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O recorde de usuários online foi de 290 em Seg 8 Mar 2021 - 22:16
Local: alojamento da Lorena e das meninas
Turno: manhã.
Última edição por Lorena Bedoya Fialho em Qui 28 maio 2020 - 4:20, editado 1 vez(es)
she remembered who she was and the game changed.
Adentrou o alojamento que correspondia ao dela e franziu o cenho ao dar de cara com a gêmea. Sozinha. Em todos os seus seis anos de escola nunca tinha visto Lorena sozinha no quarto, ela sempre estava na companhia de Arón ou Mavis. Mas curiosamente nenhum dos dois estava ali. Nem mesmo as outras integrantes da família Bedoya ou Malvina. Só que agora, parando pra pensar, bem tinha notado que ambas andavam afastadas nos últimos dias com Lorena estando mais na companhia do crush agora de forma mais… romântica. Só que não havia nem sinal de que o garoto estivera ali. — Bom dia, Lora. — Cumprimentou a irmã, sorrindo de modo gentil ao terminar de entrar no quarto e fechar a porta atrás de si. Mal se lembrava da última vez que tinha ficado a sós com a cópia. Deu uma olhadela no relógio perto de sua cama, constatando que passava poucos minutos das 8 da manhã. Não estava tão tarde afinal. O que era mais estranho ainda porque ela sabia que Mavis costumava acordar tarde e ela já não estava mais ali. — Não saiu para tomar café? — Questionou, se sentando em sua cama. E então olhou mais uma vez para o rosto da gêmea. Conseguia sentir que tinha algo errado, mas não era de se intrometer nos assuntos de Lorena. A única coisa que podia fazer era esperar que ela falasse por conta própria.
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Cecí
her lips are like the galaxy's edge.THE WORLD IS YOURS AND YOU CAN'T REFUSE IT
Despertou em um pulo, sentando-se na cama assustada. Havia tido um pesadelo sobre inquéritos, investigações, interrogatórios. Sentia que a hora da verdade se aproximava, e quando pensou em correr para o alojamento de Arón e dormir novamente, dessa vez aninhada por ele, lembrou que não tinha mais essa opção. Espiou pelos biombos e viu que as outras meninas permaneciam dormindo, com exceção é claro de Cecí, que nunca falhava em ser a primeira a acordar. Precisava esvaziar o alojamento antes que a gêmea voltasse e conseguisse fugir de ter uma conversa séria com ela. O que Lorena poderia fazer? Parou em meio ao alojamento e respirou fundo, gritando as palavras que acordariam qualquer um. — FOGO! FOGO! SOCORRO! — Berrou em plenos pulmões, vendo cada uma das colegas, especialmente Malvina levantarem em busca de suas varinhas. Ninguém percebeu que não havia fogo nenhum e foram logo juntando pertences que não queriam que queimasse. — MENINAS! — Chamou a atenção destas, que pararam imediamente de catar suas coisas naquela correria e bagunça que havia virado o alojamento. — Não tem fogo nenhum, eu só preciso que vocês saiam do alojamento. Não me olhem com essas caras, vocês vão saber na reunião de hoje à tarde, logo após o almoço, aqui no alojamento, ok? Venham a reunião! E agora sumam daqui, preciso resolver uma coisinha. Ah, e amo vocês. — Disse por fim, recebendo olhares furiosos das primas e um olhar confuso de Mogli, que diferente das outras, apenas balançou os ombros e foi se arrumar para outra de suas aventuras ao ar livre. Mavis fora a última a ir para o banho, ficando para trás de propósito para saber se a prima estava se sentindo bem. — Garanta que todos venham hoje à tarde e que eu consiga umas horinhas com Cecí antes disso, ok? Só preciso, bom, você sabe. — Encerrou a frase abraçando a prima e sentindo todo o seu apoio. Elas nunca precisaram de palavras para se entenderem e mais do que nunca estavam próximas.
Quando todas deixaram o alojamento, ainda relutantes – mas mais tarde entenderiam o motivo, fora a vez de Lorena tomar seu banho e fazer sua higiene matinal. Precisava estar pronta para o furacão gelado que se chamava Cecília e que estaria chegando em breve, ela podia sentir. Sentou-se em sua cama vestindo pijamas leves e esperou pela irmã, que não tardou a chegar. O olhar no rosto da gêmea delatando que ela estava desconfiada. E com razão, aquele seria o primeiro domingo em anos que Lorena acordara cedo e permanecera paradinha em sua cama sem estar acompanhada de Arón de um lado e Mavis de outro. Nos últimos dias, dados aos pesadelos de Lorena e a companhia indesejada da fantasminha amiga, os dois haviam dividido a cama com ela de forma que o trio Hermione se ajudasse. Mavis as vezes também tinha pesadelos, já o garoto se fazia de forte pra manter as duas calmas, mas qualquer um que o conhecesse o suficiente podia identificar seus medos. E como quem retorna de um devaneio – ou estaria sonhando acordada dado o horário? – ela voltou sua atenção a sua gêmea. — María, senta aqui. A gente precisa conversar. — Disse com o tom de voz mais sério que conseguiu atingir. Sabia que se não fosse assim, Ceci acharia que ela uma piadinha e não daria atenção ao seu pedido. Quando sentou-se e ambas ficaram cara a cara, Lora roubou um abraço rápido antes de começar a falar. — Uma série de coisas aconteceu, Ceci, sem que você soubesse. Muitas delas eu sequer posso te contar, e não é por achar que você contaria ao papai, mas por querer livrar você dessa confusão. Tem a parte que eu posso abrir o bico também, e que será feito na reunião de hoje à tarde, aqui no alojamento mesmo. A maioria dos Bedoya já reside aqui, acho que facilita. Por favor, venha. — Insistiu, pegando na mão da irmã e fazendo um carinho sutil com o polegar em sua mão. Por onde começar? Desde que entraram em Castelobruxo elas tinham suas fases, umas mais próximas, outras só se viam por dividir o alojamento. Acontece que todos os seis, Mavis, Matteo, Polo, Mavis, Áron e Lora achavam que a gêmea os considerava infantis demais, talvez muito bagunceiros, sempre dispostos a se meter em confusão, e acreditavam ter sido por isso que ela havia se afastado. Acontece que ninguém nunca perguntou, porque se seu afastamento fosse mesmo por esse motivo, provavelmente brigariam, e aquela família já estava farta de brigas. — Eu quero que você saiba que nada do que vai ser revelado a tarde tem relação com o que estou fazendo agora. Quero que isso fique bem claro pra você, ok? — Como quem não entende nada do que está sendo dito, Cecília me encarou com aquela cara de “você vai falar de uma vez ou quer que eu te traga uma linha pra você enrolar mais um pouco?” e teve de se esforçar para não rir da imagem que se formara em sua mente. — Nós somos Marías. Somos gêmeas de corpo, mas completamente diferentes de alma. Eu sei que geralmente você é mais reservada e eu sou a alma livre da mamãe, fazendo amizade com todo mundo e me metendo em toda confusão possível, mas nós somos irmãs, Mar. Idênticas, por mais diferentes que sejamos, e olha, eu entendo você se distanciar e preferir andar com outros grupos que sejam mais maduros e responsáveis do que nós. — Se permitiu rolar os olhos nesse momento, mas retomou a postura para encarar a irmã nos olhos. — E tudo bem você ter outros amigos e ser de outros grupos, mas eu não quero mais isso, Cecília María, de nos tratarmos com essa oscilação toda, como se nossa relação fosse bipolar. Eu quero que você esteja junto comigo nas coisas que não sejam confusão, e quero que sejamos tão próximas quanto somos Mavis e eu. Quanto são Matteo e Polo. Nós somos irmãs, caramba, e eu olho nossas fotos de quando estamos vivendo a fase “próximas” e tenho vontade de chorar porque eu não gostaria que existisse, em seguida, a fase que nos damos bom dia, boa tarde e boa noite e fim. Eu me declarando no witchgram e você ignorando minha existência. — Respirou, afinal tinha dito tudo aquilo com tamanha vontade que esquecera de recuperar o ar para os pulmões enquanto o fazia. Tinha mais tantas coisas para dizer, mas resolvera dar a chance de a garota a responder antes.
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— Eu venho. Mas está tudo bem com você? Não se meteu em nada muito sério né? — Não podia deixar de perguntar, se não seria digna de saber os acontecimentos, pelo menos precisava ser acalmada para com a segurança de sua irmã. Apesar da distância que estava crescendo cada vez mais entre as duas, a amava e não sabia o que faria se algo acontecesse a ela. Por um breve momento deixou a seriedade de lado para sorrir, nem tinha notado que a irmã fazia carinho em sua mão. Sentiu uma pontada no fundo de sua alma e de repente ficou desconfortável. Como é que tinha deixado que as coisas entre elas esfriassem daquela forma? Não era certo e sabia que a mãe ficaria desapontada se soubesse daquilo. E seu pai… Ela não conseguia pensar. Mas a verdade é que Cecília não tinha se afastado somente da irmã, mas sim de todos os Bedoya. Matteo, Mavis e até mesmo Polo que era o protegido da família e aquele com o qual se dava melhor. O problema é que ninguém entendia o quanto ela se sentia deslocada perto deles. Se por um lado os primos e irmã gêmea pareciam almas jovens cheias de vida, Cecília se aproximava cada vez mais do que era chamada: uma alma velha de 300 anos presa no corpo de uma adolescente. Não que aquilo fosse culpa unicamente dela, parecia ser algo advindo de sua criação. Sempre fora cobrada demais por parte do pai, ainda mais depois de não ter desenvolvido o dom da família. E então, Cecília deixava todas as outras coisas de lado para viver em prol de ser uma filha modelo, perfeita.
Os olhos se voltaram para a irmã assim que voltou a ouvir a voz dela. E sem entender absolutamente nada do que Lorena estava falhando, Cecí apenas lançou um daqueles olharem de quem diz “Ok, será que dá pra jogar logo as informações? Para de dar ponto sem nó.”, e pareceu ser o suficiente para que a outra simplesmente abrisse a boca. E pelos minutos que se seguiram, Cecília ouviu todas as coisas que a irmã disse sem nem interrompê-la porque sabia que ela precisava daquilo. A verdade é que ela não gostava da relação bipolar que as duas tinham, também. Só que não sabia o que fazer para consertar algo que parecia encaminhar para aquela estado sempre. E doeu nela saber que a irmã sentia como se ela estivesse ignorando sua existência. Doeu tanto que ela sentiu os olhos encherem d’água e piscou para afastar as lágrimas. Nem se lembrava da última vez que tinha chorado na frente dela. Se alguma vez já tinha chorado. — Lora… — Engoliu em seco, sem saber exatamente o que dizer. Para alguém que sempre tinha as respostas na ponta da língua, alguém que não se deixava abalar por absolutamente nada aos olhos de terceiros, era como se tivesse desequilibrada emocionalmente.
— Primeiro de tudo, eu não tenho de ignorado. Eu mal entro no Witchgram porque aquela rede social só serve de ponte para que os fãs da mamãe fiquem nos vigiando e eu não gosto da sensação de ser sempre stalkeada, julgada, vigiada. Peço desculpas se parece a você que eu te ignoro, mas não é minha intenção. Além de que não me parece certo ficar me declarando sendo que a gente sabe que a situação entre nós duas não tá legal. Sei o quanto isso magoa a você e a mim, mas é a realidade. — Tinha visto algumas das declarações da irmã, trazia boas sensações a ela. Só que por outro lado, parecia ridículo que elas acabassem se prendendo numa relação que envolvia as redes sociais, porque apesar das palavras bonitas naquele lugar, as coisas por trás dos bastidores não estavam lá grandes coisas. E aquela conversa era só uma prova. — Andamos afastadas sim, isso é horrível. Eu tenho minha parcela de culpa, só que não é algo só meu. — Passou a língua pelos lábios, umedecendo-os antes de desatar a falar. — Você sabe que eu sempre tive uma criação diferente da sua, sempre fui cobrada demais por não ter um dom. Eu não entendia isso quando era criança, mas aos meus olhos agora isso me parece mais uma punição. Você nunca recebeu o peso de ter que ser a filha modelo de outras formas, não sabe como é cansativo ter que manter a perfeição só para não receber aquele olhar de desaprovação do nosso pai porque eu o amo e nada me chateia mais do que desapontá-lo. Você acha que as vezes eu não desejo ser apenas normal, me juntar a vocês e viver de brincadeiras e momentos de descontração? Eu desejo, só que eu simplesmente não consigo. Não posso. Isso é algo que vai além de mim e eu não sei se você entende. — Respirou fundo e levou a mão que estava livre da irmã até os olhos para afastar as lágrimas que finalmente tinham começado a cair.
Aquele assunto era algo que mexia com ela. Sempre aguentava tudo sem reclamar porque não queria sair como ingrata. Tinha tudo que queria na palma da mão, parecia o mínimo retribuir não dando trabalho para aqueles que haviam dado vida a ela. Embora Roberta não se importasse nenhum pouco, pelo contrário, só incentivasse a filha para que vivesse mais. O problema dela era Bartolomeu. Cecília o via como seu super herói, era seu ponto fraco e ela se curvava ao pai sem nem pestanejar. — Eu não quero que nossa relação se estrague por causa das nossas diferenças também. Quero estar presente na sua vida, quero saber dos seus problemas e tentar ajudar, quero ser mais próxima… — Sorriu de modo ligeiro. — Mas não tanto quanto é da Mavis, acho que isso é impossível. Nós somos gêmeas de corpo, mas você e ela são gêmeas de alma. Confesso que isso me incomodou por algum tempo porque me doía demais ver minha irmã ser mais próxima da minha prima do que de mim, mas tá tudo bem. Eu entendo de verdade. Só peço desculpas pelo que eu fiz e se me permitir, prometo que vou tentar ser mais presente. — Disse por fim, porque ela realmente tentaria. Já estava cansada de ser tão afastada daqueles que amava.
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Cecí
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De frente para a irmã e compartilhando sentimentos, sentia-se nua de alma. Queria poder contar cada detalhe de todas as coisas as quais Cecília não participara e não sabia, especialmente que talvez sua última aventura custaria uma expulsão ou uma punição a altura, que estivera vendo um fantasma nos últimos dias e quase duvidando da própria sanidade mental. Sófocles dissera uma vez que "não é bom dizer mentiras; mas quando a verdade puder trazer uma terrível ruína, então dizer o que não é bom também é perdoável.", e para preservar a irmã gêmea de se meter em uma confusão que nunca fora sobre ela e que poderia custar muito caro, preferiu mentir sobre a gravidade do assunto. É verdade que estavam frente a frente para finalmente ajustar os botões do relacionamento de ambas e que não é um bom sinal iniciar a jornada com uma mentira, mas nesse caso ela não tinha outra opção. — Nada que precise deixar essa sua cabecinha cheia de parafusos soltos, Ceci. Fique tranquila. — Tentou passar o máximo de confiança possível em seu tom de voz para impedir que o sensor de gêmeas apitasse sua mentira. Se ela soubesse o que de fato havia acontecido seria o fim do pesadelo, porque embora não fosse de criar barraco, era absurdamente severa como papai quando o assunto eram regras quebradas.
Ver sua irmã chorar fora como levar uma facada no peito. Revirou a memória e não conseguia lembrar de nenhum fator recente que tivesse arrancado lágrimas daqueles olhos tão confiantes. Lorena sentia que precisava abraçá-la, mas assim não resolveriam o assunto e as pendências continuariam. Era melhor arrancar logo os curativos e lidar de fato com os machucados que precisavam daquele cuidado para se recuperarem. Ouviu María falar sobre o witchgram e como sentia hipócrita postar coisas bonitas sobre as duas sendo que elas estavam na fase ruim da relação, e Lorena quis dizer a ela que as postagens eram exatamente para tentar lembrar das coisas boas entre as duas e as aproximar. Só que era Cecília, ela não gostava de usar o celular para qualquer forma de exposição, então provavelmente não entenderia. Fora aí que o grande urso branco apareceu no quarto, e obviamente ele não ficaria de fora daquela conversa. Cecília estava contando como havia sido difícil para ela, fã número um do pai, ter nascido sem o dom e ter virado o alvo da maior parte das cobranças dele. Lora entendia, pois se a mãe fosse assim com ela, rígida e sempre cobrando mais, ela seria infeliz. Roberta era o pilar de Lorena, Bartolomeu era o pilar de Cecília. E elas que deveriam se o pilar uma da outra, estavam sendo pontos extremos. Esperou que a irmã terminasse de desabafar com paciência e boa vontade, pois realmente queria saber mais sobre como se sentia a pessoa mais reservada de toda a família.
Ao sentir que havia surgido espaço para fala, Lorena mordeu o lábio inferior e olhou para cima, evitando que lágrimas teimosas resolvessem rolar por sua face. — Eu entendo, Ceci, é sério. Não deve ser nada fácil pra você não ter o dom, sendo a cópia exata do papai e o amando tanto. Entendo também essa necessidade de se provar digna, mas para mim é mais fácil porque mamãe não tem muitas expectativas sobre mim. — Percebeu que talvez aquilo não ajudasse muito, então resolveu continuar. — Papai te cobra mais não pelo dom não ter se manifestado em você, mas sim por saber que de nós duas você é a que tem mais chance de ir longe sem alçar voo, sabe? Ele me olha e eu sinto a reprovação por ter herdado tanto da mamãe. Ele queria que o dom tivesse se manifestado em você. — O tom de voz era firme, mesmo que com uma pitada de dor. Bartô poderia não ser a estrela da vida dela, mas ainda era seu pai, seu progenitor, aquele de quem ela herdara mais do que asas para ser solta e livre. Ele havia moldado sua personalidade de forma que ela conseguia se manter centrada, ao menos no que dizia respeito a telecinese, mas não deixava de viver sua vida e sua juventude pelo que seu pai exigia. Ele tivera a vida dele e ainda tem, e que a trace como quiser, mas a vida de Lorena era escolha dela. Ela percebera ali que deveria ter tomado essa coragem mais cedo, mas mesmo achando péssimo ter sido trancafiada, havia mesmo ajudado, então ao mesmo tempo que queria reclamar, era grata. Poderia ter sido feito de outra maneira, mas essa era a dos Fialho, e ela tentava entender o pai. — Eu vivi um bom tempo indo e voltando do quarto branco, irmã. E não fora só por ser procedimento familiar. Papai sempre achou que você era pessoa certa, e como não dava para trocar, ele teve que aceitar. Aceitar que não conseguiria me moldar a imagem dele, não sendo eu uma do sol, não sendo como nossa mãe. — O desabafo veio coberto de lágrimas. Enquanto Ceci tinha todos os paparicos do pai por ter notas altas, que por sinal Lorena também tinha, a primeira ganhava elogios e a segunda ganhava uma hospedagem gratuita no inferno branco para aprender a ser menos ela. Ou "a se conectar com a parte mais fria, mais fixa" como repetia o homem ao largá-la lá.
Deixou que as lágrimas percorressem o próprio caminho, dica de Mogli, com quem andava aprendendo bastante nos últimos dias. E então segurou ambas as mãos da gêmea. — Ceci, eu amo você. Entendo que você queira agradar o papai, que você sinta necessidade disso, mas também não quero que você deixe de ser você mesma. Você não é o nosso pai e nem as expectativas dele. Vou te apoiar sempre, incondicional de quem você escolher ser. — Abraçou a irmã, sentindo que talvez finalmente as coisas estivessem entrando nos eixos. Talvez o fato de nunca terem muito tempo sozinhas fosse um dos motivos pelos quais elas haviam se afastado, mas dariam um jeito nisso. Lorena daria.
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Achava engraçado que o favoritismo não era sequer escondido quando se dizia respeito a Cecília e Bartô, e Lorena e Roberta. Era algo que já tinha sido plenamente aceito por ambas. Claro que a Bedoya amava a mãe de todo o coração, mas parecia inevitável se sentir mais conectada e próxima do pai. Foi assentindo a cada palavra de Lora, só para demonstrar que estava ouvindo. Ela sabia que Bartô queria mesmo é que ela detivesse o dom, mas isso não tinha acontecido e então… O que fazer? Só restava aceitar. De certa forma, ele havia aceitado. Mas a carga que recaiu sobre as gêmeas fora muito maior do que deveria. Porque se de um lado Cecília era cobrada para se mostrar perfeita, do outro Lora era cobrada para ter mais controle sobre aquilo que tinha recebido. E como ensinar alguém a ser tão focada se tinha saído a cópia da mãe que mais parecia um passarinho fora da gaiola? O quarto branco era o pesadelo das gêmeas Bedoya. Só que Cecília não fora fadada a lidar com ele, tivera a sorte de escapar. Era somente obrigada a assistir enquanto Lorena era trancafiada no quarto por mais tempo que ela poderia contar. Apertou a mão da irmã quando as lágrimas começaram a dar indícios de que iriam cair em meio ao desabafo que era dado. Nunca iria entender a dor dela, mas respeitava. Porque tinha consciência do quanto havia sido privilegiada em receber somente a parte boa do pai que apesar de ser rígido demais, cobria Cecília de tantos elogios e apenas isso. Nunca recebera castigo nenhum e o quarto branco incluso nisso.
Foi quando Lorena demonstrou total apoio a Cecí que a garota se deixou levar pelas lágrimas na segunda vez naquele dia. — Lora, eu também amo você demais. — Sussurrou com a voz embargada pelo choro enquanto se deixava ser embalada pelos braços da irmã, um ato que nem se lembrava da última vez que tivera sido reproduzido. E a envolveu em um abraço também, retribuindo o gesto. — Venho tentando ser mais eu e menos… Bartô. Só que é mais difícil do que eu pensava. — Jogou outro desabafo. Podia não demonstrar, mas estava perdida entre o quem o pai queria que ela fosse e quem ela de fato era e queria ser. Talvez Cecí pudesse ser considerada o passarinho que vivia dentro da gaiola. Uma gaiola com as portas abertas, mas que por medo do que encontraria lá fora, nunca se dera ao trabalho de sair da sua zona de conforto. Era isso. Queria vivenciar outras coisas, mas era mais fácil continuar onde estava porque ela não queria perder o que já tinha. O carinho e o respeito de seu pai. — Eu também estarei aqui pra te apoiar, María. Independente de qualquer coisa. — Deixou claro. Sabia que por vezes conseguia ser até mais rígida que Bartô, mas dali pra frente tentaria tomar outra abordagem. Eram adolescentes, afinal. E deveriam viver da forma que fosse melhor, sem medo de errar e serem julgados.
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Cecí
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A ideia da conversa só havia surgido após perceber que depois do acontecido na clareira, havia passado de irmã razoável para péssima. Não queria dividir com Cecília o seu temor e a companhia inusitada que havia surgido no seu dia a dia por não ter como explicar para a gêmea o que ela havia descoberto sem prejudicar a outra, que nada havia feito de errado. Enquanto Cecí provavelmente estava estudando em algum lugar, Lorena havia conseguido fugir de Ybirá em direção a clareira de onde o tal grito havia vindo. Mesmo sabendo que era errada, ao lado dos outros dois componentes do trio Hermione não somente havia machucado uma criatura como também tivera o desprazer de violar uma cena de crime e de tocar no cadáver daquela que viria a ser sua companhia diária de tormento até o momento em que surtara e recebera a ajuda da professora Bianca. No início entrava em pânico toda vez que alguém entrava no alojamento, sentia calafrios quando alguém chamava seu nome, mesmo que fosse uma voz conhecida, e mesmo na hora de dormir ficava tão atenta que não conseguia de fato se jogar aos braços de Morfeu. Fora necessário unir as forças do trio Hermione para que os três, juntos, conseguissem dormir. Lorena ficava no meio, abraçando Mavis e sendo abraçada por Arón. Agora nem a presença dos aurores pelo pátio a deixava mais tão temerosa, visto que ao que se fofocava e o que os jornais diziam, eles estavam andando em círculos e sabiam menos do que os doze alunos que se meteram na encrenca de achar o corpo. Conforme a chance de serem pegos ia diminuindo e com a ausência de Arón, ela havia percebido que não poderia e não deveria mais afastar os seus familiares que não estavam envolvidos naquela bagunça. Eles eram Bedoyas, e um Bedoya não abandona os outros. Ela que aprendesse a segurar a barra que ela mesma havia deixado tão pesada.
Esperava da gêmea uma conversa que fosse suficiente sincera para que ambas pudessem voltar a ficar unidas, mas ali, diante das lágrimas de sua María, a ideia que veio a mente foi que elas teriam mais do que uma mera reaproximação: estavam finalmente se permitindo serem honestas o suficiente para não dramatizarem a situação mais do que ela já era, deixando com que a outra tivesse liberdade para expor seus anseios. E quando a irmã não relutou diante da fala de Lorena de que ela não precisava mudar quem era para agradar o pai, não teve outro desejo a não ser o de acolher a irmã em seu abraço e deixar que as lágrimas rolassem conforme se formavam. — Você foi a versão do papai por anos, María, eu não consigo sequer estimar o quanto deve ter sido difícil pra você. E sei que também não será fácil descobrir a versão verdadeira de você, mas não vejo hora melhor para iniciar essa busca interior do que agora. Primeiro por estarmos quase encerrando mais um semestre, então teremos as férias para te dar a liberdade de se reinventar. Segundo porque logo estaremos em nosso último ano nesse castelo, a liberdade e a maioridade batendo as nossas portas e questionando se estamos prontas. Eu quero dizer que estou, e não vou conseguir sem você. — Afagou os cabelos de Cecília enquanto dizia as palavras com um tom de voz delicado, quase como se pisasse em ovos. — É importante que você saiba quem você é, porque o papai já sabe quem ele é, e bom, acho que só uma versão dele já é o suficiente. Agora seja você a sua versão, irmã, pois eu sei que vai ser amada da mesma forma. O único amor que vai mudar se você sair dessa prisão mental é o seu por você mesma, e vai mudar por ficar maior. Eu te garanto, você tem meu apoio e mesmo que papai fique zangado no início, ele te criou pra ser forte. A nós duas, na verdade. E uma mulher forte é fiel a si mesma antes de qualquer outra pessoa. — Disse, deixando a voz sair mais firme, mais convicta. Estaria ali pela irmã em qualquer situação, e agora mais do que nunca estava disposta a ser a pessoa que Cecília precisava.
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