Fechou os olhos e abriu bem a boca, retirando a folha de mandrágora toda babada que havia preservado por um mês. Mesmo agora, enquanto a colocava no pote de vidro transparente, podia sentir a textura estranha na língua, tal qual os pequenos cortes nas laterais de quando tentava falar palavras muito complicadas e a planta acabava por rasgar a pele. Era uma sensação estranhamente libertadora! Nunca tinha usado aparelho em toda vida, mas algo em seu interior dizia que devia ser mais ou menos assim: incômodo, necessário e bastante constrangedor. Por fim, suspirou fundo, fitando o recipiente que tinha entre os dedos.

A coloração esverdeada da mandrágora não estava mais tão forte quanto estivera durante sua colheita - provavelmente parte das propriedades devia ter sido absorvida - mas ainda era consistente de uma forma estranha. No fundo esperava que ela fosse simplesmente se desmanchar depois de todo aquele tempo... O que, claramente, não tinha acontecido. Aliás, a própria saliva que a contornava também parecia não muito comum: espessa e com tons igualmente esverdeados. Franziu o cenho, calculando as chances de Bianca ter lhe pregado uma peça. Não era muito provável... Em especial por ele mesmo ter lido todos aqueles livros sobre animagia.

Como não tinha muito o que fazer, a não ser continuar, tentou afastar os pensamentos negativos, olhando ao redor de si na grama baixa. Para a preparação do pote tinha escolhido o próprio campo de quadribol... E não era apenas por simbolismo. Sem nada para atrapalhar no alto, sem qualquer sinal de tetos ou grandes e grossas árvores, ficava mais fácil encontrar pontos em que o luar o encobria por completo, sendo esse um ingrediente importantíssimo para o pequeno ritual. Além do mais, sabia que naquela semana os Carcarás não tinha treinos marcados e, sendo o capitão dos Jaguar, também não tinha sido idiota a ponto de marcar um treino para o próprio time: tinha livre todo o tempo que precisasse.

Sendo assim, fitou bem o céu noturno, esperando paciente até perceber a lua bem centralizada, atingindo seu pico e espalhando os raios prateados pela terra. Sorriu abertamente, consideravelmente preparado para o que viria a seguir. Depois de todo um mês lendo e ansiando, lembrar da sequência era uma brincadeira de criança! A mandrágora babada no pote, a luz da lua o tocando por completo, uma gota de orvalho colhida com uma colher de prata - de um lugar que por sete dias não foi tocado nem pelo sol, nem pelo homem - e, por fim, a crisálida de uma acherontia. Ingredientes simples, apesar de não tão fáceis de recolher, mas que Morpheu já havia providenciado, de modo que bastava juntar tudo sem muita pressa. Era praticamente como fazer uma poção bem elaborada!

Depois disso, bastava fechar todos os ingredientes dentro do recipiente e escondê-lo em algum lugar em que ninguém pudesse alcançá-lo e que os raios solares não invadissem... O que, por sinal, era o segundo motivo para estar por ali. Com o pote em mãos, seguiu para o vestiário do jaguar, colocando sua mistura excêntrica dentro do próprio armário em meio aos outros do time. Para evitar que, de qualquer modo, a luz não invadisse o pequeno espaço, envolveu-o com um casaco grosso que trouxera do dormitório. Finalmente satisfeito, fechou a porta de ferro e trancou com vontade para garantir que ninguém pudesse tocar. Agora bastava apenas a espera... E logo já se aproximava da etapa final.