Assim, não é que eu odiava ler, até porque eu até lia algumas revistas, gibis e tudo o mais. Coisas rápidas, sabe? Agora, nem tente me empurrar um livro com mais de duzentas páginas esperando que eu o devore e mude minha opinião sobre livros de uma hora pra outra, pois coisas assim me lembravam muito matérias teóricas e me dava tédio só de pensar, tanto que me encontrarem na biblioteca era algo raro, já que eu tentava assimilar todo o conteúdo estudado com algo prático. Mas é claro que eu tinha que fazer amizade justo com um nerd que me arrastava justamente para o meio das prateleiras empoeiradas - Victor Hugo, meu querido. - Digo quando finalmente o encontro numa das salas de estudo da biblioteca, já que sempre me perdia naquele lugar - Preferia muito mais o pátio de leitura... Esse lugar é muito abafado. - O garoto apenas ri do meu exagero quando retiro o colete verde claro da escola e prendo meu cabelo num coque alto, então reviro os olhos para ele - E entãao... Achou algo? - O tema do dia eram curupiras e caiporas, e prontamente o rapaz faz uma descrição detalhada do que tinha aprendido e só aceno com a cabeça, pois tinha crescido naquela cultura e vendo as criaturas de perto

- Isso... Extremamente irritantes, pode colocar aí. - Haviam muitas informações no nosso livro didático, mas nada como experiências reais para agregar conhecimento - Apesar delas serem uns demoninhos, são uns demoninhos do bem, pois só querem proteger os animais e a floresta como um todo. - Ando em volta da mesa enquanto falo, ansiosa demais para nossa próxima experiência para conseguir ficar parada - Então se já são umas pestes normalmente, viram o verdadeiro cão chupando manga quando fazem algum mal pro lugar em que vivem. - Percebo o olhar de dúvida do rapaz, no que apenas faço um gesto como se aquilo fosse só um detalhe - Ficam piores ainda, enfim... AH! E não podemos esquecer do curupira! Que agem como as caiporas e tals. Já que você leu, quais as diferenças entre eles? - Já estava habituada em diferencia-los por mais que não visse os curupiras com tanta frequência, tópico que ainda era novidade para meu colega, que olha em alguns de seus pergaminhos reciclados antes de começar a falar - Os currupirras tem mais jeit di meninos, e as caiporas de meninas. - Arqueio a sobrancelha prestes a corrigi-lo por aquele não ser o único método de diferenciá-los, mas o garoto continua a falar - Elas costumam andarrr em band, e conseguem contrrolar animais nom magiques, enquanto os currupiras som mais arrisques, andam sozinhos e podem virrar os pés à contrárrrio só para confundir os caçadorres. - O sotaque forte do garoto e sua fala rápida me obrigavam a prestar muita atenção no que dizia, e assim que ele termina concordo com a cabeça - Isso, tá ótimo. Mas não menos importante: Como afugentamos as praguinhas? - Questiono o outro com um sorriso matreiro nos lábios, tamborilando meus dedos no tampo da mesa de madeira enquanto ele tenta se recordar do que havia pesquisado, não demorando tanto para isso - Fumo e cachaçe! Está cerrt?- Mais uma vez eu aceno um sim com a cabeça, não perdendo tempo em lhe mostrar que trazia na bolsa garrafinhas de cachaça, entregando uma para o mais jovem - Nem me pergunte como consegui isso. - Falo antes que o outro pergunte, e assim tomo a iniciativa de ir arrumando os materiais para não demorarmos tanto em nossa missão - Bem, qualquer coisa aprenderemos na prática agora, tá? Se tiver alguma dúvida vamos nos falando. -

A mesa não demora muito a ser organizada novamente, e volto a guardar uma das garrafas enquanto a outra já fica em posse do rapaz - Ainda dá tempo de desistir dessa ideia, Victor. - Falo referindo-me a nossa próxima aventura enquanto caminhamos juntos para a porta da biblioteca, e diante da negativa do jovem meus olhos brilham de empolgação - Então vamos. Temos uma caipora para conhecer. - Meu tom de voz é baixo para que ninguém se implique com aquela frase, e assim juntos saímos em direção aos terrenos do castelo.