Já fazia um tempo que a vida de Miguel já não era mais "normal", suas maiores prioridades agora não eram mais sobre as aulas em Castelobruxo ou como agradar a namorada para manter o relacionamento no conformes. Embora essas ainda fossem duas preocupações pertinentes e recorrentes, sua prioridade maior era aquela coisinha que crescia na barriga de Bianca — e como crescia. É, um filho... todo dia ao olhar para a Torres a ficha de Guel parecia cair de novo e de novo, como se fosse um sonho que ele não estava esperando virar realidade tão rápido — e põe rápido nisso.

Sempre lembrava-se do dia percorrera o mundo bruxo atrás de uma fênix, precisando coletar lágrimas do animal para ajudar na cura da louca que se metera com um dragão às escondidas. Agora até riam um pouco da situação, mas na época Miguel havia entrado num estado de choque, decepção e medo que demorou um pouquinho até que voltassem a ser o casal louco de sempre. Aliás, não voltaram exatamente com todas as loucuras bem conhecidas por eles, afinal, Bianca agora estava grávida. Cogumelos? Nem pensar. Se meter com outras criaturas? Não mesmo. Até brigaram por algumas vezes, a loira achava que era exagero ou invenção de Marta tê-la classificado com um gravidez de risco, e embora o Assis visse como a docente estava bem, ainda preocupava-se e cuidava dela todos os dias, o medo de perdê-la ou perder a criança era um sentimento que o linguista jamais imaginaria sentir, e nunca desejaria a ninguém.

E foi naquele domingo, dia sem aulas agendadas, sem muitas tarefas a serem cumpridas, que o coração de Miguel quase saiu pela boca. Era dia e verificar se estava tudo no conformes com os animais das trilhas das clareiras, mas, "por sorte" — algo que Miguel considerou mais ser o destino — algo havia atacado a horta do castelo durante a madrugada e agora o magizoologista procurava por pistas nos arredores do terreno. Se fosse alguma criatura, ele encontraria pistas, tinha certeza, mas tudo isso teria que ficar para mais tarde, responder ao chamado de Bianca era muito mais importante. Ela não lhe mandaria um patrono pedindo ajuda se não fosse de extrema importância!

Enquanto corria, seu coração já parecia se despedaçar. "Rainha Iemanjá, não permita que nada aconteça com eles." Concentrava-se em seu elemental e sua entidade regente, a prece mais simples e mais verdadeira que Miguel já havia feito em anos. Rumou em direção à entrada do térreo, mas antes pôde ver um das carruagens da escola começando a fazer seu caminho de volta. — Faça aquela carruagem esperar! — foi tudo que pediu, desesperado, para um aluno que passou por ele, e então já entrou pelo pátio interno, correndo pelas escadas. Ainda bem que as salas eram no primeiro andar, ou talvez Guel não tivesse chegado em tempo.

A expressão de dor de Bianca já era o suficiente para o destruir, paralisar seu corpo e suas ações, mas aquela reação não durou mais que dois segundos, a adrenalina percorrendo todo seu ser e fazendo-o correr de encontro a amada. O que era aquele líquido todo? — O que Bi, houve? Alguma aconteceu aqui coisa?  Dizer quer... hmm, já está na hora? — parecia um tonto, perdido e afobado, o dom da linguística não ajudando nenhum pouco a manter as palavras em ordem, seu cérebro parecia entrar em pani no quesito comunicação, tendo ele que se esforçar muito a ponto da cabeça latejar. Entretanto, enquanto perguntava, já ia ajudando a namorada a tentar andar novamente, logo pegando-a no colo para descer as escadas. Podia ser um cabeludinho magrelo, mas nada que um bocado de desespero não resolva. Tinha medo de usar algum feitiço e piorar a situação, então se virou como deu.

Alguns poucos alunos e funcionários acabaram vendo a cena, e assim os ajudaram a chegar no transporte puxado pelo enorme animal que, assim que se fez presente, foi capaz de dissipar um pouco da tensão e medo que endureciam a face do Barni. — Vai dar tudo certo! — sussurrava para Bianca, abraçando-a por trás no banco da carruagem para mantê-la o mais confortável quanto fosse possível. Podia até parecer um louco — e talvez estivesse mesmo naquele momento —, mas já chegou na enfermaria gritando pela enfermeira-chefe, levando a Torres para dentro em seguida. Aquele seria um dos dias mais importantes de suas vidas? A criança iria nascer ali mesmo, em Castelobruxo? Miguel mal conseguia para quieto de tanto nervosismo para saber o que estava acontecendo, mas ficou a disposição para ajudar no que fosse necessário.

Habilidade Especial - Poderes usados: