— Eu preciso mesmo me arrumar pra fazer isso? — perguntou uma ansiosa Liandra, enquanto sua amiga preenchia suas pálpebras com uma sombra na cor de sua pele, esfumaçando uma sombra mais escura por cima.

Manu a convencera a se maquiar para a filmagem, o que se mostrou uma missão quase impossível, dado que a loira não parava de se mexer e abrir os olhos, quase impedindo que a menina de cabelos castanhos ondulados terminasse a maquiagem simples que prometera.

— Você vai ficar linda. — dizia a morena, sentando a quartanista pela quinquagésima vez no banco onde a havia sentado para fazer sua maquiagem. — Liandra, fica quieta!

Liandra estava ansiosa, e isso só tornava as coisas piores. Ela, que, naturalmente, não conseguia ficar parada, a todo momento tentava dissuadir sua amiga a parar com a maquiagem — não era necessário, era só um vídeo de brincadeira, mas, claro, tia Simone não podia ficar quieta e sugerir que fizessem um vídeo de alta produção, com maquiagem e mudanças de câmera, e, para piorar, toda a família resolveu apoiar!

— Sabe, a gente pode só gravar uma música e pronto, isso não vai virar algo famoso e... — disse, certa vez, a loira, virando-se para Simone enquanto sua amiga terminava de colocar o iluminador em suas bochechas. — Não precisamos colocar três câmeras, não precisamos dessa produção toda, tia.

A mulher simplesmente se dignou em sorrir, terminando de arrumar o cabelo loiro da bruxinha. Era visível que a menina estava desconfortável com toda aquela atenção, mas... Era seu sonho, certo? A única coisa que sabia fazer bem, e sua melhor amiga estava ajudando.

— Vamos, Lia, sua voz é muito bonita, aposto que você vai conseguir muitas views com esse vídeo. — disse Manuela, a quartanista que estudava junto com a menina em Castelobruxo, cujo pai abrigava um estúdio de música no único porão que existia em Jardins. — O mínimo que podemos fazer é torna-la tão bonita quanto sua voz.

— Mas... — Liandra começou a dizer algo, mas foi interrompida por Caio, irmão mais velho de Manu, que havia chegado com uma câmera profissional pendurada no pescoço, distraindo a loira de qualquer coisa que fosse falar. — Que câmera é essa? — perguntou, levantando-se mais uma vez do banco, fazendo a morena se voltar para o irmão com uma carranca, e puxar a loira novamente para o banco. — Quê?

— Você vai sentar aqui e vai me deixar terminar sua maquiagem. — respondeu Manuela, empurrando os ombros de Liandra para que ela ficasse na postura certa. — Depois a gente vai escolher uma roupa bem bonita, para fazermos a filmagem.

— Manu, eu sequer sei o que tenho que fazer nessa filmagem. — respondeu a menina, enquanto a menina passava o pincel de blush em suas bochechas, deixando-as mais rosadas. Então sorriu, analisando a maquiagem que havia feito. — Pronto.

A jovem morena pegou um espelho e fez com que a loira visse a sua própria imagem no espelho, seus olhos azuis claro se arregalando com a imagem que via. Aquela era ela? Com aqueles cílios mais longos e marcados, com o cabelo arrumado daquela forma que a fazia parecer ter um rosto mais magro. Seus olhos eram tão azuis assim? Liandra tocou suas bochechas, perfeitamente rosadas, encantada com o que via no espelho

— Eu vou cantar assim? — perguntou, em um tom baixo, voltando seu olhar para a amiga que segurava o espelho. — E agora?

— Vou escolher uma roupa para você. — disse Manu, puxando a amiga para seu quarto. — Vamos tentar isso aqui. — pegou uma blusa cinza escura, de lã, com gola alta e mangas longas, e uma saia azul marinho plissada e as jogou para a loira. — Pode colocar.

Liandra assentiu, mordendo o canto de seu lábio, pegando as roupas e indo ao banheiro para se trocar, saindo de lá com a roupa pronta, e voltou para o quarto, encontrando novamente a amiga, que a olhou com um sorriso nos lábios e celular na mão. Manu tirou uma foto da loira, com um sorriso maroto nos lábios, e a quartanista encarou a menina com um olhar ultrajado.

— Ficou lindo, mas ainda não tá perfeito... — disse Manu é a loira soltou um pequeno gemido, mas a menina não parecia completamente satisfeita. Com uma careta pensativa, Manuela pegou outro vestido, branco com renda nas mangás, e o jogou para a outra. — Veste isso. Acho que vai ficar melhor.

A loira suspirou. Essa menina quer me matar? Perguntou-se enquanto pegava o novo conjunto e ia ao banheiro para se trocar. Ela voltou e, novamente, Manuela estava lá, com o celular em mãos, e a câmera apontada para seu rosto, e a loira ouviu o som da foto sendo tirada. Liandra arregalou os olhos e correu em direção a menina, lutando com a morena pelo aparelho celular.

[…]

A loira estava andando de um lado para outro no estúdio dos Aguiar, apertando suas mãos, enquanto pai e irmãos arrumavam tudo para ela começar a cantar. Suas palmas suavam e a menina arrastava-as na saia do vestido que havia pegado emprestado de Manu — a Aguiar mais nova.

Os microfones estavam ligados e em seus lugares, prontos para gravar sua voz. O piano de cauda estava a postos e as três câmeras estavam em seus tripés — todas controladas por Caio. Eles ensaiaram a música até que ficasse perfeita, o arranjo de Paulo ficara maravilhoso e combinara perfeitamente com a voz de Liandra e a voz de Manu — que seria sua backing vocal.

— Vamos cantar, Lia? — perguntou Manu, e a loira parou de andar, virando-se para a amiga com um olhar apavorado. A morena riu e se aproximou, pegando as mãos da menina. — Olha, você só tem que cantar como você cantou nos ensaios, tudo bem? Nós podemos filmar quantas vezes precisar, se você errar. Mas você é muito boa. Sei que não vai.

— Mas e se ficar...

— Você vai ficar aqui. — interrompeu a Aguiar, puxando a amiga para perto do microfone principal e colocando-a em pé ali, atrás dele. — Vai fechar os olhos, e cantar. Exatamente como ensaiamos, okay? — fez a menina acenar com a cabeça, não dando muitas escolhas.

— Tá bom... — murmurou Liandra.

— Então vamos começar? — perguntou Paulo, olhando para uma Dunham nervosa, que respirou fundo uma vez e assentiu. O homem olhou para Caio, que sinalizou com a cabeça, e começou a tocar a melodia que tinham ensaiado.

Não demorou muito para Liandra começar a cantar, com os olhos fechados. Logo ela estava tão envolvida e concentrada na música, que nem percebeu se havia cometido algum erro ou não, e o tempo havia voado.

Deviam ter se passado algumas horas, pois quando subiram, para ver o vídeo bruto que tinham conseguido filmar no super computador de Caio Aguiar, o sol já havia se posto e eles haviam começado a se preparar depois do almoço.

Liandra parou na escada, parando para observar o céu noturno por uma das janelas que havia no caminho para o primeiro andar da casa. As estrelas estavam visíveis no céu de São Paulo, pela primeira vez em algum tempo, e tudo estava bonito. O clima estava frio, como costumava estar em Monte Nevado, onde morava com sua família. A loira sorriu, não surpresa que haviam se passado horas desde que haviam começado tudo aquilo — isso tendia a acontecer com ela, quando ela estava curtindo o que estava fazendo.

— Vem, vamos ver como ficou o vídeo. Talvez, Caio consiga te mandar o vídeo para postar ainda hoje. — disse Manuela, chamando sua atenção e colocando uma mão em seu ombro, com um sorriso gentil nos lábios.

Liandra respondeu ao sorriso, mordendo o lábio e olhando para o céu estrelado uma última vez. Quem sabe não chegaria ali um dia?