O dia seguinte ao dia que ficaria marcado para sempre em minha mente não podia ser mais monótono, parece que toda a animação havia sido retirada de dentro do meu ser e lá estava eu me arrastando depois do almoço para a biblioteca novamente. Podia estar usando esse momento para dormir, mas pelo resto do mês era assim que eu iria passar as minhas tardes. Ao passar pela porta e entrar eu senti um calafrio. Eu tinha tanta raiva daqueles veteranos, talvez com o passar do tempo tendo que aturar essas pestes aqui dentro eu não sinta mais isso por eles, até porque é um sentimento novo, eles sempre foram indiferentes para mim e até mesmo fofos. Mas o problema todo foi aquele ataque repentino, é como quando você tem um cachorro de estimação e de repente por alguma disconfiança aleatória do bichinho ele acaba te mordendo, a gente tenta não sentir raiva, foi o instindo do animal mas no fundo a gente sim um pouco de raiva, um pouco de desconfiança, e ficamos as vezes com um pé atrás com aquele animalzinho que a gente tanto ama, no entando depois de algumas horas já está tudo bem de novo. Será que eu vou me sentir bem com esses que me atacaram todos juntos de novo?

Bom era algo que apenas o tempo iria dizer, no momento eu não queria nem olhar para a cara de Uirá que já estava me lançando um olhar ameaçador assim que eu cheguei no local. Paula havia me pedido para ajudar a arrumar a biblioteca durante essa detenção e dessa forma fui até uma mesa onde os alunos haviam largado alguns exemplares de história da magia brasileira e tratei de tentar encontrar o lugar para eles, parecia meio dificil porque uma coisa é encontrar um livro, outra é encontrar aonde guardá-lo. Nico rapidamente apareceu parecendo não muito feliz em ter que me ajudar nesse meu castigo mas acenou bem em cima da sessão onde eu deveria guardar os livros.

Enquanto eu andava por dentro da biblioteca os veteranos ficavam me olhando de longe, não entendia muito bem o que queria dizer aqueles olhares, mas minhas pernas davam umas vaciladas, estava com medo de fazer qualquer coisa errada e ser atacado de novo. Mais uma vez aquela sensação de raiva toma conta de mim, só queria terminar o que tinha que fazer logo para poder sair dali o quanto antes. Encontrei a sessão de história e então encontrei o local onde os livros deveriam estar, no total eu estava com três livros nas mãos. Encontrei aonde o primeiro deveria ficar com a ordem alfabética do sobrenome da autora e o coloquei no espaço devido. Eu ainda não tinha percebido o padrão que os outros estavam mas eu coloquei o livro com o titulo de cima para baixo na lombada e os outros todos estavam ao contrário, com o titulo indo de baixo para cima.

Antes que eu pudesse perceber que tinha colocado os livros da forma errada algo caiu aos meus pés. Dei uma olhada para o pequeno primata que estava me supervisionando como se eu fosse uma criança, com certeza ele estava debochando de mim jogando coisas em minha cabeça. Mas ele não havia nem prestado atenção no objeto que caíra proximo de meus pés, então eu me abaixei e peguei, era um pequeno cilindro de papel antigo, estava até amarelado provavelmente pelo tempo, seja o que for deve ter caido quando eu estava guardando os livros? Não sabia, mas com cuidado abri o papel para não rasgá-lo.

Ele não tinha nada demais, mas era bem antigo, haviam 4 numeros nele, 1915, seria esse o ano em que ele fora escrito? Tentei ler algo no papel mas o unico texto legível era "encontre-me..." e logo depois três coisas que parecias ser letras "o" ou será que eram bolinhas? Bom será que tinha algum feitiço capaz de restaurar esse papel? Claro pode ser nada demais, pode ser apenas um bilhete de namorados talvez escondido numa das plateleiras da biblioteca por um casal de 1915 mas mesmo que fosse apenas isso ainda seria algo bem legal. Ou também pode ser algo importante, talvez um local onde um segredo fora revelado ou até uma passagem secreta. Essa escola é tão antiga, muitas poderiam ser a possibilidades... E se fosse um tesouro? A animação corria por dentro de mim e por um momento quase esqueci que estava em detenção, disfarcei e virei de costas para Nico para ele não ver o papel e tentei procurar por mais alguma informação que havia deixado passar despercebido.

Quantidade aleatória (1,10) : 8

Guardei rapidamente o papel com o maior cuidado do mundo no bolso lateral da bermuda que era bem larguinho e torci para que o papelzinho não desfizesse, do jeito que minha cabeça era se eu perdesse esse papel provavelmente esqueceria o que estivera escrito. Por um reflexo levo a minha mão direita até a minha nuca sentido uma pancada no local e em outras partes da minha cabeça. - Aiii! Essa doeu! - Reclamei, o mico havia jogado os livros que eu tinha acabado de guardar sobre minha cabeça. Ele parecia irritado. Será que tinha visto o papelzinho?

Recolhi os livros de novo e foi então que percebi ter colocado eles no padrão errado de volta a prateleira... Nossa essa seria uma detenção e tanto, vou ter que voltar aqui com um capacete porque até eu aprender a devolver esses livros para o lugar certo vou tomar muita livrada na cabeça... - Ta bom! Ta bom! Já vi que botei errado tá? Eu vou prestar atenção nas próximas vezes, não precisa tacar as coisas na minha cabeça! - Reclamei, recolocando então os livros no seu lugar correto. Eu não podia esperar para sair dali para poder olhar o papel novamente, queria descobrir mais sobre ele.

Era apenas o meu primeiro dia arrumando essa biblioteca e eu já estava com vontade de sair gritando por ai loucamente arrancando todas as minhas roupas e pulando dentro do pântano com tudo. Mas era capaz de eu apanhar mais desses bichos loucos que moram aqui caso eu fizesse algo que os desagradasse, e essa sensação de ter que ficar me policiando com medo de que a qualquer momento eu possa ser atacado de novo estava mais do que me consumindo, e para completar a situação ao ver Paula se aproximanto o lindo do mico raivoso que estava me atirando livros a dois segundos atrás resolve se comportar como um... animal civilizado? Existe isso? Enfim, o fato é que eu não conseguia entender como Paula conseguira o respeito dessas pestes e como ele poderia ser tão amoroso com ela.

- Bom... Digamos que meu dia poderia estar melhor... - Respondi, não quis parecer seco nem nada, foi quase como que um pensamento alto ou talve um desabafo, o fato era que eu queria sair dali o quanto antes. - Só preciso pegar o jeito disso aqui e o quanto antes aprender o quanto antes ele não vai precisar ver a minha cara por aqui. - Disse indicando o macaco com a cabeça. Eu sabia que tanto eu quanto ele não gostavamos da presença um do outro então o quanto antes eu saísse era melhor para nós dois.

Paula nãoparecia ser tão ruim assim quando a impressão que eu tive dela e de todos aqueles animais que estavam ali me circundando na biblioteca. Na verdade olhando com calma eles todos não pareciam ruins, mas depois do que aconteceu claramente eu não conseguia mais ficar tranquilo sem ter um pé atrás. A bibliotecária era tão simpática, que acabei me sentindo meio mal por ter aprontado aquele dia, me lembrei de uma professora do ensino fundamental não maj de geografia que eu perturbei por um ano inteiro e no ano seguinte acabei me apaixonando por ela sendo o melhor aluno em todas as suas aulas tentando me redimir do passado. Mas eu ainda não conseguia entender como aqueles animais ficaram ali me fazendo sentir deslocado apreensivo.

Paula foi me conduzindo pela biblioteca enquanto me ajudava e mostrava como guardar os livros com Nico e Uirá nos seus ombros, sinceramente eu ainda n entendia como esses bichos a respeitavam. Como será que era o proceso de adaptação dela ao começar a trabalhar aqui. Enquanto arrumava alguns livros foi me contando a história de uma indiazinha. - Como ele pode querer fazer isso? - Respondi na hora em que ela mencionou o que o zelador queria fazer com a pobre menina. Eu sei que existem algumas pessoas preconceituosas quanto ao sangue, já vi um monte de bruxo idiota na internet mas quase sempre nunca presenciei nenhum babaca desses de perto.

A supresa então estampa meu rosto assim que descubro que essa india era Uirá. Eu não fazia ideia de que ela ja estava aqui todo esse tempo e não fazia ideia do que ela ja tinha passado. Olhei então para Nico, provavelmente algo o fez ficar também, não sei ao certo a história dele, talvez nem Paula soubesse a história de todos os Veteranos mas de certa forma, para que eles quisessem ficar aqui para sempre na forma de animais a vida deles deve ter sido bem sofrida. Eu não consigo imaginar eu mesmo vivendo aqui para todo o sempre, será que eles não se sentem presos? Ou simplesmente esse lugar já os satisfaz?

Então eu pensei sobre o que Paula disse quando me repreendeu, realmente eu devia mais respeito a eles, me senti automaticamente envergonhado por aprontar aqui dentro atrapalhando a paz dos animaizinhos. Mas mesmo com tudo isso não pude deixar de sorrir quando ela também repreedeu Nico, deu um leve sorriso. Afinal, se ele realmente já foi uma pessoa e é bem mais velho do que eu não teria motivos para ficar implicando com um adolescente. - Da ultima vez que me desculpei com vocês eu não estava sendo bem sincero... Me desculpem. - Falei olhando para uirá e depois tentando fazer um carinho na cabeça pequena do mico quando a bibliotecára o colocou em meu ombro contra sua vontade. - Prometo que o resto dessa detenção vai ser tranquila. Eu prometo.