Eu tinha a habilidade sobrenatural de sentir que alguma coisa poderia acontecer que deixaria o clima levemente instável. O tempo dentro da sessão de cinema fora o suficiente para que os celulares não tocassem ou aviassem de mensagem para nós dois. Assim que saíssemos eles voltariam a nos avisar das malditas mensagens e até mesmo cobranças de cartão de crédito, problema de gente normal. E não sei o motivo, mas eu sentia que alguma mensagem mudaria o rumo daquela noite de uma maneira que eu não poderia explicar, era como se as coisas fossem se construindo rápido demais e nada seguia como planejado, imprevisível. E eu estava longe de reclamar de qualquer coisa que havia acontecido até agora, mas a cena que viera me deixara levemente desconsertado e sem saber como agir. Eu ouvi Eduarda falar sobre seu aniversário e imediatamente franzi o cenho, alguma coisa tinha que ser feita antes que ela chorasse de fato, notando que algumas lágrimas já surtiam efeito.

– Primeiramente, feliz aniversário. – Fiz uma pausa e a abracei com toda a força que tinha e então levantei levemente seu corpo do chão e a devolvi no lugar de onde havia tirado, o chão. – Segundamente, se é que essa palavra existe… Não tinha um vestido até agora. – Esperei o tempo para ver como minha fala ia surtir efeito em Eduarda. Podia ver esperança no olhar dela, talvez algo que salvasse o dia que poderia ter sido esquecido. Eu não sabia de seu aniversário mas tinha que fazer alguma coisa e eu não tinha problema nenhum em ajudar e fazer companhia, afinal estava fazendo isso desde cedo até agora onde estamos. Foi um longo caminho, não?

Sem delongas, levei a garota para uma loja de vestidos dentro do shopping e claramente falei. – Pode escolher o que quiser. – Movimentei as mãos mostrando que ela deveria entrar na loja e escolher qualquer vestido que achasse que combinaria consigo. Minha mente para roupas femininas era péssima e eu poderia facilmente acabar provocando um desastre e eu certamente não queria aquilo. Aguardei por alguns minutos, ela precisava absorver a informação e escolher. Eu me certifiquei de que não veria o vestido para que sofresse com a surpresa assim que ela se aprontasse. Burocracias a parte, tudo havia sido concretizado e dali sairíamos para algum lugar para nos arrumar. Eu mesmo precisava me arrumar também mas não teria muito tempo, além de estar vestindo algo levemente formal para aquela ocasião.

– Eu estou no mínimo apresentável? Não que eu me importe muito… Mas não gostaria de receber o destaque negativo por ter pego a primeira roupa que vi na frente do meu armário… Afinal, o brilho tem que ser seu, você é a estrela da noite. – Cruzei os braços e então fui andando junto com ela até a saída do shopping. – Fazer shows e músicas pra mim é mais fácil do que montar um visual bacana… Embora eu seja um magricela estiloso pra caramba. – Dei um soquinho no ar e então soltei um riso baixo, gostava de ser brincalhão e levar as coisas pelo melhor lado possível. – Você vai querer se arrumar, né? Onde faremos isso? – Questionei pronto para pegar o celular e chamar um Uber e irmos para a minha casa, talvez conseguisse até dar um jeito no visual se fosse dada a oportunidade.

– Esse está sendo um dos meus melhores dias até hoje. De verdade. – Suspirei baixinho, afinal não queria parecer clichê ou algo do gênero, precisava deixar clara a minha posição sobre tudo o que havia acontecido até agora. – Obrigado. – Agradeci, fechei os olhos e inclinei o rosto pra baixo, bem pouquinho mesmo. Novamente estava nas mãos de Eduarda, afinal para onde iríamos? – Now it’s up to you. – Dei a ela a oportunidade de escolha, ela era prioridade, eu poderia ir daquele jeito que estava mas ela precisava ter todo o brilho que a estrela mais brilhante poderia oferecer.

Com Eduarda entretida com a loja, eu conseguia pensar em mais outras coisas para fazer nos dias seguintes onde provavelmente não estaria com ela. De fato aquele dia estava sendo divertido o suficiente para que eu desejasse os próximos iguais a esse. Estaria indo longe demais com tudo aquilo? – Hm… Okay. – Respondi a garota que dizia ter perdido uma presilha. Aguardei do lado de fora enquanto observava o fluxo das pessoas naquela noite. O público parecia estar empolgado para alguma coisa, talvez alguma novidade no cinema ou um novo jogo numa lojinha de videogames. Eduarda retornou e eu procurei a presilha por alguns minutos, tentando ver onde ela havia parado, mas acabei desistindo pois não havia reparado em qualquer uma das características do objeto.

Ao questionar se estava no mínimo apresentável, eu esperava que houvesse apenas uma resposta verbal mas acabei sendo surpreendido com um gesto de carinho que me deixou levemente sem jeito. Os meus olhos quase que pediam socorro naquela situação. – Obrigado. – Respondi timidamente e então seguimos nosso caminho até um Uber onde iríamos para a casa de Eduarda, pelo menos era o que eu havia entendido. Ao chegar, havia um cachorro extremamente bonito e amigável. Adorava cachorros e adoraria muito ter um daqui algum tempo quando houvesse um pouco mais de tempo para que eu aproveitasse a companhia. – Oi! – Agachei e ofereci minha mão pro cachorro que demorou alguns segundos para devolver o gesto, fingi apertar sua pata e então levantei. – O que é isso? – Perguntei ao me deparar com uma camiseta, afinal não era uma presilha que ela havia ido buscar. – Obrigado, de novo. – Dei um sorriso tímido e então vi Eduarda preparar-se para o banho. Minhas opções se resumiam a brincar com o cachorro por alguns instantes.

– Céus… – Com um espanto na sala, me deparava com Eduarda vestida e devidamente arrumada. Observar o que a garota havia se tornado de um momento para o outro havia me deixado mais alegre e sorridente por fora. – Você está realmente muito bonita. – Levantei do sofá e tomei cuidado com o cachorro, não queria pisar por engano em uma de suas patinhas. – Assim eu vou me sentir um pouco constrangido. – Comentei com a voz diminuindo de intensidade do começo ao fim da frase. Eduarda estava muito bonita e atraente, o que eu poderia fazer para competir com ela?

– Espera um pouco... – Disse pedindo um pouco de tempo enquanto ia ao banheiro onde o cheiro doce estava impregnado e ali troquei de camiseta. Servia perfeitamente e me deixava completamente adorável como gostaria de estar sempre. Esperei alguns minutos na frente do espelho e então voltei para a sala. – Que tal? – Mostrei como a camiseta estava em meu corpo e dei algumas voltas no lugar esperando que ela fizesse algum comentário. – Acho que estamos prontos… Você está? – Aguardei a resposta para que enfim, fossemos para a terceira ou quarta viagem do dia dentro de um Uber. O aplicativo realmente era abençoado.

ENCERRADO

Feito.