Virgílio acordou sentindo dores de cabeça naquela quinta feira. Não sabia exatamente o porque, mas sua condição provavelmente tinha alguma relação com a poção envigorante que tinha tentado produzir no dia anterior. Apesar de avisos para não tomá-la, ele havia virado o frasco mesmo assim. Sua sorte era não ter sofrido nenhum outro efeito colateral além daquele incômodo momentâneo.

A reação das pessoas nos corredores não lhe surpreendeu. Seu fedor fazia com que evitassem-no como o diabo fugindo da cruz. Mas não que ele se importasse com isso agora. Estava animado porque passaria um tempo com os amigos, mesmo que fosse durante o período de aulas. Ele adentrou a estufa massageando as têmporas e buscando ao redor pela presença dos camaradas.

Não demorou muito para encontrá-los, pois logo reconheceu suas figuras num canto conversando animadamente. Virgílio abriu um sorriso e se aproximou dos dois. O cheiro de fezes de jaquin se intensificou com sua aproximação, mas ele decidiu ignorar as caretas que o resto dos alunos fazia. Cumprimentou-os de um jeito menos entusiástico que o normal, culpa da dor de cabeça que sentia.

Os amigos conversaram durante mais alguns minutos, até que a professora deu início às atividades. Monteiro pegou alguns papéis para anotações e começou a escrever os pontos principais do que Irecê falava. Seu nível de interesse subitamente aumentou quando ela começou a falar sobre as características da primeira planta. Os hábitos da Beijo-de-Moça soavam quase como os de um de um animal, montando cuidadosamente sua estratégia para enredar sua presa. Realmente fascinante.

Como costumava acontecer em muitas aulas, a mente de Virgílio estava novamente tentando fazer a ligação do conteúdo à magizoologia. A variedade nos tamanhos da planta o deixou impressionado. Ela parecia se adaptar perfeitamente ao ambiente onde estava, seu porte sendo afetado pela robustez de sua alimentação. - Quão grandes será que essas coisas ficam? - Disse num sussurro para Felipe. Até mesmo a dor parecia ter amenizado.

O senso de percepção que a Beijo-de-Moça tinha de seus arredores era impressionante. Virgílio se perguntava como ela usava seus sentidos utilizava para detectar a aproximação de alimento com tamanha precisão. Realmente uma predadora nata. O garoto logo se esqueceu das anotações e começou a fazer um desenho da planta agarrando diversos animais. Por alguma razão tinha adicionado olhos raivosos e uma monocelha à criatura.