"BEEEEP! BEEEP! BEEEP! BEEEP! CLACK"— foi o som do despertador quando o desliguei violentamente.
Passei alguns segundos deitada na cama, me convencendo de que precisava levantar e me arrumar logo ou chegaria atrasada na aula de novo. Depois de muita luta interna respirei fundo e levantei cambaleando, ainda sonolenta, e fui até o banheiro. Qualquer um depois de seis anos acordando cedo provavelmente já estaria acostumado, mas eu? Nãao. Como minha mãe sempre me dizia "Nox, você não é qualquer um". Olhei diretamente para a figura cansada e descabelada no espelho e suspirei.
— É... o dia já começou bem. — murmurei.
Depois dos vinte minutos que levei para tomar banho, colocar a roupa, comer alguma coisa pra não morrer de fome e ainda arrumar a mochila eu ainda levei mais trinta só pra deixar o cabelo apresentável. Quando saí do alojamento já não havia mais ninguém nos corredores. "Droga! To atrasada de novo!", praguejei mentalmente. Corri por alguns corredores pra não levar bronca do professor de história, mas precisei parar no meio do caminho pra respirar. É, vida de sedentária é assim mesmo. Quando recuperei o fôlego e voltei a andar vi que outro aluno corria em minha direção, provavelmente atrasado assim como eu. O que não vi foi que ele escorregou na curva e vinha direto para mim.
— Ai! — exclamei quando ele me atingiu.
— Nossa... Me desculpe.— ele disse, a vergonha estampada na sua cara. Eu respondi com um sorriso.
— Ah tudo bem! — Balancei os braços indicando que não foi nada.
Eu sabia que havia sido um acidente e dava pra ver o quanto ele estava arrependido, não havia razão pra chatear mais ele. Olhando-o com mais atenção percebi que já tinha lhe visto pelos corredores e em algumas aulas que tínhamos juntos, apesar de saber que não era do mesmo ano que eu.
Ele estava ofegante e se apoiava na parede quando disse preocupado:
— Eu te machuquei? Ai meu deus desculpa!
— Não não, tá tudo bem! — reafirmei enquanto ele ainda falava.— Até porque eu sou desastrada, então quando eu pisar no seu pé ou algo assim já ficamos quites — terminei rindo.
Ele perguntou se eu também ia para a sala de história e eu assenti, depois acabamos indo juntos até lá. Quando chegamos vi que foi usado um feitiço de expansão para deixar a sala maior. Também havia um enorme tapete felpudo e diversas almofadas coloridas espalhadas pela sala. Tirei os sapatos e guardei perto da entrada, curiosa com o que estudaríamos naquela aula. Eu pisei com os pés descalços no tapete e estava pensando em que tipo de feitiço eu precisava fazer pra conseguir que o tapete velho do meu quarto ficasse macio assim quando a voz do menino que me acompanhou chamou minha atenção.
— Me chamo Thiago. — ele disse.
"Nossa! Eu nem sabia o nome dele ainda!", pensei.
— Meu nome é Nox. — respondi com um sorriso de canto, preparada para as perguntas que normalmente eram feitas quando eu me apresentava. "O que quer dizer?", "Mas assim tão curto?", "É apelido?" e outros. Não me incomodavam as perguntas, eu só estava acostumada com isso. Mas ao invés disso ele soltou outro comentário.
— Oito horas da manhã todo mundo com sono e o professor Rodrigo faz isso com a sala? Se ele espera que eu durma nessa aula ele com certeza não vai ter que pedir duas vezes.
Eu soltei uma risada.
— Se todas as aulas fossem assim eu já estaria aprovada com 10!. — respondi.
Fui andando até um lugar vazio da sala onde o sol entrava pela janela e me sentei, aninhando as almofadas que ninguém tinha pego ainda para ficar bem confortável.