A sala de aula geralmente era bastante comum e as classes dividiam os alunos em duplas para a execução dos feitiços aprendidos. Para aquele primeiro encontro eu havia desfeito tal cenário, deixando somente minha mesa em seu respectivo lugar. Com a ajuda da magia, espalhei pedras, tocos de árvore e tijolos de diversos tamanhos desde a entrada da sala até onde eu estava. O acesso acabava ficando mais difícil, mas a ideia era essa mesmo. Escorada em minha mesa, cumprimentei desde os alunos adiantados aos que chegaram à beira de um atraso. Minha animação era visível pois finalmente estava tendo o privilégio de dar início ao clube de transfiguração, minha atividade favorita quando era estudante desta mesma escola. Lembro de me sentir parte de algo exclusivo, coisa que eu queria que os jovens a minha frente também passassem a sentir. Minha tarefa ali era transformar uma matéria complicada em uma dificuldade que brilha os olhos e gera entusiasmo. — Prezados, sejam bem vindos ao clube. Diferente das aulas tradicionais, almejo usarmos esse ambiente de forma mais descontraída e pessoal. Transfiguração é um ramo mais complicado pois exige perfeição nas três etapas, mas é sério, não é nada chato. — Ergui os braços em rendição e sorri de forma divertida. — Sou suspeita para falar, e é por isso que eu quero que vocês tenham em mente que em nossos encontros aqui, somos parceiros. Vamos nos ajudar a aprender coisas extraclasse e depois encher o buchinho no almoço. Perguntas? — Ninguém se manifestou, e eu já contava com isso. Todos os docentes chegam com aquele discurso de que vão lecionar de forma divertida, e eu precisaria provar que era mais do que só conversa fiada. Se tudo ocorresse da forma como eu estava planejando, eles sairiam dali pensando que eu sou maluca. Não tendo certeza já é um bom começo.

Apontei para os obstáculos pelo chão enquanto me sentava em minha mesa de forma literal. Se eles não usariam cadeiras, eu também não o faria. — Para esse primeiro contato eu pensei em algo mais tranquilo, pra ver em que pulo estamos. Se quiserem se sentar, fiquem a vontade. É interessante um bocado de teoria antes de sair lançando feitiço. — Percebi as reações descontentes e até incrédulas em relação ao desconforto dos locais onde poderiam se sentar, mas fazia parte da didática. — Estamos trabalhando nas aulas teóricas sobre a translucidação, de forma que eu vou nos poupar de repetir tudo e resumir o que precisamos ter nítido em nossas mentes. É uma área bem interessante da transifiguração pois nos permite alterar luzes, cores, tamanho e até se objetos e animais podem ser vistos. Aqui entre nós, é manipular a forma como algo é visto. — Passei os olhos por cada rosto buscando qualquer sinal de animação. Adolescentes sabem ser bem difíceis, afinal. — Quem nunca usou spongify que atire a primeira pedra, mas não literalmente, ok? — Rolei os olhos para a minha piada ruim, percebendo que ser acessível e divertida seria mais difícil que o feitiço que usariam. — Castelobruxo é um lugar incrível, né? E tem coisas que nem os guaranás veem. Já estudei aqui, sei como é fácil se meter em confusão, então pensei que começar por esse feitiço facilitaria as vossas vidas. Talvez a galera do quadribol use mais. Alguém aqui joga? Qual time torcem? — Acabei fazendo a tiozona mais uma vez, só que agora estava realmente funcionando. — Vamos aprender a copiar o pulo dos felinos. Já notaram como os gatos pulam de grandes alturas e não se machucam? O spongify é um feitiço perene que faz parte da translucidação de forma mais prática no dia a dia. Começaremos transfigurando objetos sólidos em trampolins ou almofadas para amortecer os impactos e talvez terminemos esse ano letivo peritos em desilusionar. Calma lá que vou mostrar. — Fiquei em pé em cima da mesa e então apontei a minha varinha para uma pedra bastante pontuda que estava próxima de mim. — Basta apontar o objeto sólido que deseja, e então você visualiza ele EXATAMENTE igual a como é, as mesmas formas, certo? Só que com habilidades elásticas. Você analisa o objeto em questão, óbvio, e determina se é preferível virar um trampolim ou só amortecer o tombo. — Era importante dizer aquilo, pois a pedra que eu escolhi, por exemplo, não permitia um trampolim. Sendo ela mais pontuda, a área de aderência dos meus pés ficava menor, de forma que se eu saltasse, provavelmente não voltaria a cair nela. — Spongify! — Lancei o feitiço na pedra e em seguida pulei sobre ela. A altura não era assim tão grande, o que me fez cair em cima da pedra - que ainda parecia uma, mas agora era macia feito almofada. Fiquei em cima dela por alguns segundos, afinal era um feitiço perene, e então pulei no chão a frente dela. — Podem usar minha mesa para ganhar altura, mas cuidado, ok? Se o feitiço não funcionar, pode render um rolê pela enfermaria. Ah, e mais uma coisinha: disponibilizei alguns objetos que vocês podem esbarrar nas suas aventuras lá fora, mas estão liberados para conjurarem algo mais bizarro se assim quiserem. Usem o juízo e boa sorte. — Finalizei me dirigindo para o fundo da sala, disponibilizando que utilizassem todo o espaço para brincarem de pula-pula se assim o quisessem.

Considerações: