta e observadora e não gostava de deixar nenhum mais velho bravo. Então, ela sorriu e disse que sim, e que estava ansiosa para fazer novos amigos, mas na verdade cada grama de sua pequenez de cinco anos estava nervosa com aquela viagem.
— Será por pouco tempo, querida — dissera Karen, conforme viravam mais uma rua para chegar ao destino. O tom era, como sempre, gentil e suave, como se apenas aquilo fosse garantir que Marie realmente fosse ficar bem nos próximos dias, meses, anos. Mas nenhuma das duas podia ter certeza daquilo, nem mesmo toda a experiência de Karen poderia prever o que aconteceria. Theodora apenas abraçou a girafa de crochê que ganhara da avó após a morte dos pais, era sua companheira nas noites de pesadelo desde então, e a garotinha adorava o boneco com todas as forças.
Sem resposta, a pequena Hertzog recostou-se no banco e fechou os olhos. Ainda não sabia quanto tempo teriam na estrada.
O carro parou, e Theo acordou em um sobressalto. Desorientada, olhou em volta, vendo Karen sair do carro após acionar uma alavanca na lateral do banco — Fique aqui mais um minuto, sim? — disse, antes de fechar a porta e caminhar para a traseira do carro. Theo se esticou na cadeirinha, observando a casa que ocuparia por... bem, ela não sabia por quanto tempo. Ela, definitivamente não estava animada, e o clima do lugar, não parecia muito certo. Passaram-se minutos antes que a porta do seu lado fosse aberta. — Vamos?
“Não” quis dizer Theodora, mas, a única coisa que fez foi soltar o cinto de segurança e saltar da cadeirinha com a ajuda da mais velha, que lhe entregou uma mochila com uns poucos pertences pessoais dos quais Theo mais gostava. A menina colocou a mochila nas costas, ainda apreensiva, e segurou na mão de Karen, enquanto ainda carregava a girafinha amarelo-vivo na outra mão. A assistente social passou a leva-la em direção à porta. E, a cada passo, o aperto no peito da menina apenas aumentava — ela podia sentir a vontade de chorar crescer a cada passo, e apertou mais a mão da adulta que lhe fazia companhia conforme, enfim, chegaram à soleira da porta. — Eu não... quero ir, quero a vovó — a voz da pequena Hertzog era baixa e chorosa conforme adentravam a casa. Karen não se abalou, e a levou junto até um corredor, ladeado de portas.
— Tudo bem, meu bem — disse, abaixando-se até ficar na altura da criança. Theodora abraçou a girafa e deu um pequeno passo para trás. Ela sabia que sua vontade não era possível, afinal, assim como seus pais a avó tinha virado estrelinha, tinham explicado para ela — não com esse termo, claro. — Só espere eu falar com a diretora do Abrigo, certo? Pode me esperar aqui?
Assentiu, recostando-se à parede. Em breve sairia dali, certo?
Esperava que sim.