Depois de passar a noite acordando de quinze em quinze minutos eu acabo acordando de vez sem conseguir voltar a dormir mais, resolvi então que seria uma boa hora para conversar com aquiles, o meu cacto. — É amigo, acho que algo ruim está para acontecer… — O mês de maio tinha acabado de começar e com ele vieram esses pesadelos durante a noite que não me deixaram dormir, neles eu estava num lugar muito escuro sem enxergar nada e de repente parecia que eu ia cair e acordei no susto.

Reguei a plantinha e me arrumei, ainda era muito cedo mas não tinha mais o que fazer, todos ainda dormiam, resolvi então caminhar lá fora. Saí de Ybirá e comecei a andar como se estivesse indo para o castelo, estava um dia ensolarado e bonito e estava aproveitando o calor matinal do Sol. Fechei os olhos para aproveitar a leve brisa que estava passando pelo local e quando os abro vejo algo que me chamou a atenção, havia um filhotinho de passarinho no chão próximo a cabana no guarda caça piando. Aparentemente deveria haver ali algum ninho e o pobre coitado havia caído dele.

Me lembrei da época que eu era mais novo na casa de férias das minhas mães, tínhamos um quintal bem grande com várias árvores frutíferas que eu adorava escalar, e tinham também muitos passarinhos morando nessas árvores. Mas tinha também o gato da vizinha que estava sempre tentando pegar os desavisados. Tal qual fazia antigamente me aproximei do pequeno ser e tentei acalmá-lo com a minha voz suave. — Oi amiguinho, calma… Eu vou te ajudar. — Me aproximei um pouco mais pisando na grama. já não estava mais na trilha para o castelo mas na lateral da cabana embaixo de uma árvore.

O pequeno passarinho pulou algumas vezes para o lado mas não pareceu se sentir ameaçado pois deixou que eu o pegasse. Olhei para cima e encontrei o ninho do qual ele provavelmente havia caído. O segurei com toda a delicadeza para não o ferir, subi numa pedra e o coloquei de volta no ninho torcendo para a mãe dele não achar que eu o estava fazendo algum mal.

— Viu só, o tio aqui não é nenhum vilão. — Disse sorrindo, eu e minha mania de falar com os animais e com as plantas como se elas pudessem me ouvir. Sorrindo ainda me virei para trás para voltar ao meu caminho quando mais uma coisa me chama a atenção. Do local onde eu estava dava pra ver dentro da cabana do guarda caça direitinho, a luz estava acesa e bem na prateleira de cima estavam garrafas e mais garrafas de cachaça e muito do que eu imaginei ser tabaco, pelo menos parecia isso.

Não que eu gostasse de consumir esses produtos, na verdade eu nunca havia bebido e nem fumado antes e para ser sincero não tenho tanta vontade assim de experimentar, o que mais me chamou atenção na realidade foi o fato de esses itens se encontrarem na cabana do guarda caça. — Safadinho o senhor né? E eu achando que os adultos seguiam as regras que impunham para nós. — Se bem que pode ser que ele também tenha esses objetos para o caso das entidades mas eu não acho tão provável assim, se fosse isso talvez ele guardasse apenas um tipo de cachaça e não todas essas variedades de lugares e anos diferentes.

Dei uma esticada no pescoço pela janela e a cabana parecia vazia, uma ideia travessa começou a se formar na minha cabeça e por mais que eu estivesse querendo ficar na minha e não arrumar mais confusão já era tarde, as ideias já estavam fluindo, porque  pensando bem, esses itens me poderiam ser muito úteis caso eu venha a me deparar com algumas dessas entidades que pedem essas coisas caso você esbarre com elas. Nunca aconteceu comigo mas vai que né?

É isso, eu preciso tentar pegar um pouco, ele não vai dar falta, tem tanto. — Homenum Revelio — Disse com minha varinha em mãos, precisava ter certeza de que ele não estava na cabana e nem ninguém por perto. Não parecia ter ninguém nas imediações, então rumei para a porta da frente e tentei abrir, fechada. Apontei a varinha então para a porta. — Alohomora — Graças aos caboclos a porta abriu, parecia muita sorte e isso não acontece com frequência, entrei de fininho e deixei a porta encostada para que ninguém me visse lá dentro. O local era bem simples, era tudo um grande e único aposento com tudo. Tinha uma cama enorme e uma lareira bem rústica, parecia um lugar confortável. Observei mais e encontre um armário com umas panelas e mais atrás umas prateleiras, era lá que estavam as coisas interessantes.

Fui rapidamente até as prateleiras e observei, realmente era um tipo de fumo enrolado numa embalagem transparente e tinham garrafas de cachaça de cores e rótulos diferentes, eu não conhecia muito disso.

Peguei duas embalagens de fumo com a mão esquerda, e com a mão direita apontei a varinha para uma das garrafas e disse: — Locomotor garrafa de cachaça — Uma das garrafas começou a flutuar na minha frente e era melhor eu me concentrar nela para não dar ruim depois. Com a mesma mão que segurava a varinha segurei mais uma garrafa e rumei para a saída, abri a porta com o pé segurando os objetos e com a garrafa de cachaça me seguindo atrás de mim.

Olhei para os lados para ter certeza de que não tinha ninguém lá fora e ainda bem que acordei cedo hoje, ninguém iria me ver. Fechei a porta com o pé e segui retornando a Ybirá para guardar todas essas coisas com a garrafa de cachaça flutuante atrás de mim antes que alguém acordasse e eu pudesse esconder esses itens nas minhas coisas sem levantar suspeitas.

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