Sexta feira, dez da manhã, Bianca apressou-se para a sala de Artes de Defesa e Combate a fim de modifica-la magicamente para dar-lhe tudo o que era necessário para o clube de duelos que imaginou. O clube havia sido extinto um ano antes da escola fechar e, desde que aquele era pr primeiro ano da loira como docente da disciplina, ela não tinha muita certeza do que seria necessário para isso. Um, dois, três bonecos de teste talvez... De qualquer forma, a Torres passou as últimas duas semanas pensando em itens e estruturas as serem conjuradas para melhor experiência dos discentes.

Assim que entrou pela porta de sua tão conhecida sala, ela depositou dois livros e sua bolsa expandida sobre a mesa e virou-se para o ambiente. — Primeiro eu preciso me livrar dessas carteiras. — Pensou alto com o polegar tocando o próprio queixo e sacou sua varinha com a mão esquerda. — Talvez isso resolva. — Girou o objeto de madeira no ar algumas vezes. "Locomotor." As carteiras começaram a flutuar uma a uma, afastando-se ou comprimindo-se umas contra as outras. Não arrastavam-se no chão, portanto não havia qualquer barulho para atrapalhar as aulas dos demais professores no andar.

Ao fim desse primeiro momento, as carteiras foram espalhadas de maneira diferente: havia uma fila larga no centro, e outras circulando todo o perímetro da sala de aula. Sua ideia agora era transfigurar as centrais em uma grande e resistente plataforma suspensa para que seus alunos pudessem duelar a vontade, as laterais em carpete macio e almofadas próximas as paredes para que outros os outros membros do clube — ou plateia pois o clube seria aberto ao público — pudessem esperar sua vez de duelar com certo conforto. Essa seria a parte mais difícil para ela: transfigurar tanta coisa. Tudo bem, ela já havia sido professora substituta de transfiguração, mas isso não significa que era uma mestra na disciplina mágica.

Escorada em sua mesa enquanto pensava numa paleta de cores que combinasse antes de executar as transfigurações, a loira tocou, acidentalmente, o couro de sua bolsa expansível, e sua mente a levou para outro lugar. Vermelho. A madeira do piso sob seus pés era vermelha, as prateleiras ao seu redor estavam derrubadas e seguiam o mesmo tom de cor, o teto pingava tinta vermelha. Onde estava? Uma gota pingou em seu cabelo que parecia bem mais curto e menos hidratado que normal e, então, ela percebeu que aquilo era sangue, não tinta. A sua frente havia a imagem turva e uma mulher de cabelos pretos e curtos que apontava a varinha de madeira extremamente parecida com a sua para uma onça pintada e no momento em que a morena conjurou um feitiço em direção ao animal, Bianca se viu de pé na sala de Artes de Defesa e Combate novamente.

— Diego. — O flutuou dos lábios de Bianca involuntariamente. Não conheceu muitos Diegos em sua vida e, certamente, nenhum deles tinha a aparência de uma mulher morena. De volta a sua sala, a Torres demorou a assimilar que sequer havia saído dali. Havia tido uma de suas visões involuntárias e não entendeu absolutamente nada do que aconteceu. Por qual motivo tinha uma louca atacando uma onça dentro de uma loja? Não sabia explicar bem o que viu, mas havia uma palavra bem simples para traduzir o que sentia: angústia. Angústia essa que só causava mais confusão para a docente que beirava o desespero quando baixou sua varinha e virou-se para aquela pequena bolsa de couro sobre sua mesa. Nada de visões involuntárias e sem qualquer sentido, ela tinha que mergulhar a fundo até entender o motivo daquele sentimento a consumir. De olhos fechados, Bianca agarrou a bolsa com as duas mãos e se concentrou para retornar àquela visão.

Estava escuro. Muito escuro. Sua mão pálida alcançou um interruptor no canto da parede e ascendeu uma luz fraca sobre sua cabeça, revelando mais sobre o lugar em que ela se encontrava. Parecia um armário de vassouras com uma porta e uma escada de madeira. Inexplicavelmente, ela sabia que a porta era um portal para um ambiente maior e a escada era sua saída dali, mas apesar de estar angustiada e amedrontada, sentia uma pontada de alívio em saber que Diego ficaria bem. Aquele nome mais uma vez. Acima da escada, uma festa de luz se formou e, sem seguida, ela tornou a ser tomada pelo desespero quando viu uma cabeça ensanguentada rolar pelo chão.

A cena mudou. Agora ela via, sem poder se mover, duas figuras em um duelo. Por algum motivo, ainda petrificada, Bianca se preocupava com o possível resultado daquele embate. Não que duvidasse das habilidades de seu amado ou algo assim, não, ela só havia visto do que sua oponente era capaz. Seu amado? Aquele não era Miguel, como poderia? Foi quando o nome daquele homem foi ouvido mais uma vez. Diego.

Bianca estava ofegante, meio tonta, segurou-se na mesa para se manter de pé e assimilar tudo o que havia visto. Quem quer que fosse Diego, corria perigo. A cabeça que rolou era a dele? Não... Os cabelos eram escuros demais para isso. Se bem que havia sangue por tudo lugar, não teria como dar muita certeza sobre nada além do lugar em que tudo ocorria. O Bestiário da Aurora, a Torres esteve lá durante as férias e foi lá que comprou a bolsa que lhe deu as visões. Agora, uma pergunta martelava sua mente: passado, presente ou futuro? Não sabia dizer ao certo, mas de qualquer forma ela não podia ficar parada.

Temerosa de ter outra visão e ficar ainda mais confusa, ela abriu a bolsa e assobiou para que seu Lapino saísse de dentro. — Querido, preciso que vá ver se a Aurora está bem. Se sim, diga a ela para tomar cuidado. Diga também que não é nada demais, só uma má impressão. — Disse, coçando atrás das orelhas do animal que desapareceu em meio a um vórtice. Ela não era amiga da cantora, mas as duas tinham contato desde que havia contratado a mais nova para apresentar-se no baile da FVA. Não tinha muita certeza de nada, então não havia motivos para alarmar a garota com detalhes de suas visões turvas. — Diego. — Mais tarde, certamente, ela procuraria por este nome nas redes sociais de Aurora.