trabalho - de volta a programação normal

Mesmo sem nenhum cliente presente no momento, eu mantinha a pose profissional enquanto organizava os livros de atendimentos da recepção. Era meu primeiro dia de volta das férias, e com a energia revigorada nada melhor que aproveitar o tempo livre e adiantar a parte burocrática da clínica, como lista de materiais a serem comprados e coisas do tipo. O barulho da porta se abrindo faz com que eu desvie meu olhar da tela e acompanhe com os olhos o casa de senhores que se aproxima de minha mesa, e com um sorriso no rosto dirijo a palavra a eles - Bom dia! Em que posso ajudá-los? - A atenção é desviada novamente para a pequena caixa de transporte de felinos que a mulher carregava, e ao olhar por dentro das pequenas grades da mini-cela preciso me esforçar para não ter uma reação de fofura ao pequeno filhote de gato que descansava ali. O homem então, como a maioria dos idosos que me aparecia, começa a contar toda a história de como haviam encontrado o gato, os cuidados e tudo o mais para no final apenas pedir para agendar uma consulta afim de conferir o estado de saúde do bichano e colocar suas vacinas em dia, adicionando ainda fatos sobre a viagem de casal que fariam e que era imprescindível que o animal fosse junto, porém para isso era necessário estar tudo em dia. Ouço pacientemente e acenando com a cabeça enquanto o senhor tagarela sobre o sonho de vida deles que era fazer essa tal viagem para a praia, e por fim sorrio - Olha, vocês estão com sorte! Não temos clientes para agora de manhã, portanto esperem aqui que vou falar com o veterinário, fiquem á vontade. - É claro que havia aproveitado o momento que o homem falava para ir fazendo a ficha do felino, então precisei apenas pegá-la e dirigir-me ao laboratório, batendo com os nós dos dedos na porta semiaberta sem muita cerimônia. O médico veterinário, no cúmulo de seu ócio, assistia a algo no celular, mas parou imediatamente quando adentrei o local - Há um casal aí fora que precisa de uma consulta e vacinas para seu gatinho. Posso chamá-los? - Questiono o homem de meia idade erguendo as sobrancelhas, e ao receber uma resposta positiva entrego a ficha para o homem, voltando para a recepção em seguida.

Gentilmente peço para que passem a mim os dados de contato e pessoais dos donos do animal, e assim que o fazem já libero para que sigam até o consultório de felídeos. O silêncio volta a reinar na recepção, interrompido apenas por uma nova abertura na porta. Desta vez, o dono já era um velho conhecido, tanto que até suponho a razão da visita - Não acredito que o Rex está com sarna de novo! - Dirijo-me ao garoto de treze anos que conduzia pela coleira um Border Collie adulto, e sua resposta para mim é afirmativa. Balanço a cabeça, e seguindo o tratamento padrão procuro no livro de atendimentos a ficha do animal, logo fitando novamente o dono - Só um minutinho que o doutor está em outro atendimento. -  E assim o tempo passa, não chegando a esperar cinco minutos para que os donos do gatinho saiam do consultório com um sorriso enorme no rosto, desta vez sendo a mulher a tagarelar sobre o filhote estar muito bem, obrigado - Ah, que ótimo! - O casal pergunta então o valor do atendimento, e somando a consulta a vacinação logo posso lhes passar o valor - Vai ficar R$140,00. - O homem não hesita em tirar o valor do bolso e passar a mim, que sorrio de volta passando os olhos dele para ela, e enfim ao gato - Obrigada, tenham um bom dia! - Observo enquanto saem pela porta ao mesmo tempo que outro cliente entra, e penso comigo que o dia seria bem longo, pois a monotonia chegara ao fim.