Liège, fundamentada em ideais cristãos, essa pequena cidade do sudeste da Bélgica é a junção de diversos momentos da história, de fato uma construção histórica complexa. Abriga em si as medievalidades de tempos passados, entrelaçando-se de maneira harmônica com construções modernas e tecnológicas de nossa contemporaneidade. Por se encontrar na região da Valônia, os habitantes de Liège possuem como idioma principal o francês, isso se dá devido a sua proximidade com a França, proximidade esta que molda de maneira contundente os costumes e as tradições de Liége.
A família Doneaux se origina na Bélgica por volta do fim do séc. XV, durante as intituladas Guerras de Liège, desde então se estabeleceram na cidade homônima a tal guerra. Uma família bruxa que entre os seus, a grande maioria voltou-se a medicina bruxa, medibruxos que se espalharam por toda a Europa com o decorrer do tempo. Essa hereditariedade já está em sua 17ª geração, tendo passado então as duas duas Grandes Guerras Bruxas do séc. XX. Por mais que possua sua linhagem puramente bruxa, a família Doneaux sempre esteve à frente dos embates para combater a discriminação de mestiços e trouxas, sendo assim eram constantes as discussões calorosas com as famílias puritanas.
Éloise Legrand Doenaux é a filha caçula de François Doneaux e Marie-Louis Legrand, ambos Medibruxos estabelecidos em Lìege. Éloise foi criada dentro das regras da mais fina etiqueta, a rigidez que passou dentro de sua casa fez com que Éloise se tornasse uma menina de alta pompa e garbo elegância. Aos 11 foi devidamente matriculada na Academia de Magia Beauxbatons onde permaneceu até seus 17 anos. Em Beauxbatons tomou gosto pelas disciplinas voltadas à saúde e durante boa parte de seu período ali, frequentou constantemente a Enfermaria, era um deleite para Éloise observar atentamente todos os ocorridos e as providências da Enfermaria. Ao se formar em Beauxbatons, mudou-se para Paris, onde se formou em Medicina na Sorbonne Université. O fascínio de Éloise pelas vastas possibilidades da medicina não-maj, fez com que ela se especializa-se em infectologia. Regressou em 2019 para Lìege, auxiliou seus pais por alguns meses antes de mudar-se para o Brasil, para trabalhar no Hospital Maria da Conceição.

Em toda sua imponência, o Hospital Maria da Conceição é muito movimentado, a entrada e saída de pessoas acontece em um ritmo alucinante. Desaparatando em frente ao prédio, uma jovem loira trajada com roupas brancas e os cabelos escorridos sobre os ombros, em sua mão esquerda uma pequena maleta de cor caramelo e fechos prateados. Com um caminhar sutil e elegante, ela adentrava naquelas instalações. Se deparando com o amplo hall, onde transitavam as enfermeiras, pacientes esperavam, Éloise olhava ao redor em busca de algo que pudesse se informar.

-Com licença, a senhorita precisa de ajuda? - Questionava a enfermeira com um tom doce em sua voz, enquanto olhava para Éloise

-Pardon, saberria me informarr onde fique a Ala de Infectologi? - Respondia Éloise acanhada, já que seu português era péssimo devido ao pouco tempo no Brasil.

-Senhorita Doneaux, estou certa? Estávamos ansiosos esperando sua chegada. Por favor me siga. - Convidava a enfermeira sorridente apontando para o elevador.

Éloise se sentia como uma estranha em meio a todo aquele ambiente, diálogos a qual ela não entendia. Porém, a sensação de entrar em um hospital fazia com que ela se sentisse viva, uma alegria irradiante tomava conta de seu corpo. Durante os poucos segundos no elevador ela se olhava no reflexo das portas de aço, um sorriso sincero estava estampado em seu rosto. Quando as portas se abrem, um grande corredor urge, as inúmeras quantidades de portas faziam com que aquele corredor se tornasse ainda mais faraônico.

-Siga-me Dra. Doneaux, seu consultório é por aqui. - Dizia a apressada enfermeira quase correndo por aquele corredor.

Ao fazer uma curva, aquela imensidão de corredores ainda prevalecia. Já estavam andando por bons minutos desde que haviam saído do hall de entrada. Em um movimento abrupto, a pequena enfermeira parava diante de uma porta. Voltava-se para Éloise e com um gesto cortês indicava a porta.

-Pois bem Senhorita, este é o seu consultório. Aqui estão suas chaves, em alguma eventual necessidade, não exite em chamar, tudo bem? - E com um aceno a enfermeira se despedia e voltava a seus afazeres.

Éloise se encontrava parada em frente a porta, analisando aquela porta em sua totalidade, uma lágrima podia ser vista escorrendo pelo rosto daquela jovem. Ao abrir a porta, um quase infarto. Um consultório impecável, totalmente mobiliado com móveis brancos, com grandes janelas aquele recinto era completamente iluminado e bem ventilado. A mesa estava exatamente no centro da sala, com uma cadeira giratória de couro preto, de fato aquele consultório era impecável.

-C'est merveilleux, mes parents vont adorer quand je leur montrerai. - Agora sozinha, Éloise podia falar tranquilamente seu idioma, sem precisar forçar seu português precário.

Éloise ao encostar a porta, dava pequenos saltos de alegria, a felicidade que sentia não podia ser mensurada, aquele era o seu primeiro consultório, aquela era a primeira que de fato iria exercer sua profissão de forma independente, sem a tutela de seus pais. Deixava sua maleta sobre a mesa, com seu celular tirou diversas fotos e encaminhou para seus pais. Em pleno êxtase a jovem não viu o tempo passar e de forma inesperada sua porta se abria.

-Olha a limpeza! - Era aquele grito estridente que se ouvia ao abrir repentino da porta.

-Perdão Doutora, não sabia que a senhora estaria aqui neste horário, eu volto mais tarde. - Continuou a moça ao ver que havia constrangido a jovem doutora.

-Nom porr favorr fiquê, eu acabê me perrdendo no tempo. Ten-ô que irr entregarr mons documents. - Assustada respondia Éloise totalmente corada.

Pegando sua maleta, Éloise se retirava de seu consultório, ou melhor da, da sua segunda casa. Pedindo desculpas e se despedindo, ela saia correndo na expectativa de encontrar o COMASUL aberto para que pudesse entregar os documentos de sua imigração.