What am I now?

O relógio de seu celular marcava 16h23. O rapaz estava vinte e três minutos atrasado e Clarissa estava ali há, no mínimo, quarenta minutos; em sua ingenuidade, chegou mais cedo para arrumar seu material e se preparar psicologicamente para o final da tarde que teria, já que era bastante incomum passar qualquer fração de tempo ensinando alguém. Mas, se soubesse o quão irresponsável seu colega de classe era, não teria se apressado tanto — na verdade, sequer teria aceitado o pedido do professor de História da Magia para auxiliá-lo na matéria.

Agora, encarava uma mesa meticulosamente organizada — e igualmente intocada — com o livro que estavam utilizando em aula, um caderno para rascunho, dois lápis, borracha e apontador, enquanto seu estômago protestava de fome. Gostaria de se levantar e ir embora; havia uma infinidade de coisas para se fazer além de esperar por alguém que não tinha certeza que viria, como tomar café-da-tarde, praticar pintura, tomar café-da-tarde, terminar o livro de aventura que estava lendo, tomar café-da-tarde…

Entretanto, permaneceu sentada. Olhou mais uma vez — a terceira, para ser exato — para o pequeno papel que o professor lhe dera, onde havia um nome, um número e um horário. Sean. 12. 16h. Sean deveria encontrá-la na sala número doze às dezesseis horas. Estava começando a ficar nervosa com a demora, fazendo com que sua cabeça começasse a imaginar coisas. Imaginar que tinha lido errado as informações do bilhete do professor. Mas, não, estava tudo de acordo; ela estava de acordo.

E ela esperaria até às 16h45. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.

What am I now?

Vidro, gêmeo, maçã, sussurro, estrelas, cristal, sombras.

Vidro, gêmeo, maçã, sussurro, estrelas, cristal, sombras.

Vidro, gêmeo, maçã, sussurro, estrelas, cristal, sombras...

As palavras ecoavam em sua mente de maneira pausada e constante, completamente diferente da velocidade com a qual movimentava os dedos entre o fio dos fones de ouvido. Não estava escutando nenhuma música no momento; queria estar atenta para ouvir qualquer barulho que indicasse que alguém estava entrando na sala. Mas era muito difícil se concentrar quando também estava tentando se manter calma.

Portanto, não ouviu quando a porta se abriu e o garoto entrou. E, quando a voz masculina alcançou seus ouvidos, se assustou e lançou um olhar chocado na direção de Sean. Mal conseguiu processar as primeiras palavras dele. — Você me assustou. — O coração batia forte contra o seu peito e ela segurou o fio emborrachado com mais força, ao ponto dos nós de seus dedos ficarem esbranquiçados. — Você acha que está louco? Você não parece louco. —

O espanto se esvaiu, dando espaço à confusão. Até mesmo se esqueceu que estava braba. — Como você está louco, se parece tão bem-humorado? Ou, talvez, seja justamente por causa da loucura que você está bem humorado? Que confuso. — Seu rosto refletia suas palavras e não demonstrava nada além de confusão. E mesmo quando o rapaz sentou-se ao seu lado e comentou sobre a falta do livro, Clarissa o olhava como se tentasse entendê-lo.

— Você pode usar o meu. E eu me chamo Clarissa. Mesmo que você já saiba quem eu sou, meu pai disse que é importante nos apresentarmos a desconhecidos. — Estendeu a mão na direção de Sean, visando um cumprimento formal.

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