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JAN2026
JANEIRO DE 2026 - VERÃO
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28/05. Lançamento: Sistema de Atributos
7/06. atualização do tablón
1/08. estamos de volta
13/08. atualização dos ranks gerais do fórum
00mes
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Introdução
Olá! É um prazer ter você aqui conosco, qualquer dúvida não hesite em nos contatar! The Last Castle RPG é um fórum baseado no universo de Harry Potter, ambientado em terras sul-americanas, dando ênfase ao Brasil. Aqui você perceberá que os três poderes se articulam na Confederação de Magia Sul-Americana (COMASUL), diferente do que acontece lá na Europa com os Ministérios de Magia. Contamos com um jornal bruxo O Globo de Cristal (OGDC), nome bem sugestivo hm?! E se precisar de cuidados médicos, nossos medibruxos do Hospital Maria da Conceição (HMC) estarão aptos ao atendimento. Quem sabe você não queira comprar seu material escolar em um bequinho secreto abaixo da 25 de Março, e assim estando pronto para mais um ano letivo na escola de magia e bruxaria Castelobruxo?! Vale lembrar que os tempos mudaram desde o fim da segunda guerra bruxa, nossa comunidade já não é mais a mesma! Bruxinhos com smartphone, a tecnologia ocupando espaço da magia, bruxos se identificando com os costumes e cultura dos não-maj... há quem diga que foi um avanço, outros estão certos que a identidade da comunidade bruxa está entrando em extinção.
Ϟ Uma Magia Ancestral começa a ser despertada. Poucos percebem esse fato, e dentre eles, até então, ninguém sabe dizer onde, como ou por que motivo. Será que vão descobrir?
Ϟ Agradecimentos ao Rafhael e sua mente mágica cheia de histórias, Vivs e sua perfeição ao editar codes, Roni e sua dedicação em manter o fórum ativo e atualizado e, claro, todos os jogadores. Beijoca da Jessie. Ϟ NOVO TAMANHO DO AVATAR 310x410.
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Marina Santini Dalavia
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Dom 10 maio 2020 - 18:33
Esta é uma RP FECHADA entre Malvina Dalavia Queiroz e Isaac Ferrari Hernández. Se passa no dia 22 de Maio, de tarde, no horário de folga. O local é o pátio compartilhado.
E eu ainda tenho uma tarde inteira
Emme



MMarina Dalavia
Marina Santini Dalavia
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Dom 10 maio 2020 - 19:20
Feeling all the highs, feeling all the pain
Alguma coisa muito ruim havia acontecido naquela floresta e você não precisava ser nenhum vidente para saber disso. Era só olhar ao redor. A diretora era vista sempre com uma careta de infelicidade, e sua aura, céus, estava ostentando um peso que não dava para entender como ela se mantinha em pé. Em alguns dias se via os aurores e pessoas da COMASUL transitando para lá e para cá. A clareira estava devidamente proibida de ser frequentada e avisaram sobre a inserção de chupa-cabras no território escolar. Eu havia protestado com veemência, pois aqueles não-seres ali só causariam mais morte, mas ninguém ligava para as outras criaturas, só queriam saber de se proteger de quem quer que houvesse feito tamanha crueldade com a moça na floresta. E assim, com a morte dela, muitas outras viriam, só que passariam despercebidas e não lamentadas. Toda vida importa, e eu não conseguia entender a dificuldade que meus colegas, professores e diretores tinham em entender isso. Além do mais, achei estranho ninguém ter vindo falar comigo sobre o assunto. O grito havia sido ouvido no sábado, em um momento de puro lazer, e obviamente eu estava na floresta aquela noite. Engraçado terem me dado o apelido de Mogli por estar sempre entre as criaturas, mas não lembrarem que eu poderia ter visto ou ouvido algo. Acontece que eu também não sou burra, e não iria dar depoimento de boa vontade. Quem não gosta de criaturas estudando certamente tentaria fazer parecer que fora eu quem atacara a mulher. Logo eu, que amo tanto a vida.

Proibida de frequentar a floresta, a clareira, com horários restritos e com o constante aviso do perigo que eu corria se desse de cara com um chupa-cabras. Pra mim as coisas estavam infernais. Nunca fui de reclamar, mas rotina já é algo tão sofrido, uma rotina com reclusão só terminava de piorar tudo. Naquela tarde livre, sedenta pela floreta, me contentei em ficar a vista, como me pediram. Ou mandaram, o tom do anúncio não deixou claro. Caminhei pelos troncos de Ybirá, dei uma espiada no lago dos botos, caminhei até a enfermaria, e foi quando eu vi o pátio compartilhado. Havia uma grande quantidade de ervas plantadas, além de um pomar lindíssimo de deixar Adão com desejos absurdos de violar as leis divinas que os humanos creem com tanta fé. Havia uma área cheia de terra fresquinha, recém jogada ali, e eu me aproximei dela para sentir seu cheiro. Ah, o cheiro de terra! Que saudade eu estava de pisotear em terra virgem. Então me ocorreu a brilhante ideia de me reconectar com a mãe natureza ali mesmo. Retirei os coturnos e as meias e enfiei os pés na terra. Senti minhocas andarem entre meus dedos e fazendo cócegas. Era engraçadinho. Então eu fiz Moglisse: sentei-me na terra e comecei a esconder meu corpo tal qual se faz na areia da praia. Deixei somente a cabeça sem tapar, e bom, eu não estava camuflada visto que não tinha tanta terra assim e eu não furtaria das plantinhas que careciam mais dela do que eu.

Deixei a alma afundar naquela terra, sentindo o cheiro se misturar com o meu. De olhos fechados, quase podia ouvir as criaturas agitadas na mata. Quis chorar, pois talvez elas estivessem precisando de ajuda, e eu não podia fazer nada sobre isso. Era torcer para que tudo se resolvesse logo e que a mãe natureza cuidasse das criaturas e das plantinhas até eu poder voltar. Será que havia alguém vigiando aquelas coisas horrendas que matavam tudo que tocavam? E quem é que havia tido a brilhante ideia de colocar criaturinhas que não se pode controlar dentro de um castelo cheio de bruxinhos travessos que adoram burlar regras? Dentro da floresta que eu mais amei, e olha que já estive em vários? Talvez eu pudesse me transformar e ir dar uma espiadinha, mas aí corria o risco de acabar mortinha da Silva. Eu precisava pensar sobre, e bom, eu ainda tinha uma tarde inteira.


MMarina Dalavia
Isaac Blando Montoya
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Isaac Blando Montoya
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Seg 11 maio 2020 - 10:53
And I want these words to make things right.
Olhos pesados, eles encaravam ao solo sob a sola dos pés. Braços cruzados rente ao tronco, se fechava a sete chaves e cadeados naquela postura. Os fios dourados espreitavam à frente do rosto, compridos o suficiente para proporcionar uma vaga sombra ao Sol fraco do outono. Pensava em muitas coisas, muitos assuntos. Rangia os dentes — uma mania não muito saudável —, enquanto cerrava os beiços finos. A pressão na mordida não era equivalente ao peso nos ombros. Ele suspirou, o oxigênio preso no interior dos pulmões fluiu ao exterior ligeiramente. Parou as pernadas e a cabeça se ergueu. Conferindo o perímetro, a primeiro instante olhou para a direita — mão dominante —, após para o outro lado. Sob os ombros, espiou aonde o campo de visão normalmente não cobria.

Só consigo mesmo? Raras ocasiões. Desfez a tensão dos músculos, assim como relaxou a pose. — Enfim... — Sem mais com quem confessar tal palavreado, apenas o disse para si mesmo. Apenas um murmúrio sem volume. Momentos de solidão era algo que o Hernández cobiçava, especialmente nos períodos de estudo na instituição de magia, onde se viam pessoas por todos os cantos — muitas vezes nem eram humanos de fato, apesar da aparência tentar contestar. Se recolheu ao movimento novamente, dessa vez mais soltou. A brisa fresca agraciava no toque à derme e até o fez sorrir um meio sorriso, algo raro. Ele evitava sorrir genuinamente, sequer encontrava motivos para.

— Ô, cara... Caramba! — Censurou a palavra de baixo calão. Perdido nos próprios pensamentos, desfrutando do passeio a sós com a sombra, não notou um crânio soterrado. Por alguns centímetros e no último instante, quase se trombaram. — Com licença? — Deu um passo para trás, uma distância segura para ambos. Através do chamamento, esperava que desviasse a atenção dela a ele, visto que a de cabelos rosados parecia estar em angústia. A propósito, analisando os traços da feição, ela era uma mulher — uma mulher de cabelos rosados como já dito. A fala não surtiu nenhum efeito, teve de usar outros métodos. Pôs os dedos nos cantos da boca e um vão se fez entre os lábios. Soprando o ar para fora, o assovio alto e agudo devia ser capaz. — O que tá fazendo aí? — Indagou, descrente com a cena. Piscava em curiosidade, buscando respostas e hipóteses dentro da própria consciência.

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Marina Santini Dalavia
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Seg 11 maio 2020 - 18:36
Feeling all the highs, feeling all the pain
Talvez tivesse adormecido. A terra fofa era mais confortável do que aquele tal colchão do alojamento que dividia com várias outras meninas. Nenhuma delas de fato criatura como eu, que estava meio distante dos meus semelhantes, mas não era de fato desagradável estar no mesmo ambiente que elas. Só que ali estava melhor, e talvez por isso tivesse cochilado. A mãe natureza é muito mais forte no que diz respeito a renovar energias. Talvez eu pudesse ter entrado de fato nos braços de Morfeu se não fosse pelo barulho de alguém se aproximando. Estava acostumada a ser ignorada por pessoas, então não pensei que quem quer que estivesse se aproximando, estava fazendo isso em minha direção. Depois disso, ouvi os passos cada vez mais próximos e uma voz masculina pediu licença, como se eu o estivesse o atrapalhando por estar deitada ali. Quis rir, pois senti a aura confusa de quem quer que fosse, mas resolvi brincar de Mogli e me fingir de morta. Alguns segundos de silêncio se fizeram presentes, meu corpo intacto, a respiração sendo presa como se fosse uma fugitiva. E então o moço apelou para um barulho horrível que me fez saltar o tronco, ficando sentada e o encarando com os olhos arregalados. Eu não percebi que poderia parecer que ele acordara uma morta ou que pudesse se assustar com o ato de eu não somente reagir com os olhos, mas com parte do corpo. E como um morto voltando a vida, o encarei com certa confusão. — Que som desagradável, garoto. Imagina se acorda os mortos? — Comentei, levando a mão ao peito coberto de terra demonstrando o susto que levara.

Por algum motivo, achei sua pergunta engraçada e comecei a rir enquanto o encarava. Aproveitei para reparar em seus cabelos de um tom meio semelhante a mel, mas um pouco mais escuro, e as feições que entregavam que ele era um bruxo comum, talvez um daqueles que não tem certeza sobre se aproximar de criaturas. Sua aura era leve, no entanto, o que me fez pensar que talvez, somente talvez, pudéssemos nos tornar amigos em algum momento. Fora por isso que respondi sua pergunta, ainda pensando em lhe pregar uma peça. — Bom, eu estava aqui como uma semente para ver se nascem outras de mim logo. Ser a única rosa no castelo é solitário. — Meu tom de voz era sério, assim como a careta de confusão que surgira na cara do garoto. Gargalhei de novo, me divertindo mais do que jamais achei que poderia naquela tarde tão cinza de sentimentos. — Eu gosto de me conectar com a natureza. Me deixa mais leve, sabe? Todo mundo precisa de um pouco de paz as vezes. — Falei, abrindo espaço na pequena cova que eu havia feito, deitando-me de lado para que houvesse mais espaço. — Quer deitar-se aqui também? Prometo que a mãe terra vai te dar uma luz. Ou no máximo cócegas, pois as minhocas também gostam de brincar. — Não sei o que tinha em mente convidando alguém para desfrutar daquele espaço tão saboroso, mas fora um convite sincero, então deveria ter um motivo, mesmo que eu não soubesse qual era. E ele só fazia parecer mais confuso ainda com as minhas atitudes. Talvez ele não estivesse assim tão acostumado com a ideia de criaturas no castelo. Talvez nem soubesse que eu era uma, ou sabia e estava apavorado com o meu comportamento.

Enquanto o desconhecido – somente de conversa, pois eu já o havia notado pelo castelo – decidia se se enfiava na terra comigo, senti que ele era digno de saber algumas coisas. — Sabe, moço, se você parar pra pensar, quem somos sem a terra? E não digo ao fato somente de precisarmos pisar em algo, mas ao fato de a maioria das coisas germinarem e dependerem dela. A ciência trabalha muito, mas nada bate a força e o poder da mãe natureza. A terra tem os nutrientes para dar vida, pra fortalecer. — Disse enquanto olhava para meus dedos que brincavam com a terra escapando entre eles. — E se ela tem todo esse potencial, talvez seja boa para dar vida pra gente também. Não como uma mãe gestando um bebê, pois é fisiológico, mas para deixar que as flores da nossa alma nasçam, se fortaleçam, para impedir que elas morram junto da inocência que se perde ao longo dos anos. Não digo que a terra nos cure, mas pode ajudar muito. Tudo feito pela mãe natureza tem propósito e eu agradeço e tento a sorte com cada um deles sempre que possível. Se quiser experimentar, bom, a gente se aperta um pouco, mas deve funcionar. — E se a mãe terra não funcionasse, o fato de estar perto de mim já o faria. Eu tinha esse poder, afinal.


MMarina Dalavia
Isaac Blando Montoya
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Isaac Blando Montoya
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Seg 11 maio 2020 - 23:21
And I want these words to make things right.
Nenhum sinal de vida. Nada. Zero absoluta. O coração dela pulsava de alguma maneira? Parece um cadáver, tá até meio enterrado. Se indagava, enquanto a atenção pairava somente sobre a figura de cabelos de algodão-doce. Até tinha uma sobrancelha arqueada a fim de demonstrar as dúvidas, contudo, ela sumiu e foi substituída pelas duas unidas e franzidas. O olhar também se franzia, encarando, em silêncio. Até dado o momento em que agiu, utilizando de métodos mais ariscos para chamar a atenção — e qualquer atenção de um ser vivo próximo se desviaria a ele com aquele assopro agudo —, estava focado. O reflexo fez reagir rapidamente ao movimento súbito dela, se defendendo com os próprios pulos. — Buceta! — Soltou sem sequer pensar duas vezes. O tom desesperado acompanhava o semblante. — Você tá viva! — A apontou o indicador. O fluxo do sangue se intensificou o suficiente e a face ruborizou instantaneamente. Talvez a melhor ação fosse a de cutucá-la com um graveto, mas a guardaria para outra hora.

Não deu a mínima atenção dos ouvidos à repreensão. — Você tá viva, caralho. — Ainda em choque, pobre garoto. Embora sentisse o braço doer em mantê-lo por tanto tempo em pé e direcionado à menina, fazia questão de apontar. Apontava para a face da meliante, responsável por uma brincadeira sem graça. — Por que você tá aí? — O jeito alarmado na ponta da língua continuou até o comentário anterior, o brasileiro inflou o tronco e recobrou a compostura. Questioná-la do porquê acabou se repetindo, nem notou até fazê-la. — Semente? — Finalmente saciou os desejos do rapaz em respondê-lo. A comparação feita nisso apenas o embaralhou. Fechou o rosto e torceu a boca. Não se compactuava com o riso desenfreado daquela, rindo dele — motivo para Isaac ter revirado os olhos, o interior queimava em ira. — Tô sabendo. — Agitando os ombros, eles se moviam para cima e para baixo. Deu com eles à respeito da paz conectada à natureza. A paz o motivou a vaguear por aí, um peregrino sem trilha para seguir. Porém, o destino desafortunado e trágico o fez colidir numa presença.

O Hernández cogitou em balançar a cabeça em resposta negativa ao convite alheio, contudo, admitia para si mesmo: parecia interessante de alguma forma. Não era do feitio masculino ser atraído por uma cova, só que a silhueta alheia o convidava e seus ditos faziam parecer um confortável leito. A doçura feminina o domava, o embebecia naquele aroma inebriante e relaxava a expressão fechada. O instinto o guiou, a mergulhar no espaço vago — mal cabia. Ajeitou de lado, não era o único. O monólogo então se iniciou. O bocejo entediado escapou dentre os lábios de Isaac. Enquanto isso, apoiava a cervical em um dos braços. Apesar do tema não ser de seu agrado, escutou. — Por que você tem essa paixão toda pela terra? — Um único questionamento, todo o emaranhado de ideias e respostas. — Não só pela terra, mas com a mãe-natureza e meio-ambiente como um todo. — Complementou o raciocínio. Articulava bem para que não tivessem desvios. A olhava invasivamente, caçando a alma oculta detrás aos olhos da desconhecida.
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Marina Santini Dalavia
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Ter 12 maio 2020 - 0:37
Feeling all the highs, feeling all the pain
O garoto era teimoso, isso era incontestável, mas não sabia que ela também era. A aura dele oscilava de cores tão rapidamente, como se existem dois dele dentro de um só corpo, como se ele precisasse pisar em ovos pra não deixar que o outro lado tomasse conta. Eu sabia que ele poderia virar um problema pra mim em um piscar de olhos, mas eu estaria pronta. Alguma criatura haveria de intervir, se fosse o caso, ou eu mesma sairia voando e destrocando algum pedaço dele com a força de vento emitida por minhas asas. De qualquer forma, sem muita certeza, o estranho se uniu a mim em minha cova particular. Seu corpo estava grudado ao meu pela falta de espaço, o que só facilitava para que eu conseguisse ler melhor o que se passava dentro daquela alma tão confusa. Aproveitei o fato de ainda estar sentada, mesmo que de lado, e comecei a espalhar terra pelo corpo do menino, deixando somente seu rosto escapar. O fazia com delicadeza, mas tentando lhe dar o máximo do fertilizante possível. Fiz o mesmo comigo mesma, deixando que a terra fria atingisse meu corpo também. E então estávamos frente a frente, os narizes bem próximos, os olhos se obrigando a encarar o outro. Com o meu dom de cativar as pessoas, logo logo iria conseguir livrá-lo daquela outra parte, aquela que deixava sua aura laranja e o fazia parecer ranzinza.

Eu encarava os olhos azuis acinzentados quando ele resolveu bocejar, como se eu estivesse dizendo algo tão entediante quando sei lá, falar de história da magia. Aquela cadeira, para mim, sempre seria a mais chata. Em seguida veio a primeira pergunta, seguida de uma explicação do que mais ele queria de resposta. Seu olhar parecia tentar ler cada pedaço meu, e eu estava disposta a deixá-lo ver, mas antes eu tinha algo pra fazer por ele. — Ok, senhor investigador, eu posso responder suas questões todas, mas antes eu preciso que faça algo por mim. — Ele me olhou desconfiado, mas já estava deitado comigo em uma cova, o que poderia ser pior? Então eu voltei a pegar a terra, afofando as minhas mãos que estavam marrons como a mesma, e então toquei a ponta do nariz do garoto, deixando ali uma marquinha de terra. Fiz um traço em sua bochecha, ao menos na parte que eu conseguia ver, e depositei os dedos sobre sua testa, baixando-os e o fazendo fechar os olhos. Ele se agitou, mas emiti um "shh" e ele calou a boca. Era melhor assim, ou eu teria que colocar terra em sua boca também. Deixei que ele se acostumasse com a ideia por uns segundos e comecei com o meu plano. Não era ritual nenhum, mas eu queria fazer que fosse para que ele sentisse que poderia - forçado pelo falso ritual - a ser ele mesmo. No momento que senti seu coração mais calmo, a respiração mais suave, fechei meus olhos e me esforcei para irradiar a energia mais forte que consegui. Sendo uma criatura de jade, minha energia pode fazer com que a pessoa mais próxima se sentina mais feliz, com os ânimos mais apaziguados. — Preciso que você confie em mim e na terra. Sinta a leveza, deixe que a terra leva o que pesa. — Toquei seu nariz novamente, falando baixinho algumas palavras indígenas desconexas, e então quando ele de fato reagiu, lá estava, sua aura me mostrando as suas duas versões com clareza: a que havia sido forjada em seu ser, e a que de fato ele era. A primeira se adonando da outra. Aproveitei o dedo em seu nariz e arrastei minhas mãos até estas abrirem seus olhos.

Quando o garoto me olhou, parecia outra pessoa. Não era só a terra, mas a minha presença. Além disso, é claro, com a ideia de que eu havia feito algum ritual, ele se permitiu se soltar. Não sabia dizer por quanto tempo, mas por alguns minutos eu o tinha vulnerável, me encarando como se eu o pudesse ler. E bom, eu podia. — Quem é que faz isso com você? Isso de te forçar a assumir uma personalidade que não é sua. Eu vejo você, menino, e vejo a contradição que está entre o que você sente e o que querem que sinta. Quem, quem faz isso com você? — Minha voz era suave, como se eu é quem estivesse confidenciando algo a ele. Mantive o olhar fixo nos dele, sentindo que qualquer coisa poderia sair dali. Ou se ele se libertaria e faria o que tinha vontade, ou tentaria me atacar. Eu estava pronta para ambas as possibilidades.


MMarina Dalavia
Isaac Blando Montoya
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Isaac Blando Montoya
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Ter 12 maio 2020 - 21:38
And I want these words to make things right.
Se encolhia, semelhante a uma criança em momentos de medo. Bom, o fato era que, sim, estava com medo. Não negava. O interior da boca se enchia de saliva grossa e o seco rasgava com o esôfago à medida em que descia. Droga. Se repreendeu, já se acostumou a receber reprovações de todos os cantos. Cerrou o punho, assim conteve a necessidade de se bater — uma palmada na cara devia trazê-lo à normalidade, devia fazê-lo agir como um "homem de verdade". O nervosismo daqueles olhos o mirando, eles eram uma arma apontada ao centro de sua testa. Por outro lado, não havia maneiras para revidar. Os músculos não atendiam aos chamados, os pulsos foram imobilizados. A ansiedade causava o calor, um pingo correu o canto do rosto em resposta. O rosto dela jamais mudou, se manteve presa na expressão sem expressão — vaga e vazia. Sentia-se violado de alguma forma, como se invadissem aquilo que guardava apenas para si. Seu âmago, seu íntimo, seus segredos mais obscuros. Mil agulhavas o perfuravam, o Hernández as sentia, mas não podia conferir. Hipnotizado no contato visual, não se deu ao luxo de desvencilhar.

Confiar na terra e nela? Impossível, já que anteriormente necessitava crer nele mesmo. Incapaz, se fosse, não seria apenas uma marionete regida pelas vontades alheias. Um pau-mandado que, cabisbaixo, aceitava quaisquer ordens dadas, mesmo a contragosto. Um erro aceitar juntar-se na cama — uma cova mal elaborada, diga-se de passagem —. O caminho tomado na mata, desviando da civilização, era justamente para escapar. Todavia, encontrando-a e o toque recebido apenas o conduziram à perdição, a ver frente à frente mais uma vez as razões para ser um ser humano tão infeliz. Os dedos passeavam, desenhavam na pele alva do rosto. — Ahn? — Contestava a sujeira, odiava se sentir sujo. Mas, para cena em que se via, não havia como estar menos sujo. Emburrado, concordou em estar em silêncio. Shh. Repetiu o som na mente.    

A ardência nas vistas, tão atento que sequer piscava mais. Por somente um segundo, levou o olhar aos lábios rosados alheios. Os via mexer, a gesticular palavras, entretanto, não as escutava. Escutava apenas o barulho do vazio e do silêncio dentro de si. Então, se lembrou da voz gutural, seu tormento interno. "O que você pensa que tá fazendo, Isaac? Inútil." Imitava a frase preferida dela. Se lembrou do indicador apontada para entre seus olhos azuis, ao mesmo tempo em que o dizia muitas coisas. O pingo de suor se misturou ao pingo da lágrima. Isaac chorou pela destra, a canhota não fez o mesmo. — Minha avó por parte de mãe. — A confissão. Enfim proclamou o que estava entalado no fundo da garganta, que mal o permitia respirar. Entalado há décadas. — Ela quer me moldar à imagem dela, à imagem do que um Ferrari deveria ser. — Piscou, sinal de que retornou à consciência e à realidade. Franziu a tez, enquanto trincou o maxilar. — Ela me criou, mas nunca se importou comigo. Me tirou dos meus pais e quer que eu seja somente um pedaço de lixo como ela. — Conforme as frases se prolongavam, a energia preenchia elas. Energia de ódio pela citada. No término da última, grunhiu.
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Marina Santini Dalavia
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Ter 12 maio 2020 - 23:24
Feeling all the highs, feeling all the pain
Acho que fiquei uns bons cinco minutos brincando com as minhocas enquanto o menino ao meu lado vivia o seu momento de reflexão não tão voluntária assim. As emoções vindas do corpo ao lado eram tão conturbadas e inconstantes, tão misturadas que não dava pra saber se eu o deixava ali ou o despertava. No início ele estava confuso, mas somente isso. Sentiu a confusão se misturar a uma onda de calor, de toque da natureza oriundas do desconhecido, e uma minhoca escorreu de seus dedos no momento em que ele começou a emanar vermelho, um vermelho que doía os olhos, que machucava a alma, como se estivesse com medo, lutando contra algo. Eu quis me levantar, mas estava presa naquela cova. Ele também estava, aparentemente. Eu conseguia sentir a batalha interna e parecia que eu jamais conseguiria sair dela, e ele muito menos. E essa luta sequer era minha, sequer era em mim. Houve um breve momento de calma naquela vermelhidão toda, e ficou alaranjado, meio amarelo, me fazendo ter a doce ilusão de que estava prestes a acabar. A ficar tranquilo. O que é que aquela mulher estivera fazendo com aquele garoto durante todos esses anos para ser algo assim tão doloroso? Que aliás, começou a parecer sufocante, bagunçado demais, e ele seu corpo que deveria estar somente curtindo a vibe soltava espasmos, chegou a movimentar o rosto em um momento, e depois veio a surpresa, a incerteza.

E então eu não aguentei mais, sentindo que eu mesma iria acabar sufocada se não fizesse algo. Pus o dedo indicador em sua testa, deixando que os outros dedos tocassem na pele dele onde conseguissem, e em concentrei para tentar emanar a energia mais pura possível. Os bruxos pensam em suas memórias mais felizes para conjurar o seu patrono, mas eu só precisava pensar nas criaturas. Na verdade, em mim mesma, voando por aí quase impossível, lançando ventos fortes e sobrevoando áreas muito altas, oscilando entre alto e baixo, entre muito rápido, e em locais quase desérticos, bem lentamente, reparando nos detalhes sem ser pega por humanos ou por qualquer outra criatura. E tudo aquilo, todas aquelas criaturas, tudo que meus olhos humanos e meus olhos colibris conseguiam captar, tudo aquilo era obra da mãe-natureza. Era vida, mesmo onde não houvesse. E era nisso que eu precisava me apegar, na luz prateada brilhante que começava a emanar do meu corpo e ia invadindo o dele. A paz e leveza de um bater de asas que agora eu estava compartilhando com ele, que aos poucos ia ficando mais calmo. Os espasmos cessando como se ele estivesse somente dormindo. Fechei meus olhos e mandei mais uma boa quantidade de energia, torcendo para que ela o ajudasse, pois estava precisando, e no que soltei sua testa, seus olhos se abriram e eu sorri ao vê-lo testar se ainda era real, se ainda estava vivo. Existia confusão vinda dele, mas era daquelas tranquilas, das inofensivas. Eu me permiti sorrir vendo-o assim, tão descrente no que havia acabado de se passar. Nem parece que fora tão doloroso assim pra ele, e que aos poucos também havia se tornado para mim. Eu teria que voar um pouco mais tarde pra me recuperar de toda aquela emoção. Mas estava feliz agora. Feliz por ele estar bem, feliz por sentir que aquele outro lado dele já não era mais tão dominante.

Deixei que ele ficasse confuso por mais alguns segundos até sentir que ele precisava de respostas ou começaria a ficar apreensivo. — Olhe só, desculpa se eu fiz algo ruim. Eu nunca tinha, você sabe, feito isso com a boca. — Disse, piscando confusa, pois fora a primeira vez que eu dera um projeto de beijo e eu não sabia nem o nome do garoto. Pior, se ele percebesse que eu não era 100% humana, ele teria raiva de mim. E aí o meu primeiro quase beijo teria sido como uma violação. A simples ideia me fez sentar na nossa cova particular. — Olha, me desculpe, eu não sei, não sei porque fiz isso. Desculpa, eu só quis ajudar. Sabe, eu não sou... — Tive o cuidado de retirar as minhocas que estavam sobre meu corpo, com todo o carinho colocando-as sobre a terra mais ao lado, onde não poderia esmagar ou machucar qualquer uma delas. Evitei olhar para o garoto por pura vergonha, porque embora eu tivesse tido uma boa intenção, provavelmente tinha sido uma pessoa ruim. Uma criatura ruim, sei lá. Que grande bagunça. Mas antes de levantar, tinha mais uma coisa que precisava ser dita, e mesmo com vergonha, respirei fundo e olhei para aqueles olhos confusos. — Você não tem problemas com a mulher, moço. Ela pode ser uma péssima influência, mas seu maior inimigo é você mesmo. É essa parte sua que tem tanta vontade de se provar digno que só faz machucar. Hoje você deixou a parte real te dominar por um tempo, e eu espero que ela consiga ganhar essa batalha. Eu não fiz nada de errado com você. Bom, teve esse beijo, e me desculpe, eu... — Passei a mão sobre o rosto, tentando levar pra longe a confusão. Percebi que devo ter ficado com a cara marrom, mas aquele detalhe não me incomodava de forma alguma. — Me desculpe, ok? Eu não sei se você está bem pra ficar sozinho, mas acho também que você não precisa de mim aqui, então não sei, quer que eu chame alguém? Quer que eu tire as minhocas de você? Cuidado com elas, você sabe... — Disse por fim, pegando cada uma delas como quem segura um grafite que pode se quebrar em vários pedaços, dando a elas um lugar menos perigoso para se estar e nos deixando prontos para partir. Bom, isso se ele não resolvesse me bater ou algo assim.



Última edição por Malvina Dalavia Queiroz em Qui 14 maio 2020 - 2:46, editado 1 vez(es)


MMarina Dalavia
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Qua 13 maio 2020 - 15:19
And I want these words to make things right.
Beatriz Schulz de Ferrari. A matriarca dos Ferrari, à frente de qualquer assunto da família de tendências duvidosas à época de libertação e de respeito com tudo e com todos. Como já afirmado anteriormente, a senhora de idade, cabelos grisalhos e rosto enrugado o criou. A realidade era que forçou a criação do neto, o tirando dos cuidados dos pais biológicos — a mãe de Isaac, Valentina, era a primeira filha de Beatriz com quem o teve com um trouxa de origem cubana — assim que parou de amamentar. Educação rígida com base nos fundamentos autoritários e ditatoriais da mais velha. A odiava por querer que ele seja o espelho de sua imagem, mas odiava a si mesmo mais ainda por não responder um único "não". Embora não expusesse mais uma única fala, escapava às vezes os ruídos da fúria adormecida, fruto da frustração selada no cofre interior. Os caninos evidentes, assim como a face, exibiam perfeitamente a condição sedenta do momento.

A energia emanando dele era corrompida, possuía odor pútrido. Fitava a um ponto qualquer, focando a atenção àquele pedaço de terra. Esqueceu que não estava a sós com os próprios devaneios nefastos, não era uma postura digna e respeitosa feita na presença de outra pessoa. O seco entalou no caminho entremeio a garganta, se sufocou com a respiração falha e descompassada. Eixo virado, apenas o bastante para encarar a atmosfera há quilômetros de distância do topo da cabeça. O Sol o cegava. Repentinamente, sentiu a movimentação ao redor, mas sequer reagiu de algum modo. A figura da cabeleira colorida se esgueirou para sobre o tórax do rapaz, o rosto da menina novamente se centralizou na visão. A admirava com atenção em cada detalhe, mas não notou nos olhos avermelhados dela. Ardiam e as gotas espreitavam o canto do rosto, cursando em direção a boca, onde ficaram contidos. Os poucos centímetros que separavam ambos, gradativamente, se tornavam e, finalmente, foi reduzido a zero. Os lábios minimamente entreabertos recepcionados os alheios e os pingos pingaram para dentro do pequeno vão, se misturou com a saliva durante o toque, o contato que os unia em um só. Engoliu, enquanto as pálpebras eram forçadas a se fechar — ela sabia do peso súbito que se criou nelas?

Um segundos mais tarde, as ergueu novamente. No primeiro instante se deparou com o astro-rei ao centro do céu, focalizando seus raios no sextanista. Então, fora do buraco, enxergou uma silhueta familiar, porém oculta nas sombras. Com uma pá em mãos, usava do instrumento a fim de jogar camadas de terra sobre Isaac — ainda na cova da desconhecida que, aliás, sumiu. Apoiando nas paredes nas laterais, se pôs de pé e escalou até sair da zona de perigo. Enquanto subia, a outra pessoa afastava-se.

— Você deixou para fazer algo só agora, Isaac? — Comentou aquela voz. Aquela voz. Apesar do formato físico o soar como algo reconhecível, o tom da indagação o fez se questionar se o conhecia. — Depois de tantos anos se permitindo ser enterrado vivo. — A primeira fase proclamada pelo alheio surgiu no mesmo tempo em que o cubano-brasileiro relutava para sair do buraco, já a seguinte complementava a anterior, feita apenas quando já estava na superfície. Seus olhos se encararam. Sem reação, Isaac demorou alguns segundos até notar de quem se tratava. Os olhos de ambos eram iguais em cada mísero traço, os dois como um todo. A dualidade do mesmo ser, as duas personalidades postas em campo para dar fim a esse conflito.

Após um tempo, simplesmente os espasmos do corpo desfalecido pararam. Se debatia em reflexo de todo o holocausto na consciência do menino. Despertou. Ingenuamente as pálpebras se levantavam. A imagem dele era nova, um renascimento do zero. Chegou a conferir os próprios dedos ao levá-los diante ao rosto. Respondiam bem às suas vontades. Tocando nas maçãs faciais, sentia a suavidade da pele. Sentia o conforto do carinho. — O que fez? — Buscou pela figura que o acompanhou em toda aventura, mesmo como apenas uma telespectadora distante de tudo. O azulado nas íris do garoto brilhavam. — Eu me sinto como... — Confusão, muitas dúvidas para uma tarde. Passou a língua entre os lábios, umedecendo aonde estava seco. — Eu.  
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Marina Santini Dalavia
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Qui 14 maio 2020 - 2:50
Feeling all the highs, feeling all the pain
Acho que fiquei uns bons cinco minutos brincando com as minhocas enquanto o menino ao meu lado vivia o seu momento de reflexão não tão voluntária assim. As emoções vindas do corpo ao lado eram tão conturbadas e inconstantes, tão misturadas que não dava pra saber se eu o deixava ali ou o despertava. No início ele estava confuso, mas somente isso. Sentiu a confusão se misturar a uma onda de calor, de toque da natureza oriundas do desconhecido, e uma minhoca escorreu de seus dedos no momento em que ele começou a emanar vermelho, um vermelho que doía os olhos, que machucava a alma, como se estivesse com medo, lutando contra algo. Eu quis me levantar, mas estava presa naquela cova. Ele também estava, aparentemente. Eu conseguia sentir a batalha interna e parecia que eu jamais conseguiria sair dela, e ele muito menos. E essa luta sequer era minha, sequer era em mim. Houve um breve momento de calma naquela vermelhidão toda, e ficou alaranjado, meio amarelo, me fazendo ter a doce ilusão de que estava prestes a acabar. A ficar tranquilo. O que é que aquela mulher estivera fazendo com aquele garoto durante todos esses anos para ser algo assim tão doloroso? Que aliás, começou a parecer sufocante, bagunçado demais, e ele seu corpo que deveria estar somente curtindo a vibe soltava espasmos, chegou a movimentar o rosto em um momento, e depois veio a surpresa, a incerteza.

E então eu não aguentei mais, sentindo que eu mesma iria acabar sufocada se não fizesse algo. Pus o dedo indicador em sua testa, deixando que os outros dedos tocassem na pele dele onde conseguissem, e em concentrei para tentar emanar a energia mais pura possível. Os bruxos pensam em suas memórias mais felizes para conjurar o seu patrono, mas eu só precisava pensar nas criaturas. Na verdade, em mim mesma, voando por aí quase impossível, lançando ventos fortes e sobrevoando áreas muito altas, oscilando entre alto e baixo, entre muito rápido, e em locais quase desérticos, bem lentamente, reparando nos detalhes sem ser pega por humanos ou por qualquer outra criatura. E tudo aquilo, todas aquelas criaturas, tudo que meus olhos humanos e meus olhos colibris conseguiam captar, tudo aquilo era obra da mãe-natureza. Era vida, mesmo onde não houvesse. E era nisso que eu precisava me apegar, na luz prateada brilhante que começava a emanar do meu corpo e ia invadindo o dele. A paz e leveza de um bater de asas que agora eu estava compartilhando com ele, que aos poucos ia ficando mais calmo. Os espasmos cessando como se ele estivesse somente dormindo. Fechei meus olhos e mandei mais uma boa quantidade de energia, torcendo para que ela o ajudasse, pois estava precisando, e no que soltei sua testa, seus olhos se abriram e eu sorri ao vê-lo testar se ainda era real, se ainda estava vivo. Existia confusão vinda dele, mas era daquelas tranquilas, das inofensivas. Eu me permiti sorrir vendo-o assim, tão descrente no que havia acabado de se passar. Nem parece que fora tão doloroso assim pra ele, e que aos poucos também havia se tornado para mim. Eu teria que voar um pouco mais tarde pra me recuperar de toda aquela emoção. Mas estava feliz agora. Feliz por ele estar bem, feliz por sentir que aquele outro lado dele já não era mais tão dominante.

Deixei que ele ficasse confuso por mais alguns segundos até sentir que ele precisava de respostas ou começaria a ficar apreensivo. — Olhe só, desculpa se eu fiz algo ruim. Eu nunca tinha, você sabe, feito isso com a boca. — Disse, piscando confusa, pois fora a primeira vez que eu dera um projeto de beijo e eu não sabia nem o nome do garoto. Pior, se ele percebesse que eu não era 100% humana, ele teria raiva de mim. E aí o meu primeiro quase beijo teria sido como uma violação. A simples ideia me fez sentar na nossa cova particular. — Olha, me desculpe, eu não sei, não sei porque fiz isso. Desculpa, eu só quis ajudar. Sabe, eu não sou... — Tive o cuidado de retirar as minhocas que estavam sobre meu corpo, com todo o carinho colocando-as sobre a terra mais ao lado, onde não poderia esmagar ou machucar qualquer uma delas. Evitei olhar para o garoto por pura vergonha, porque embora eu tivesse tido uma boa intenção, provavelmente tinha sido uma pessoa ruim. Uma criatura ruim, sei lá. Que grande bagunça. Mas antes de levantar, tinha mais uma coisa que precisava ser dita, e mesmo com vergonha, respirei fundo e olhei para aqueles olhos confusos. — Você não tem problemas com a mulher, moço. Ela pode ser uma péssima influência, mas seu maior inimigo é você mesmo. É essa parte sua que tem tanta vontade de se provar digno que só faz machucar. Hoje você deixou a parte real te dominar por um tempo, e eu espero que ela consiga ganhar essa batalha. Eu não fiz nada de errado com você. Bom, teve esse beijo, e me desculpe, eu... — Passei a mão sobre o rosto, tentando levar pra longe a confusão. Percebi que devo ter ficado com a cara marrom, mas aquele detalhe não me incomodava de forma alguma. — Me desculpe, ok? Eu não sei se você está bem pra ficar sozinho, mas acho também que você não precisa de mim aqui, então não sei, quer que eu chame alguém? Quer que eu tire as minhocas de você? Cuidado com elas, você sabe... — Disse por fim, pegando cada uma delas como quem segura um grafite que pode se quebrar em vários pedaços, dando a elas um lugar menos perigoso para se estar e nos deixando prontos para partir. Bom, isso se ele não resolvesse me bater ou algo assim.



MMarina Dalavia
Isaac Blando Montoya
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Isaac Blando Montoya
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Qui 14 maio 2020 - 11:51
And I want these words to make things right.
Eternas desavenças de uma guerra infinita, travada pelas duas faces da mesma moeda — Isaac Alejandro Ferrari Velázquez y Hernández. Se ver e se não reconhecer? Crise de identidade, a sensação de estar perdendo espaço e sendo substituído por um outro alguém, alguém indesejado, mas que o gaúcho não tinha forças para resistir. Se permitiu ser dominado por tanto tempo, que o "Isaac verdadeiro" se reduziu a uma pequena chama de vergonha nas profundidades do âmago. Pela primeira vez em toda vida — esses 17 anos incompletos —, ele reprimiu a opressão, enfrentou o seu pior inimigo: ele mesmo. A ilusão simulada através de uma forma de hipnose — ao menos era o que deduzia ter ocorrido — o enviou a um mundo, onde apenas o próprio tinha acesso. Talvez era o seu subconsciente, aquele que esperava arduamente pela revolta e revolução.

Naquele lugar de céu branco, semelhante a um efeito de névoa pairando nos contornos da região, os únicos personagens visíveis eram as duas personalidades em choque. Não suportou por muito tempo as provocações lançadas e se viu na necessidade de partir para a ofensiva, estimulado pelo instinto e adrenalina do momento. Rolavam pelo chão de terra batida, se roçavam na poeira enquanto se agarravam na pele alheia mais próxima. Dono de mais força física, o dominador tinha a vantagem sobre o submisso — lembrando que o submisso era o verdadeiro. Contudo, graças à motivação — a aura da moça roseada, principalmente o selo que o transportou — reuniu energia suficiente para revidar. Lutando, assumiu a liderança. No chão, um acima do outro, as palmas do loiro circulavam a base do jugular alheio. — Enfim... — A dificuldade na fala, a fazia sair com mais rouquidão. O dominador — a visão projetada — foi dominado. Conforme Isaac exergia pressão na pele, o outro empalidecia. No fim, obliterado em uma pilha de pó negro.  

Após a vitória, logo despertou. Recuperando a realidade diante os olhos, a confusão parecia mais nítida, tanto que necessitou verificar o tato físico. Finalmente podia sentir os toques sem restrição, respirar o aroma verde do ambiente, ele tinha o controle por inteiro. Sem mais amarras nos tornozelos, sentia o poder de voar pelo céu. O sorriso preencheu os lábios masculinos, maravilhado com a magia da vida. Não se negou em demonstrá-lo, direcionando à menina. — Cara... — O choque, sem reação. Se mordeu a fim de conter o desejo de manter os lábios curvados. — Algo ruim? — Espremendo as vistas, pendeu a cabeça um pouco para a diagonal. A expressão de desentendimento com o comentário. — Você fala do beijo? — Quis confirmar. Reparando na falta de jeito nela, a timidez e até vergonha em se explicar, fez o riso subir pela a garganta. Ele riu de boca cerrada, ao mesmo tempo em que negou com gestos. — Ó! — Estalando os dedos mediante os olhos alheios, a chamou para que voltasse para a Terra outra vez. — Eu não me importo. O seu beijo me ajudou de algum modo, só não sei como. — E ele realmente não se importava, embora ter sido o primeiro. Pelo menos, diferente de todo mundo, o garoto podia afirmar que transcendeu quando sentiu pela primeira vez o tato de uma boca na sua.

Acompanhando as ações dela, retirando as minhocas de seu corpo, foi um instante de clareza. Uma lâmpada se acendeu no topo da testa, um símbolo para a compreensão. A desconhecia analisou as circunstâncias a respeito do que foi vivenciado ali, em um buraco no solo para dois. — Bom, imaginei que não seria algo tão simples. — Os pulmões se esvaziaram com a longa lufada de ar suspirada. — Vai ser uma luta constante de amadurecimento até eu me livrar de vez dele. Menção àquele que mais queria o mais distante possível, se possível até morto. — Porém, aquilo me ajudou a ter forças para agir e dizer não. — Engolindo um seco, pausou propositalmente. Antes olhava as pontas dos dedos, então os fechou, até desviar o rumo aos dela. — Você me ajudou com isso e só posso agradecer, só não sei se vai ser o suficiente para ti. — O meio sorriso, novamente ele surgiu, querendo convencê-la de sua honestidade. — Meu nome é Isaac. — Se nominou. — E você, quem é? Tenho a impressão que você não é como eu. — A leveza na voz do rapaz não tinha como objetivo pressioná-la, pelo contrário, libertá-la das incertezas de afirmar o quê era.  
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Marina Santini Dalavia
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Qui 14 maio 2020 - 18:54
Feeling all the highs, feeling all the pain
Aquela altura já não sabia mais se tinha feito o certo em tentar ajudar ou se havia cavado sua própria cova, e dessa vez não literalmente. Ele parecia emanar tranquilidade, leveza, dava para arriscar dizer que estava em paz consigo mesmo. Ainda assim não havia desculpas para eu ter simplesmente tomado os lábios dele para mim, mas como poderia explicar que era o único jeito? Como poderia dizer que as minhas lágrimas é que o levaram a esse passeio por si mesmo? E que se não fosse assim, teríamos perdido as lágrimas e a oportunidade? Só que bom, não fora algo certo. Eu não tinha certeza se as pessoas costumavam pedir autorização para isso, mas acredito que sim, porque bom, seria estranho todo mundo sair beijando sem aviso prévia. Eu mesma teria odiado. Mas de alguma forma, mesmo se não fosse pelo contexto alucinógeno, eles estavam próximos, dividindo uma cova, não pareceu tão errado assim. Só que a reação inicial dele, questionando o que eu havia feito, bom, aquilo me deixara mais confusa que tatu quando a chuva fecha a entrada da toca.

O menino conseguia ser mais estranho do que eu, porque enquanto eu me organizava para ir embora, pedindo mil desculpas e morrendo de vergonha, ele resolvera dizer que não se importava com o beijo. Eu quis dizer que eu era uma excelente beijoqueira e que ele não deveria fazer pouco caso, mas não podia mentir, eu sequer sabia se aquilo entrava na categoria "beijo", então voltei a me contentar nas minhocas e na dúvida sobre em que velocidade sair correndo. Deveria pedir desculpas mais uma vez? Ou fazer a soberba e dizer "de nada por ajudar no seu processo interno de autocura"? Mas aquela não era eu, e não fazia de forma alguma o meu estilo. Minha missão era fazer pessoas interagirem de forma mais saudável com a natureza para que nós, criaturas, tivéssemos sossego e paz em nossos lares. A mãe natureza era a fonte nutridora para todos nós, seria muito egoísta não compartilhar isso com o garoto. Respirou fundo, pensando em seu objetivo, e tornou a deitar-se naquele pedaço apertado de terra, que a essa altura já estava socada e parecia mesmo uma cova improvisada. — Bom, embora eu acredite ser um excelente beijante, sei lá como se fala isso, não foi o beijo somente. Sabe, a mãe natureza se encarrega de tudo. Pode não acreditar nisso, mas você não veio invadir meu sono com a mãe terra atoa. Você deveria me encontrar, e bom, ter o privilégio de ser beijado por mim. — Minha cara era pura confusão. Eu não sabia direito do que estava falando nas partes que se referiam a trocar saliva, movimentar lábios em conjunto e aquela coisa toda, mas tinha certeza sobre a mãe terra.

Vencida por aquela leveza toda, se permitiu voltar a deitar o tronco, não sem antes conferir se as minhocas estavam seguras. Ela apertou-se para evitar tocar nele e ser acusada de ser uma aproveitadora de corpos em covas, mas era difícil não se sentir confortável na presença do garoto, que parecia um pedacinho de pluma naquele momento. Um dente-de-leão esperando o sopro do vento pra sair lançando suas sementinhas por aí. — É, eu não costumo pegar casos fáceis. Foi difícil pra mim também, acredite. Sabe, posso continuar te ajudando, mas você vai precisar se esforçar bastante porque se eu ficar mais birutinha do que o normal, as meninas do colégio vão me tirar daqui a tapas. — Brinquei, tentando deixar a conversa leve como deveria ser. Eu o ouvia com atenção, mas nada do que me dizia era novo. Eu estive ali com ele, eu senti com ele. Mas as vezes desabafar faz bem, então deixei que o fizesse. E quando parecia que as coisas estavam voltando a ficar estranhas, ele me olhou nos olhos e agradeceu. Foi impossível segurar o sorriso que viera junto com a sensação saborosa de ter conseguido ajudar alguém, um ser humano aliás.

Toquei o nariz dele mais uma vez, tentando passar um bom tanto de energia boa que ele havia causado com aquele agradecimento. — Bom, tem algo que você pode fazer pra agradecer. Mas aí é conversa da sua alma com a mãe natureza, ela vai saber o que você pode fazer para agradecê-la. Quanto a mim, acredito que estamos quites. — Balancei os ombros, sorrindo ainda. O garoto disse seu nome. Isaac. Isaac. Nunca ouvira nenhum nome como aquele. Ela até treinara com a língua sem emitir sons para saber se conseguiria falar aquilo em voz alta algum dia. E aí veio a pergunta de um milhão de novas sementes férteis: quem eu era. Eu havia prometido no início da conversa que tiraria suas dúvidas se ele confiasse em mim, e visto que ele fizera, tive a obrigação de cumprir com a minha palavra. — Meu nome é Malvina. As pessoas me chamam de Mogli por causa de alguma história de um menino na selva que algum nascido trouxa ouviu quando criança e achou que era parecido com a minha situação. — Eu ri honesta. Eu sabia que aquele apelido havia sido para me deixar triste, para zombar de mim e da minha natureza, mas com o passar dos dias eu me sentia honrada de ter um apelido que remetesse a alguém que sobrevive na floresta e se dá bem com os animais.— E eu acho que somos diferentes sim. Sabe, você tem duas varinhas, e eu tenho uma só, então... — E então eu desatei a rir, gargalhando alto e livre como meu voo poderia ser. Era engraçado sacanear o tal Isaac, mesmo sem saber direito se ele não acabaria tentando me matar. — Mas você tem razão. Para além da anatomia, eu sou uma criatura que assume forma humana quando quer. Eu não vou ficar pelada, mas eu tenho o corpo de uma garota normal, só que posso sair voando quase que de forma invisível em minha forma original. E bom, eu tenho essa conexão com as emoções e sensações, com a mãe natureza, com as criaturas... — Falei de uma vez, sem muita cerimônia. Seria legal ter mais um amigo, mas do que eu vira de Isaac. Isaac. Isaac. Que nomezinho complicado! Do que eu vira dele, não seria exatamente fácil para ele entender quem eu era, como eu era. Desviei o olhar para o céu pela primeira vez em minutos, sem coragem de ver sua reação. Eu não tinha vergonha de quem era, mas também não precisava ficar assistindo o desprezo e a surpresa que surge nos bruxos mais tradicionais ao saberem disso.


MMarina Dalavia
Mironguinha
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Mironguinha
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Dom 19 Jul 2020 - 13:37
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