Uma das coisas que mais gostava de fazer quando tinha um tempo livre era observar pessoas, e o parque de meu pequeno vilarejo era bem propício para tal ato. Monte Nevado sempre foi um lugar calmo, e talvez fosse daquela plenitude que eu necessitava agora, visto que meus pensamentos andavam a mil por hora mesmo que eu tentasse não me estressar com o passado ou preocupar-me com o futuro. Aproveitei que estava de férias por uma semana do trabalho e fui logo a um dos bancos dispostos em frente ao lado plácido de seu centro, no caminho notando toda a beleza que muitas vezes passava despercebida diante da correria diária, ali sentando-me sem pressa alguma de sair.

Observava idosos fazendo suas caminhadas necessárias, donos com seus animaizinhos, mães com carrinhos de bebês, tudo parecido vir direto de um conto de fadas encantado, como se o lugar estivesse parado no tempo e os acontecimentos do mundo exterior não interferissem ali. Do nada fui pega relembrando meus tempos de adolescência quando me era permitido apenas observar a praça da janela de meu quarto, e mais recentemente, novamente pensei em Aragon. Balanço a cabeça ao recordar nossa história, mas eu meu coração sentia mesmo era saudades do homem, e das sensações que ele causava em mim. Não foi nada fácil ter que me despedir do mafioso, embora soubesse que aquela relação jamais daria certo, mesmo que o outro se divorciasse da mulher era provável que nunca abandonasse seu lado sombrio, e com certeza meus pais jamais aceitariam aquilo - e no fim, tinha medo do que pudesse acontecer diante dessa negativa deles. Sabia que Aragon podoa ter seus momentos explosivos, e por mais que eu tivesse meus desentendimentos, não desejava que nenhum mal acontecesse aos meus progenitores.

Por fim, fixo meu olhar nas crianças brincando próximo ao lago sob a supervisão de familiares, sentindo uma leve pontada no peito. No início eu sequer ligava para cenas como aquelas e até mesmo abominava, não tinha jeito nenhum com crianças, mas bem... O tempo havia passado, e no fim minha curiosidade de saber como meu próprio filho estava era maior que tudo. Tudo bem que assim que o pequeno nasceu eu sequer quis vê-lo e até hoje me recusava a abrir as cartas que recebia todo ano contendo sua foto em seu aniversário, mas nos últimos meses aquilo vinha me incomodando mais do que nunca. Era errado agora querer ver o garoto, sendo que jamais sequer tentei uma aproximação? Recordo que seu aniversário estava próximo, e o pequeno Lucca completaria seus quatro anos de vida no oitavo mês do ano que estava por vir. Será que perguntava a Aragon sobre mim, ou haviam dito que a megera era sua mãe? Não sabia qual das opções era menos pior, e para afastar tais pensamentos balanço a cabeça e me levanto, pois já havia passado tempo demais por ali e agora a noite começava a surgir. De forma lenta volto a caminhar em direção a minha casa, embora tais pensamentos e questões continuassem a me atormentar.