Acordei nervosa esse dia, tanto que nem consegui comer direito no café-da-manhã. Precisei parar no banheiro feminino no meio do caminho para lavar meu rosto mais uma vez e, por fim, finalmente seguir para a aula. Não que eu não gostasse de feitiços, mas esse tipo de aula sempre me deixava um pouco nervosa. Em Beauxbatons tinha uma professora de feitiços que era um pouco reprimida por nunca conseguir ocupar o cargo de defesa contra as artes das trevas. Isso a tornava uma pessoa cheia de rancor e o seu jeito de lidar com isso era sendo agressiva conosco. Posso dizer que era um pouco traumatizada com suas aulas que sempre envolviam algum tipo de feitiço de luta.

Por eu não ser uma pessoa verdadeiramente agressiva eu sempre acabava me dando mal, ou focando minha atenção em aprender magias de defesa. Meus pais não podiam me ensinar em casa, então o único jeito era em aulas mesmo. Cheguei na sala esperando com todo meu coração de aqui fosse diferente. Entretanto, quando dei de cara com o home alto e sério parado no centro do cômodo o meu coração quase foi parar na minha boca. Seu olhar era típico de quem não estava lá para ser o professor queridinho e isso fez minha espinha inteira congelar.

Ele começou a explicar sobre o que seria a aula de hoje e não pude evitar meus olhas de rolarem. Era exatamente o que eu previa e temia, mas era uma aula, então não era como se eu tivesse qualquer outra escolha. Sei bem também que sair correndo de lá não era uma escolha. Como o requisitado pelo o professor, me agrupei com outro aluno da turma. Lavander Marshall deveria ter a mesma idade que eu e era a pessoa mais próxima de mim no castelo. Além de não querer machucá-la, decidi que iria mirar em sua varinha. Para qualquer um isso seria insignificante, mas eu encarei como pura estratégia. De certa forma eu estava desafiando minha própria mira. Se eu conseguisse realizar o feitiço mirando em uma área de contato menor, isso significaria que eu estava mais do que pronta para fazer isso em um adulto.

Foi combinado que primeiro eu iria tentar desarmá-la e a segunda rodada seria dela. Nos cumprimentamos no centro da sala e nos afastamos em linha reta. O professor indicou que todos os alunos fizessem o mesmo e só se virassem quando mandasse. Podia sentir seu olhar penetrar minha alma mesmo estando do outro lado da sala. Minha respiração estava calma e eu tentei focar em onde o corpo de Lav estaria posicionado, considerando que estávamos na mesma linha reta. Como era de praxe, para mim, repeti o feitiço algumas vezes na minha cabeça. Isso me ajudava na hora de efetivamente lançá-lo, pois qualquer problema linguístico ou de nervoso não me venceriam.

Como um chicote estalando no chão, o momento entre a fala do professor e o efeito do feitiço aconteceu em um espaço de segundos. Assim que ouvi sua voz, virei rapidamente já iniciando a palavra (ex). Quando estendi minha varinha na direção da outra aluna, ela estava exatamente onde prevista (pelli). Por fim foi só ter certeza de que ela não seria veloz o suficiente para contra-atacar (armus). Não podia negar que ela também não estava de brincadeira, pois ela terminou de recitar o contra feitiço que que no mesmo segundo que eu. Tinha medo desse tipo de aula exatamente porque você pode se sair bem ou ser lançado contra a parede em questão de segundos.

Me certifiquei de que minha amiga estava bem e depois seguimos para a inversão das atividades. Repito quantas vezes for necessária que eu não gosto de machucar as pessoas e se isso não for parte de uma tarefa eu prefiro não fazer. Agora estava na hora de me defender e esse feitiço eu não precisava nem repetir. Já tinha na ponta da língua de tantas vezes já tive que usar nas aulas da antiga escola. Esperava ser tão rápida quanto Lavander, mas não a conhecia o suficiente nesse assunto para subestimá-la. Quando o professor falou mais uma vez eu já me virei apontando minha varinha na direção da dela e soltei de uma vez só:

- Commoror Virga! – Um feche de luz vermelha saiu de minha varinha como se tivesse acabado de cancelar o feitiço chegando. Respirei fundo aliviada ao perceber que ainda estava parada no chão. Por um lado, também era bom saber que minha amiga também era ágil e preparada quando se tratava de feitiços. Fui na direção dela sorrindo – Fantástico, você está bem?

Rimos um pouco e aguardamos que todas as duplas terminassem seu treino para sermos liberados pelo professor.