Para a segunda aula do dia tive que dar uma rápida parada no banheiro. Não tinha certeza como as coisas seriam por aqui, mas tenho lembranças até hoje da primeira aula de poções em Beauxbatons. A senhora Truffaut deu uma bronca em todos os alunos de cabelo longo que a sala de poções não era lugar de fios aleatórios voando para lá e para cá. Com uma trança bem apertada e depois enrolada em um coque, alcancei de volta minha pasta e voltei para o hall principal do primeiro andar. Não estava atrasada, mas como também não gostava de me atrasar apressei o passo o laboratório.

 Não sei explicar o choque que tomei no momento que pisei dentro da sala. Era um local completamente diferente de qualquer outro cômodo do palácio. Estava embasbacada, com o queixo solto e os olhos extremamente arregalados. Inclusive tive que me controlar para não cair que nem toco para trás quando o professor parou de escrever no quadro de vidro e se sentou para aguardar os últimos alunos. Adrian Polaris D'Angelo era um ícone em muitos sentidos, no mundo bruxo, e eu me senti completamente idiota de não ter reparado em seu nome no itinerário de aulas.

- Perdão professor, bom dia… - Disse quando já estava próxima de sua mesa, na frente da sala. - Me chamo Aurora Martins, acabei de ser transferida e por conta do cronograma eu perdi a primeira semana de aulas. Achei que o ideal seria me explicar antes de tudo.

 Em seguida puxei de minha pasta uma das diversas cópias que havia feito da nota que a diretora da academia de magia beauxbatons havia preparado para mim. O professor passou o olho rapidamente, sorriu e estendeu a mão para que eu me acalmasse.

- Não vou negar que todas as aulas são importantes e que a primeira foi bem emocionante, mas acredito que se esforçar consegue recuperar. - Ele guardou o bilhete e estendeu a mão para as mesas – Agora pode escolher um lugar e se sentar.

 Agradeci por sua compreensão e cacei um lugar não muito no fundo. Não que eu fosse míope, mas gostava de prestar bastante atenção da aula. Ao mesmo tempo não era o tipo de aluno desesperado por atenção que se sujeito às primeira cadeiras. Quando todos os lugares já estavam ocupados o professor fechou a porta, voltou para frente e começou a se pronunciar. Suas primeiras perguntas me trouxeram uma breve confusão. Como assim? É obvio para todos o que era a alquimia em si e suas propriedades, mas de certa forma era importante ponderar se apenas isso já fazia de todos nós alquimistas. Será que é aí que Adrian queria que nós cheguemos?

 A pausa para reflexão destas perguntas foi breve. Logo o professor já começa a se aprofundar no assunto, trazendo um pouco da história de Nicolas Flamel. A medida que terminava um, a projeção do quadro mudava de figura e o homem já emendava em outro alquimista famoso: Philippus Aureolus von Hohenheim. Tenho que admitir que esse não era o tipo de pesquisa que fazia nos meus momentos livres. Como meus pais, acabei pegando o gosto por plantas, mas passava batida quando o assunto era sua utilização em poções. Quem dirá a criação de vida artificial. Isso me trouxe um pouco de curiosidade por uns instantes. “O que diferencia uma vida artificial de uma vida real? E o que é real?”

 Minha breve viagem foi interrompida pela continuação da apresentação de Adrian, desta vez acendendo as luzes. Depois de me adaptar às luzes claras novamente foquei no que o professor dizia. Sua fala agora focava um pouco em si mesmo e na mesma hora seu império de poções me veio a mente. Como alguém como ele poderia não esta satisfeito?

 Quando pisquei novamente ele estava próximo da primeira fileira de bancadas e cada vez que soltava uma pergunta fixava seus olhos em um dos alunos a sua frente. Demorei um pouco para pensar se deveríamos ou não responder aquilo. E se sim, como que eu deveria responder aquilo? Respirei fundo e levantei minha mão. No momento ninguém mais tinha feito o mesmo, então não tive opção se não continuar. Adrian estava de costas, mas provavelmente percebeu meu reflexo no quadro de vidro e se virou, indicando que eu continuasse.

- Não sei se seria a melhor pessoa para responder essas perguntas, - Pausei para respirar fundo - mas sempre vi a alquimia como um caminho paralelo aos estudos que fui apresentada na minha vida. Entretanto, seria ingenuidade da minha parte não reconhecer a sua importância abismal na história e a sua sublime existência no dia a dia de cada um de nós. Espero conseguir desenvolver uma percepção mais apurada da alquimia e poder conciliá-la com outros estudos de herbologia, por exemplo, para trazer algo inovador para sociedade um dia.

 As palavras saíram da minha boca com muito cuido, principalmente considerando o meu sotaque acentuado. Sabia que se falasse muito rápido ninguém ia entende uma palavra se quer, mas no final deu tudo certo. O professor agradeceu pela participação e pediu para eu me sentar. Logo em seguida o sinal de fim de aula soou e ele nos liberou com uma tarefa de leitura e reflexão. Juntei minhas coisa rapidamente e segui a pequena multidão de volta para o corredor.