Aula de Herbologia

Plantas Aquáticas | 1ª Aula

Se havia uma coisa que ninguém poderia negar era que as aulas estavam começando. Se eu tivesse uma vida social antes, ela teria ido pelo ralo abaixo. Os professores estavam com ânsias por aulas, passando conteúdos um atrás do outro e porque mais que fosse importante para nossas formações, era ainda assim cansativo. Sentia falta de colheres de chá que recebia nos primeiros anos. Agora não havia mais desculpas ou motivos para atrasos que fossem engolidos.

— Eu não acredito que ela falou isso. – Respondeu Becca, minha dupla e única amiga até aquele momento. — A acho incoerente com tudo, está sempre onde lhe convém! Está na cara que se juntou com o Theo apenas para ficar nas sombras do trabalho dele.

— Penso a mesma coisa. – Respondi. — Acredito que logo a máscara da safada cai. — Abaixei a voz porque Irecê passou por perto.

Estávamos na aula de herbologia e a lousa lotado de informações. Os nossos livros didáticos eram bons, mas a mente da professora era melhor. Copei o último parágrafo para o meu caderno de pergaminho e o fechei observando os vasos de plantas na minha frente.

A França para mim estaria sempre no topo do meu lugar predileto, mas jamais ignoraria que a flora do Brasil era sem dúvidas muito melhor. A terra parecia que tudo o que plantava brotava e se tornava bonito. As ervas estudadas naquela aula eram mais bonitas que as encontradas na Feirica.

Puxei o vaso de planta mais para perto de mim e comecei a conferir as classificações e também as descrições. A textura e a cor roxa batiam diretamente com a descrição de Hungherims. Ela não parecia uma folha comum, tinha uma flor que brotava no seu centro. Foi preciso muito de mim para resistir a cheirá-la, porque ela parecia realmente com algo cheiroso.

Como sempre havia um jeito correto de cuidar, onde a mesma como aquática não sobreviveria em terra.

— Professora? – Ergui a minha mão direita. — Tem alguma diferença entre água doce e água salgada para o Hungherims? – Indaguei. Prontamente Irecê veio até ao meu encontro e começou a uma nova aula sobre os efeitos da água salgada em plantas que se podia usar como poções. — Entendi. – Respondi vinte minutos depois.


— Sabe? – Perguntei conferindo o livro dado para mim na biblioteca e a minha escrita da aula passada. — Aqui tem sobre o wolfrim, mas não vi se tinha na estufa. Você viu? – Becca estava babando sobre o caderno. — Acorda! E se cair nas avaliações? E wolfrim e as outras ervas podem ser usadas na poção. – Viu a cara de lerda da amiga. — Significa que se sabermos reconhecer todas mataremos dois coelhos com apenas uma cajadada, anta.

Recebeu um olhar de desaprovação por te dito aquilo alto demais.

— Aqui no castelo temos um lugar com areia. – Falei com os olhos já iluminados. — É lindo durante o dia e acho que falta muito ainda para anoitecer. – Me levantei rapidamente da cadeira fazendo um barulho horrível que atraiu todos os olhares pra mim. — Je suis désolé! – Me desculpei em francês.

Becca ficou responsável por devolver os livros enquanto eu arrumava os nossos materiais.

Em pouco tempo fomos ao dormitório, deixamos nossas coisas. Aproveitei e troquei a minha calça por um short confortável e fresquinho. Tirei os sapatos e coloquei um tênis próprio para caminhadas. Prendi os cabelos e então somente um livro básico sobre herbologia partimos para o riacho dos botos.

—E se tiver botos, lá? – Perguntou Becca ignorando o calor e agarrando meu braço.

— Você é muito frouxa. – Brinquei. — O boto só sai na lua minguante – Parei para pensar um pouco mais naquela informações. — Quero dizer, lua nova. – Ainda não satisfeita e incerta. — Só de noite. Ele só sai de noite. – Findei tentando encontrar uma razão de tornar aceitável aquele medo dela. Como não havia simplesmente dei de ombros.

O caminho para o riacho não tinha erro. Primeiro o barulho das águas caindo era claro, segundo alguns alunos também andavam na mesma direção em busca de diversão, azaração e fazer coisas que adultos não podiam ver – como arrancar a roupa e passar vergonha.

Assim que nos vimos perante o riacho, arrastei Becca pelo braço em direção contrária aos outros estudantes. Não queria que se desse merda fôssemos pegas junto e ainda mais que eu não estava disposta a ver os rapazes passeando com suas minhocas metidas a jiboia nas bermudas marcadas pela água.

— Aqui... – Abri o livro na página marcada. — Diz que o wolfrim é encontrado nas areias. – Dei toda uma olhada geral ao meu redor. — Vamos procurar próximas as nascentes porque deve precisar de água para sobreviver, né? – Perguntei.

Abaixadas fomos procurando embaixo de cada árvore, pedra e troncos. Durante um longo tempo tudo o que vimos eram peixes enormes que deveriam ser suculentos assados. Minha barriga concordou roncando.

— Aqui! – Gritou Becca apontando para uma planta pequena com folhas verdes e aparência seca. Juntei-me a ela e por longos segundos meus olhos passavam da imagem do livro para a imagem real, conferindo todas as características. — Vamos levar para a estufa.

— Você não prestou a atenção nas aulas? – Revirei meus olhos diante de tanta estupidez. — O wolfrim só pode ser tirado da terra diante de aparelhos especializados. – Conferi no livro. — Sem chances da Irecê nos emprestar.

— Tem outra erva estranha aqui. – Falou Becca tentando catalogar com o meu livro nas minhas mãos. — Ela não me parece estranha. – Confessou.

— Estudamos sobre ela? – Perguntei também em dúvida.

— Ah, malakasvi. – Explicou ela me deixando de boca aberta. — Não chega muito perto porque ela tem dentes.

E realmente a planta parecia ter vários dentes azuis. Era uma beleza de se ver, grande e robusta. Parecia um peixe na água do riacho, presa por algumas rochas. Demorou um tempo para conseguir indentificar, mas graças ao índice a busquei.

— Aqui diz que ela é domesticável. – Respondi alegre já me imaginando tendo uma planta como pet. — E que não é carnívora e só come algas. – Cocei o queixo. — Como se alimenta um bicho desses? – Mal perguntei e Becca segura depois de todas as informações raspou alguma coisa gosmenta na pedra e decididamente jogou com carinho na “boca” da planta. O vegetal ficou imóvel por algum tempo, mas depois começou a movimentar a boca dentária como se tivesse um maxilar.

Demorou um pouco para ela ingerir o que Becca tinha jogado em sua boca.

— Aquilo que você jogou era algas ou lodo? – Perguntei vendo a aparência da planta não estava das melhores. — Bom, aqui diz que ela é só isso mesmo, não serve para poções. Vamos atrás do guelrricho? Estou fascinada com a possibilidade de respirar debaixo d´água.

No afastamos um pouco mais dali em busca de informações de onde poderíamos encontrar a tal erva especial.