A incredulidade tomou posse das feições de Helena, substituído pela raiva cada vez mais crescente e fazendo o sangue borbulhar nas veias. Era frustrante que a docente emanasse desconfiança pelos poros antes de qualquer coisa, mais frustrante ainda relembrar de toda a correria — suas pernas ainda pareciam molengas como pudim —, para nada. Lena pensava que nunca na vida se segurara tanto para não dar um soco em alguém, como se segurava naquele momento para que seu punho não fizesse o trajeto em direção ao rosto pálido de Matteo.

E mal sabia se teria força para tal.

A muito contragosto, entregou a varinha à professora, e se afastou o máximo que as paredes de madeira permitiam, os braços cruzados e as mãos firmemente fechadas em punhos para que não tremessem; tentando respirar fundo para não surtar, a Alcaide observou enquanto Bianca se adiantava e analisava os objetos antes contidos na caixa. Seja qual fosse a conclusão da docente sobre a situação no geral, nenhuma das garotas — e garoto — ali presentes ficou sabendo, pois a Torres largou os objetos, deixou as varinhas dos alunos sobre a cama de Alice e saiu do dormitório da Pegoretti.

Helena fechou a porta e se adiantou, guardando os pergaminhos, o globo, o cilindro e o frasco de poções dentro da caixa, fechando-a e enfiando a caixa rapidamente sob a cama de Alice — unicamente para o caso de qualquer outra pessoa aparecer ali. Agora, mais apreensiva do que nunca, sugeriu às amigas (estava brava demais com o Bedoya para se dirigir ao rapaz naquele momento) que conversassem um pouco e tentassem evitar pensar naquilo por algum tempo. Mesmo que ela mesma não pudesse fazê-lo. Conversaram um pouco sobre assuntos amenos, até que o cansaço realmente acometeu a todas. Lena, Paulla e Emília resolveram voltar para o alojamento dos carcará — ainda precisariam ver com Vicente como fora com Luca na enfermaria. A Martinez pegou a caixa e, juntas, as três jogadoras voltaram ao alojamento, com as colegas ainda dormindo, esconderam a caixa entre os pertences da Martinez. — Acho que devíamos dar um jeito de entregar essas coisas para a tal Alicia. Provavelmente era o que a Beatriz faria se não... — sussurrou para Emília, antes de dar o assunto como encerrado.

Como faria isso? Helena ainda não tinha ideia.