Os olhos de Bianca corriam sobre o papel sobre sua mesa enquanto era inundada por pensamentos arrependidos. A última matéria escrita por ela para o Globo de Cristal atacava, ainda que indiretamente, Marta Helena, a médica que a atendeu depois de seu acidente com um dragão no fim de 2020, mas a Torres desejava uma entrevista com a mulher para a edição de sua revista do mês, como conseguiria isso? Ela certamente havia lido a matéria e a probabilidade de ter se sentido pessoalmente atacada era grande. Que dilema.

Ao lado da loira havia uma pilha de bolas de papel com diferentes ideias descartadas para inícios de textos para a Silveira. E lá ia mais uma, péssima ideia trata-la como se fossem próximas. Talvez fosse melhor aparecer no hospital mais uma vez para fazê-la uma visita, não? Dessa forma tudo seria natural e não soaria tão ensaiado como todos os textos escritos pela editora estavam sendo. É, devia fazer isso mesmo.

Após dobrar algumas páginas brancas para guardar em sua bolsa, Bianca viu a antiga lista de nomes entrevistados para sua revista. Verônica Dourado, Aisha Evangelista, Lira Cotta, Ian Ruzzo, Ares Rayleigh e Luca Coelho — o influencer ex-aluno de Castelobruxo —, todos grandes nomes dentro da sociedade bruxa Sul Americana, mas ainda faltava alguns bem importantes. Marta, a diretora do maior hospital de medibruxaria da américa do sul; e Roberto, o atual presidente ao qual a Torres vem evitando conversar desde um certo incidente nos terrenos da escola. Esses eram os dois principais nomes da lista, seguidos de alguns outros como a própria irmã, Camélia Torres, e alguns colegas de trabalho.

Melhor que a entrevista fosse com Roberto ao invés de Marta naquele mês. O pulso de Bianca girou com a caneta ao redor do nome do presidente, mas sua ponta apenas marcou o papel com um vinco sem tinta, precisava de outra caneta para fazer aquilo, depois de tantas tentativas falhas de escrita. — Merda. — disse em voz alta. Teria que subir a escada estreita para alcançar seus aposentos, onde encontraria outra caneta. Desde que ficou grávida — e se acidentou —, a Torres vinha evitado esforços. Sorte ou destino, encontrou uma caneta dourada no fundo da gaveta do meio em sua mesa e imediatamente a imagem de Rodrigo tomou conta de sua mente, junto a uma intensa onda de nostalgia. Fazia muito tempo desde a última vez que falou com o amigo que simplesmente desapareceu do mapa de uma hora para a outra. Isso não foi surpresa pra ninguém, do jeito que ele é devia estar enfiado no estudo em alguma catacumba onde não tem sinal, Verônica já havia até arrumado outra docente para ocupar sua cadeira na disciplina.

Assim que alcançou o objeto, nostálgica, com as lembranças do Dutra em mente, Bianca desapareceu de si. Sua consciência foi transportada para outro lugar. Estava escuro, úmido e frio. Tudo o que ela podia ver eram paredes cinzas e uma mesa de pedra no centro do ambiente, que lugar era aquele? A mão da clarividente percorreu sua cintura em busca de sua varinha mas não a encontrou, estava indefesa. Sabia, no entanto, que aquela era mais uma de suas visões e que não poderia ser ferida, era só se acalmar e tudo acabaria bem. — Certo, certo... Onde estou? — se perguntava enquanto olhava os arredores. Súbito, ela saltou assustada ao ouvir um gemido de dor e seu olhar pousou sobre o corpo nu de Rodrigo — que estava muito diferente da última vez que Bianca o viu — acorrentado à parede.

— Rô? — chamou em vão, assustada com o que via. — Mas que porra é essa... — a voz fraca soou como um sussurro quando ela se ajoelhou na frente do homem e estendeu a mão para tocar seu rosto. — O que fizeram com você? — pensou alto, com as sobrancelhas juntas, podia jurar estar sentindo sua dor. Um baque alto a assustou e o ambiente se encheu com luz e barulho de saltos. Assustada, Bianca se levantou para olhar quem havia entrado no ambiente e seus olhos se focaram em uma mulher morena, magra e alta. De imediato, reconheceu, era a doadora misteriosa do Baile Beneficente. "— Bom te conhecer." — sua voz soou clara e foi seguida de um ruído seco. O corpo de Rodrigo caiu — ainda acorrentado — e sua cabeça permaneceu no ar, o rosto sem tônus, a boca aberta, suspensa pela mão da mulher em seus cabelos. A loira avançou sobre a mulher, com os olhos ardendo, clamando por vingança

Um arrepio percorreu todo o corpo de Bianca e, no segundo seguinte, ela estava de volta em sua sala. As mesas e cadeiras haviam sido arrastadas para todo lado e havia um buraco que se estendia da janela à pedra do solo. A Torres tinha sua varinha em mãos e havia feito aquilo durante sua visão. Ofegante, ela caiu sobre a cadeira e recostou-se de olhos fechados. Alguém devia ter ouvido ela fazer aquela bagunça sem ter percebido. — Merda. — as palavras escaparam de seus lábios quando ela girou o pulso com a varinha em mãos "Reparo.", apontou para a rachadura em sua mesa e sua mente foi invadida pela imagem da morte de Rodrigo outra vez. "Reparo Totalus.", ela se levantou e descreveu um arco no ar com sua varinha. Seus olhos ardiam, insistindo em chorar, e um grande nó se formava em sua garganta. Digo estava mesmo morto?

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Habilidade Especial - Poderes usados:

O ambiente começou a se refazer enquanto a Torres caminhava pela sala fazendo movimentos bem calculados com sua varinha e conjurando feitiços para consertar o estrago causado sem consciência. "Reparo.", conjurou, por fim, diante do vidro quebrado de uma das janelas da sala. Agora, tudo estava de volta em seu lugar e o ambiente parecia melhor do que nunca. Quanto a Bianca, bem, estava péssima. O rosto molhado em lágrimas, as emoções descontroladas, não conseguia decidir o que faria com aquela informação. Precisava de ajuda, precisava desabafar, expor tudo em palavras sempre a ajudou a entender melhor seus sentimentos, mas sua cabeça não estava funcionando direito depois do que vivenciou. Quem ela devia procurar primeiro? Deveria alertar a confederação do que aconteceu?

Após um longo suspiro para se acalmar, Bianca se sentou novamente e limpou os olhos com as costas das mãos. Sua varinha tocou a pena de repetição rápida duas vezes e ela começou a flutuar no ar para repetir os tudo o que ela dizia. — Querida Lira. — começou, a voz embargada. — Como vai você? — a longa pena em tons de dourado deslizou sua ponta sobre a carta.

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A Magia da Limpeza:

— Faz algum tempo desde a última vez que nos falamos. — disse em voz alta, a pena riscava o papel, transcrevendo tudo o que ela dizia. — Mas eu preciso te deixar ciente de algo. — ela suspirou outra vez e abanou a varinha no ar. Imediatamente a pena parou de flutuar e repousou. Sua mão direita tremeu em busca da caneta presente de Rodrigo outra vez, ela precisava ter certeza do que viu, buscar mais informações para enviar uma carta completa para a confederação.

Segurando o objeto firmemente nas duas mãos, a loira se concentrou para rastrear o amigo. Imediatamente foi transportada para uma praça conhecida. Era o centro de Monte Nevado, mas não havia ninguém nas ruas, exceto Rodrigo. Devia ser madrugada, pela escuridão e silêncio que tomava conta de tudo enquanto a neve caía. Ao longe, outra figura encapuzada surgia com a varinha alta para atacar o historiador de semblante triste. Quem era aquela pessoa? Bianca se aproximou devagar, seus passos não marcavam a neve por não estar ali fisicamente, até chegar perto o suficiente. Ali, notou que era a mesma mulher de antes, com um pequeno detalhe: parecia mais velha. Havia algumas mechas brancas eu seus cabelos, rugas ao redor dos olhos e boca caída, mas não havia dúvidas de que era a mesma pessoa. Tudo fez sentido.

A caneta caiu no chão quando Bianca voltou a si, agora, seu rosto estava carregado de rancor. Se vingaria daquela mulher, de uma forma ou de outra, e o primeiro passo de sua vingança seria fazer uma denúncia bem fundamentada. — Você me paga. — pensou alto, e ativou a pena de repetição rápida outra vez, ao se levantar e subir a escada até seus aposentos. Ali, buscou um pequeno frasco de vidro e desarrolhou a tampa. Em um movimento único, tocou a ponta de sua varinha na têmpora e se concentrou na memória da visão mais recente. Uma luz branco-brilhante foi retirada dali, agarrada na ponta de madeira, foi depositada no frasco. — Há uma assassina a solta e eu tenho sua identidade. Estou certa de que ela é a responsável pela morte de um dos docentes de Castelobruxo. Lhe envio este frasco confiante de que fará o que for necessário para mantê-lo em sigilo e que tomará todas as providências necessárias para promover justiça. — continuou dizendo em voz alta para que a pena escrevesse tudo na carta. Seus olhos já haviam secado há algum tempo, mas eles ainda estavam vermelhos, não pela tristeza, pela raiva.

— Aguardando seu retorno, Bianca Torres. — a pena parou de escrever e o papel se dobrou. Dentro do envelope branco, Bianca colocou a carta e o frasco com a memória e chamou uma das araras do castelo para enviar a carta até a chefe executora das leis da magia. estava feito.

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Habilidade Especial - Poderes usados:

Afogando as Mágoas: