Quando pensamos sobre uma aula de história o que toma nossa consciência? As guerras mundiais… Os períodos confusos do governo brasileiro… Os golpes disfarçados de revolução… Sim, esses aspectos são importantes, mas apenas a parte mais recente de nossa história humana. Inocentemente Emília pensou que teria alguma aula chata ou coisa do tipo, contudo, como já esperava, a inocente Emília estava enganada.

Na aula anterior o professor Rodrigo solicitou a seus alunos que pesquisassem sobre uma lenda de seu interesse. Como a senhorita Martinez está com o espírito de dos estudos  acesso assim que a aula acabou foi à biblioteca. Olhou entre as prateleiras. Encontrou uma coleção de três volumes falando sobre a fauna brasileira e algumas lendas que permeiam algumas criaturas.  (literalmente, animais fantásticos e onde habitam do Brasil, minha gente.), todos muito interessantes, mas nenhum despertou realmente o interesse da menina a ponto que essa falasse: Eureka!

Mas, talvez, ela não estivesse realmente olhando. A Martinez, isso é um fato, estava mudando e essas mudanças faziam-a questionar várias coisas sobre sua vida e contribuem fortemente para uma distração sem fim. Quando se dar por vencida resolve pôr os livros de volta em seu lugar. Atrapalhada como só ela é capaz de ser deixou o livro sobre a Fauna Brasileiríssima esparrachar-se. Sobressaltada pegou o livro antes que Paula viesse reclamar com ela, mais uma vez. (Na cabeça fantasiosas de Emília, a bibliotecária não gosta nenhum pouquinho dela)

Para sua sorte a página que estava aberta falava sobre uma lenda de uma ave protetora, originária do Paraná. Os olhos grandes de Emília arregalaram-se como se tivesse passado por uma experiência de clarividência.

― Eso! Es Eso. ―  um largo sorriso desenhou-se em seu rosto. Encontrou um lugar para sentar e leu (devorou) tudo que encontrou na biblioteca sobre a ave. A Boneca de Pano deparou-se, entretanto, com muitas versões sobre o mito da ave protetora das árvores, mas, escolheu escrever a versão que soou melhor aos seus ouvidos e imaginação.

Na Lenda escolhida pela Martinez à ave possuia penas negras (como os demais corvídeos), na ocasião essa gralha negra dormia em um galho de pinheiro e foi acordada pelo som dos golpes de um machado. Assustada, voou para as nuvens, para não presenciar a cena do extermínio do pinheiro. Lá no céu, ouviu a voz de um deus, pedindo-lhe que ela retornasse e protegesse os pinheirais. Resignada e aceitando o seu destino a árvore retornou. Após a decisão a ave teve suas penas transformadas; eram agora de um azul celeste muito vivo, exceto ao redor da cabeça onde a cor negra de antes ainda fazia-se presente. Ao retornar à terra a árvore ficou responsável por espalhar a  semente da araucária, conforme o desejo divino.

Com o conto em mente, Emília Martinez estava pronta para aula, seja lá, o que fosse encontrar pela frente.

Contrariando todas as expectativas da menina, o professor põe todos para dormir em colchonetes.  De início, Emms ficou nervosa (talvez, um pouco revoltada), pois esperava fazer outro tipo de coisa com aquelas informações todas que tinha aprendido sobre a Gralha Azul. (Conhecendo a menina ela provavelmente pensou: “Aff, esses seres humanos não colaboram comigo”). Diante das inúmeras resistências que a menina impulsera para si, Emília passou alguns segundos, talvez, minutos vagando por uma tela preta em sua própria mente.  

Mas, entre uma respiração e outra algo mudou.

Emília não estava mais em seu breu mental, mas em uma floresta. Uma floresta diferente. Uma que sua experiência de pessoa criada nas montanhas altas da Tierra del Fuego nunca presenciara. Nem nas várias viagens com sua avó, pois a floresta parecia uma bela mistura de tudo que já vira e ao mesmo tempo era tudo diferente.
   
As coisas passaram com flashes em seu campo de visão; de um lado pôde identificar o redemoinho dos sacis e o momento em que tirou a carapuça de um dos sacis fazendo todo aquele cessar. Mas, quando cessou a cena que teve acesso não foi à vista poucos dias atrás (um corpo sem vida, o corpo que mais tarde ela e os outros descobriram se tratar de Beatriz). Na verdade, a cena era muito mais castelobruxesca do que sua imaginação admitiria.

No alto de uma árvore, uma gralha azul olhava de forma enigmática para a pequena Martinez. Sim, pequena. Algo havia mudado também em Emília. Embora a menina tivesse certeza que era ela ali, estava com pouco mais que 5 anos.

Embora fosse de novo criança, os olhos verdes conseguiam registrar tudo ao seu redor e, mais uma, eles pararam na ave peculiar. A ave tinha a cabeça preta e o restante do corpo era um azul brilhante tão brilhante quanto os olhos curiosos da menina. A menina quis, de imediato, chegar até a ave. Coisa que vem sem esforço.

― Hola! ― sua saudação ecoou entusiasmada pela floresta. Ao fazê-lo o animal pioou alerta e bateu às asas, aproximando-se mais da serelepe Emília.
― Onde eu estou, passarinho? Sabe me dizer?! ―  a menina tentou mais uma vez. Queria entender como fora parar ali, de verdade.

A ave olhou a menina de uma forma que que a mesma não sabia decifrar. Nunca ninguém a olhara dessa forma. A intensidade daquele assustou a menina.
― Sabe ao menos como eu faço para voltar à realidade. Não quero ficar aqui. Não sei o que tenho que fazer…. ― Retorquiu de forma urgente. O passáro tornou-se inquieto. (Podia jurar de pés juntos que havia lágrimas em seus olhos.)

Era essa a missão daquela aula? Ajudar animais? Como ela faria algo assim?

Onde fora parar? Se fosse uma não-mágica seria acusada de consumir drogas, mas Emms tinha plena certeza que estava no meio de uma aula de história da magia.  Buscou nas vestes sua varinha,  mas, para seu espanto não estava ali.

“Mierda! Onde te meteste?”

Outra vez o cenário tornou mudar, um flash. O cenário colorido tornou-se cinza, quase chuvoso. E apenas o pássaro estava ali, (minto, havia mais gente ali), junto com o barulho ensurdecedor de serras e golpes surgiram dois homens. Um alto imponente, com com cara de mau e muitas rugas na cara. E outro relativamente como uma Kristin Stweart da vida, quase sem expressões faciais.

E, com a aproximação deles, Emília pôde ouvir a voz do passarinho que mais cedo recusava-se a falar.

― Proteja. Pelo menos uma vez na vida, proteja-se. ― Disparou.
― Que? Me proteger? De que? ― Emília realmente ficara muito confusa nesse momento. Será que aquele dia na clareira havia a afetado mais que a menina gostaria de admitir?
― Você está olhando para o lado errado, pequena… Eles vão te pegar. ― Alertou.

Mas, quem demônios eram eles? E, por que Emília sentia que já tinha ouvido essa voz antes?

Os homens outrora barulhentos, mas estáticos começaram a se mover… Na verdade, avançaram com uma fúria quase britânica para cima da menina. O grito dela misturou-se ao do pássaro. Seu coração estava descompassado e ficou ainda mais ao ver a mulher de azul e longos cabelos castanhos (muito semelhantes ao de Emília, diga-se) surgir protegendo-a dos homens que queriam matá-la.

― Não desista… Nunca. Siga seus instintos. Muita coisa ainda precisa ser descoberta. Quando falta luz, o invisível salta aos olhos, menina. Não esqueça. Tem alguém protegendo-a de longe. Você é a semente que floresceu em um dia frio….

Como um suspiro tudo acabou.

Nossa bonequinha de pano estava de volta à realidade. Tateou o chão ao seu redor. Não tinha mais gramas verdades, nem árvores grandes; era apenas uma sala cheia de alunos. E Emília tinha a impressão que era a mais perturbada de todos.

Quem era aquela mulher que não mostrara o rosto? Por que seu coração parecia apertado e pequenino no peito?  

― O que acabou de acontecer? ― Perguntou para o professor à sua frente. Depois de respirar fundo, contou sua experiência onírica ao docente e teve a sensação que ele assim como ela não entendeu nada.

Pensou que ia enfrentar um monstro e ganhou um enigma, mas, até onde se sabe a Martinez não é boa com eles.