A aula de história da magia me deixava animado, pois há grandes coisas em nosso presente e futuro que já foram respondidas no passado, e que por isso acabam se repetindo em nosso presente. Para aquela aula, no entanto, estava nervoso. Odiava falar em público, ainda mais para uma grande quantidade de pessoas. Mesmo assim não fugi da aula, pois seria conhecimento duplo: o de falar em público e o de aprender a passar vergonha. De qualquer forma, encontrei Matteo pelos corredores e o forcei a me acompanhar naquela aula. Ele era perito em matar os períodos nos últimos tempos, e eu notara que estava ficando estanho, mas dizem que é isso que o amor faz, muda você. Agora o amor eu não sei dizer se pela Lorena ou pelo homem que ele fala mas que nenhum de nós conhece de fato. De qualquer forma, quando cheguei a aula, tomei um breve susto ao ver que não somente estava atrasado, como ainda havia diversos colegas simplesmente deitados no chão. Era eu ou a sala parecia maior? Antes que eu pudesse dar o primeiro passo em direção a sala, o professor me interrompeu com a ordem de retirar os sapatos e deixar os materiais ao lado. Era metade da tarde, depois de um dia inteiro andando com aquele sapato no calor, não pareceu uma boa ideia ficar sem calçá-los, mas era isso ou não faria a aula. Procurei um canto afastado e dei de cara justo com Paola. Recuei uns passos para que ela não me visse e nem sentisse algum possível cheiro saindo dos meus pés, mas não tinha tanto espaço então acabei com o rosto perto do dela, cada um com o corpo virado para um lado. Antes que eu pudesse dizer algo, senti os olhos pesarem e fecharem, como se não dormisse por meses.

Quando abri os olhos novamente, não estava mais na sala de aula, e sim em uma jazida de ouro! Pensando todos os palavrões quanto podia, quis colocar a mão pensando que levar um para casa em nada daria, mas minhas mãos não estavam capacitadas para pegar nada. Era como se eu estivesse tendo uma visão da qual não participo, apenas posso assistir. Então observei um pequeno sol, que na verdade era uma bola de fogo, e que fora saindo da jazida no ritmo que eu a acompanhava, e então essa bola de fogo, num piscar de olhos, se transformou em uma mulher tão bela quanto Pa... tão bela quanto uma obra de arte, vestindo um longo vestido brilhoso, de seda talvez, e com cabelos tão dourados que refletiam luz. Lá estava ela, voando pelos ares. Até que um homem se sentiu atraído por ela, e eu conseguia entender muito bem o motivo, e ela o arrastou para sua caverna, onde o perdi de vista. Em seguida lá estava ela, levando outro homem para a casa de onde este tinha vindo. Então como o lerdo que sou, percebi que estava vivenciando o conto que o professor havia solicitado na aula passada. E quando isso me ocorreu, abri os olhos e me assustei com o homem, o professor, parado ao meu lado. Olhei para os lados e Paola já não estava mais lá. O mestre então perguntou o que eu havia vivenciado. — Vi a mãe d'oro, professor. Linda, radiante, protegendo a jazida e as mulheres cujos esposos eram ruíns. Ela começara como uma bola de fogo e depois virara uma das mulheres mais bonitas que já vi. Criatura, na verdade. E foi isso. — Disse, recebendo a aprovação do professor para ir embora. Correu calçar os sapatos, juntou os materiais e foi embora. Poxa, que mulherão!