Apesar do calor insuportável, o corpo arrepiava sob o tecido fino. O quadribol sempre fora seu ópio, a constante sobre a qual se apoiava quando tudo parecia prestes a ir ao chão. Era sua segurança perigosa, sua certeza trôpega. Ainda assim, em toda sua vida, nunca pensou ser capaz de vestir a camisa de qualquer time que não o de sua Sonserina. A ausência do verde e prata maculavam os olhos, o peito dividido entre um orgulho massivo e uma indecisão inexplicável. Era confuso ter uma nova bandeira... Mesmo sabendo que esse era o único jeito de jogar.

— Jaguar. — Testou a palavra em frente ao espelho do vestiário, estremecendo com a visão do próprio corpo elevando as novas cores. Seria seu uniforme provavelmente até se formar... E não sabia como se sentia em relação a isso. — Jaguar. — Testou outra vez com mais seriedade, parecendo tentar fazer as palavras se fixarem na própria mente. Queria, com todas as forças, ser capaz de aceitar o novo time. Na verdade, mais do que isso! Precisava. Precisava com todas as forças da segurança que o esporte lhe trazia. Precisava se jogar de cabeça e deixar que as feridas da alma fossem curadas com os baques no campo.

Checou o relógio com um suspiro pesado, o olhar mais determinado que outrora. Ainda não passava de 13h da tarde. Tinha mais meia hora antes de os outros chegarem e ser forçado a retomar a compostura. Passeou tranquilo pelo vestiário, testou os chuveiros, viu os armários... Por fim deu-se por vencido, caminhando para o campo com sua vassoura, o taco e a pequena maleta das bolas. Não usou nada, claro! Largou tudo no centro do campo como um monte de tralhas, mordiscando o lábio inferior enquanto analisava as arquibancadas ao longe, as torres e os aros. Tudo parecia gritar "CASA" de uma maneira reconfortante.

Respirou fundo, alongando-se em silêncio. Deixava a mente ser preenchida com aquela paz tranquila, com aquele clamor por serenidade. Quando começou a se alongar, esticando os braços até sentir os músculos comicharem, deixou que a alma se livrasse do peso de todos os compromissos. Deixou-se espairecer, esquecendo em que continente estava, em que escola e em que situação. Tudo o que importava era agora ser capaz de ter novamente a ciência do próprio corpo e toda sua extensão. Estava flutuante e tão absolutamente mais focado!

Permaneceu assim, aquecendo-se primeiro em exercícios simples, depois em pequenas caminhadas. Podia ser um pequeno exagero seu... Mas já conhecia bem o ofício de batedor. Conhecia o zunido do balaço voando em direção aos companheiros de time, a força necessária para arremessar a bola assassina com força o suficiente para que alcance seu alvo... Conhecia tão bem cada detalhe daquele esporte maravilhoso que preferia precaver-se a passar vergonha na frente dos Jaguars. Era uma nova fase... E garantiria, por conta própria, ser capaz de superá-la.