Tinha sido um dia cansativo, no final das contas. As aulas tinham terminado mais rápido do que eu esperava, mas no entanto, as outras atividades me deixaram exausta. Ao menos, me animava notar que o meu próximo dia seria o último daquela semana; sexta-feira. Ah, eu admito que eu realmente amo sexta-feiras! É o dia em que encontro com os meus amigos, coloco o papo em dia, me divirto, esquecendo-me das preocupações habituais. Quando posso agir como uma estudante normal sem o temor de que eventualmente possa ocupar o posto de Bianca.

Honestamente torcia para que ela vivesse muito e tivesse muitas filhas. Ela ou Camélia. Eu? Por meu bom Merlim, com certeza o universo não seria tão debochado e me escolheria. #oremos.  Durante a noite, decidi organizar as coisas que ainda estavam dentro de meu baú.  Nada que fosse tomar muito tempo. Pelo menos era o que eu esperava.

Uma das minhas mãos, que remexiam alguns objetos inúteis dentro do baú, tocaram em um álbum de fotos de porte médio. Me assustei e fitei-o, ainda fechado por algum tempo. Imaginava que alguém da minha família pudesse ter colocado ali; eles eram sempre emotivos e adoravam fotos. Abri-o receosamente e tive uma reação agressiva, quando passei por algumas fotografias de nossa família. Em certa parte, encontrei algumas de minhas fotos com minha mãe. Olhei, por alguns minutos, uma foto na qual eu acompanhava num de seus trabalhos, pouco antes dela partir naquela fatídica missão. Sentia como se tudo tivesse acontecido ontem. Meus lábios mexeram-se suavemente, querendo repetir tudo o que eu tinha dito a ela num passado não tão distante. Retirei algumas de minhas fotos, nas quais ela também estava presente, e murmurei: - Grande merda. - contive as lágrimas e tentei disfarçar a tristeza em meu rosto. Não queria que me vissem assim. Detestava que sentissem pena de mim.

Saí do meu dormitório, sem rumo certo. Queria espairecer. Em qualquer lugar. Longe de pessoas que me colocassem ainda mais para baixo ou daquelas que tentassem bancar as conselheiras, dizendo que algum dia eu iria superar tudo aquilo. Meu rumo indefinido me levou para fora do castelo naquela noite quente.

Caminhei até as proximidades do Riacho. Era um lugar representativo para mim. Longe de tudo e de todos, ainda na posse das fotos, permiti-me olhar um pouco mais para o seu rosto. Evitava fazer isso e não seria errado afirmar que eu não estava lidando bem com a situação, ao contrário, do que meus irmãos aparentavam mas eu era a filha do meio e filhos do meio tem uma tendência a demorar para lidar com situações assim. Ou qualquer outra. Eu, pelo menos, tinha.

Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes, sinceramente, gostaria de poder falar, naquela altura do campeonato, que tinha a perdoado. Não conseguia. Por isso, ao chegar, sentei-me sobre as folhas secas que caíram da árvore. Novamente, olhei o seu rosto nas fotos. Com raiva ao lembrar do meu carinho por ela, chamei-a de cretina por repetidas vezes, tentando encontrar alguma maneira de amenizar a minha dor. Aquele sentimento que me consumia loucamente por dentro. Tirei minha varinha de um dos bolsos do meu uniforme e conjurei um Incendio que lentamente ia queimando foto por foto, esperando não me arrepender disso em um futuro.