orri desesperadamente até os ninhos do castelo e tomando extremo cuidado para não ser visto por ninguém, até mesmo pelos malditos guaranás. Após ver a publicação no WG do Roberto Farias esse foi o meu primeiro ímpeto, correr. Como se não bastasse as declarações do tal Círculo, agora mais essa. Eu estava tendo uma péssima impressão sobre tudo aquilo, mas eu precisava agir de alguma forma, pois aurores estavam vindo para Castelobruxo, e a morte da Beatriz pode não ter nada a ver com a vinda deles, mas com certeza poderiam fazer algo a respeito e com certeza fariam. Eu que não deixaria a merda respingar em mim de forma alguma. Fiz um rolo com a carta que estava endereçada ao Ian Ruzzo na COMASUL e usei uma caligrafia muito diferente da minha para escrevê-la, afinal, não queria ficar com a fama de x-9 novamente. Procurei uma arara azul e antes que pudesse colocar a carta nela para que fosse entrega, tive um vislumbre do episódio que deu início a todo esse meu desespero.


Meu sentimental era como um mar e no momento as águas estavam mais tranquilas do que antes, porém, ainda assim eu não me sentia bem. A diretora não quis me liberar, e eu achei justo. Por mais que eu não estivesse me sentindo muito bem, eu não poderia simplesmente dar às costas para a investigação e voltar para o meu dormitório como se nada estivesse acontecendo. Um membro do STB estava ali! Eu não poderia simplesmente me sentir mal e ir embora, mas eu não estava bem, de verdade e isso era nítido.

Acompanhei o Sr. Ruzzo e os aurores para a outra sala e engoli em seco. Eu queria saber o motivo deles estarem marcando tão pesado em cima de nós, alunos. Sabe, somos apenas crianças que estavam no lugar errado e na hora errada, todos já haviam ouvido isso, então por quê? Por que nos encher de perguntas sendo que claramente não temos as respostas? Isso era tão desgastante físico e emocionalmente que eu nem sei explicar. Minha cabeça não parou de funcionar nem um minuto desde que saí daquela droga de buraco e agora mais essa! Eu não quero me meter em confusão nunca mais em minha vida. Da próxima vez que eu ouvir que há alguém em perigo, eu vou fazer como a Alice fez, chamar algum adulto e ele que lute para resolver, pois desde que os aurores chegaram não vi nenhum deles fazendo perguntas à diretora e a coordenadora da instituição. Elas sim são pessoas que devem saber mais do que nós. Eu sequer conseguia conversar com as pessoas enquanto aguardava minha vez de ser interrogado. Eu havia usado minha habilidade para tentar dar uma apaziguada nos meus sentimentos, mas foi muito pouco efetivo. Eu ainda estava um pouco eufórico, querendo sumir e principalmente dormir. Eu estava sem foco, mas aos poucos enquanto as pessoas iam depor eu usava esse meio tempo para me acalmar. Parei, respirei fundo e concentrei apenas na minha respiração como sempre. Eu já estava acostumado com esse tipo de coisa, eu tinha crises de pânico quase sempre quando era mais novo, justamente por conta do meu dom, mas eu ainda não sabia disso. Eu tentava me desligar de tudo e principalmente caminhar para locais mais calmos e foi o que eu fiz. Saí um pouco pelo corredor para tomar um ar e vi Thiago retornando enquanto comia uvas. O ignorei porque não queria que ele visse minha cara e viesse tentar me questionar sobre qualquer coisa, então só virei para o lado oposto e me pus a caminhar ouvindo-o cantarolar Ocean Eyes. Massageei minhas têmporas e encostei o ombro na parede esvaziando minha mente e tentando deixá-la o mais limpa possível. Eu precisaria de foco para conseguir encarar o auror chefe e um membro do supremo, eles nos encheriam de perguntas até que tropeçássemos em alguma delas. Para os outros como Thiago e Liandra era fácil, pois eles realmente não tinham muito a ver com o caso. Mas para nós que vimos o corpo de Beatriz na clareira, o buraco era muito mais embaixo. Não haveria espaços para erros, muito menos descontrole emocional. Agora era o momento de ser preciso, então serei.

Quando retornei à sala meu nome foi chamado. Entrei de cabeça baixa e cumprimentei a todos com um simples aceno de cabeça, acomodando-me na cadeira diante de todas aquelas figuras importantes. O mar sofreu uma leve turbulência. ― Sim, não estou muito bem, de fato, mas irei melhorar. ― Praticamente murmurei a resposta para Ian, torcendo a boca e me acomodando melhor na cadeira. Ele iniciara a bateria de perguntas e eu tentei acompanhar o máximo que eu pude, prestando atenção em cada palavra que ele dizia e ao mesmo tempo concentrando-me para não vacilar. ― Hum... como já foi dito por todos que estiveram aqui, creio eu, foi exatamente isso. Estávamos eu, minha irmã gêmea e Thiago no pátio quando ouvimos um grito que parecia ter vindo da parte de trás do castelo, então nós logo pensamos na clareira, porque lá já tinha histórico né, mas nós acabamos descobrindo que foi perto do lago porque outras pessoas ouviram também e já estavam rumando para lá. Foi aí que nós encontramos a situação chatíssima a qual nos enfiamos. Nosso intuito era ajudar, ouvimos um pedido de socorro e fomos, só isso, acho que já devem ter repetido muito isso. ― Por falar nisso a Mavis simplesmente sumiu depois do ocorrido. Não lembro de tê-la visto nem hoje pela manhã e nem depois da enfermaria ontem. Será que ela estava bem? Bom, espero que sim, de qualquer modo não posso me preocupar com ela agora, eu precisava me concentrar nas perguntas do Sr. Ruzzo, pois ele acabou de pisar num terreno que para mim era perigoso demais: Beatriz Rodríguez. ― Não, eu... eu não tive contato com a Beatriz. Eu entrei n'O Globo esse ano, mas os estagiários de lá não atuam na instituição, eles ficam em Castelobruxo e enviam as matérias pra galera da revisão que dão o aval e aí se tiver ok a matéria é postada, senão pedem pra editar e tudo mais. Então eu nunca poderia ter tido contato com ela, porque além da pauta dela ser muito diferente da minha, eu não ia até O Globo de Cristal com frequência, então... Creio que não posso responder certas coisas acerca do comportamento dela e tudo mais. ― Eu não tive contato nenhum com Beatriz, mas ainda assim parecia que eu tinha alguma ligação com ela, não sei. Eu ainda não sabia muito sobre ela, mas estava disposto a descobrir um pouco mais, pois ela parecia um pouco comigo. Jovem, curiosa e com predisposição a meter-se em confusões por conta de um furo jornalístico. Não me surpreenderia nada se eu tivesse um fim como o dela.

Em minha cabeça eu estava me saindo bem e eu já conseguia até mesmo ficar um pouco mais calmo a ponto de voltar ao meu mood normal: o deboche. Umedeci os lábios, inclinei o corpo pra frente e esfreguei a palma das mãos animadamente.― Já posso ir? ― Ér... pelo visto não. Uma auror que eu não conseguia lembrar o nome começou a fazer-me perguntas e eu encostei na cadeira novamente revirando os olhos. ― Eu fui contratado no final de Fevereiro, mas como eu já disse eu não tive contato algum com Beatriz. ― Respondi um pouco atravessado, mas sua pergunta seguinte me fez eu arquear uma sobrancelha e a encarar de forma desafiadora. Aonde ela queria chegar? Aquela pergunta de fato era intrigante, mas até onde eu sabia a falecida estava envolvida em um documentário sobre caiporas, não? Bem, ao menos foi o que o Miguel disse a todos na sala, provavelmente deve ter dito a eles também, o que ela queria insinuar? ― No sé, la directora de O Globo de Cristal sigue aquí, ¿no? ― Ela saberia responder a esta pergunta melhor do que eu que sou um mero estagiário. O Globo costumava fazer esse tipo de coisa, igual quando encontraram o corpo da jornalista e enviaram a colunista de notícias para cá sendo que eu já estava aqui como correspondente. Às vezes eles duvidam da capacidade dos mais jovens, mas naquele caso eu dei graças a Oyá por Morgana ter pego a notícia, pois eu não sei se teria psicológico para trabalhar naquela coluna sendo que mil outras coisas estavam rolando simultaneamente em minha cabeça.

Aquela mulher estava me testando? Ela estava tentando me puxar igual elástico pra ver se eu arrebentava não é? Então seria exatamente isso que eu iria fazer, iria arrebentar na mão deles e causar uma puta dor que eles nem imaginam. Estreitei os olhos e encarei a auror que não tinha tanto tato quanto o Sr. Ruzzo e nem fazia questão de ter. ― Ela estava trabalhando em um projeto, um documentário, era algo dela e só por isso ela estava aqui, então não se preocupe com a qualidade do meu trabalho, moça. ― Dei um sorriso convencido e cruzei as pernas finalmente relaxando na cadeira. Encerrado as perguntas, fui liberado assim como os outros.


Depois daquele dia eu sabia que as coisas só iriam piorar, eles pressionariam as pessoas até elas dizerem o que eles queriam ouvir, eles iriam com tudo para cima dos elos mais fracos, mas eu aprendi a me fortificar nessas férias e a principalmente atacar antes de ficar apenas sentado esperando as coisas acontecerem. Eu iria mostrar àquela auror sonsa que o estagiário aqui poderia trabalhar melhor até mesmo que a COMASUL. Eu havia demorado a soltar a informação, mas agora com todo esse boom, é bom aproveitar principalmente que os aurores estão vindo para Castelobruxo e soltar logo essa bomba pra cima da Confederação e ela que lute para lidar com isso. Estava na hora de soltar o elástico numa ponta e ver o quanto iria doer na outra. Amarrei a carta na arara azul. ― Entrega essa carta pra COMASUL, bichinha, vai, vai. ― Ela parecia até compreender o que eu dizia, e assim que prendi a carta nela, ela alçou voo. A observei afastar-se e mordi meu lábio inferior. Com certeza saberiam que a carta havia vindo daqui ou não, afinal quem usa cartas hoje em dia. Mas enfim, espero que Ian receba e somente ele e não outra pessoa. Não que eu confiasse nele, pois a caixa dizia que éramos para não confiar em ninguém. Pois bem, não confiarei. Com sorte eles ainda chegam na Bianca sozinhos, pois eu vou atrás da verdade por mim mesmo a partir de hoje. Eu quero saber o que rolou com a Beatriz e principalmente o que ela veio fazer aqui em Castelobruxo, porque essa historinha de documentário não colou para ninguém. Voltei cuidadosamente ao castelo a fim de retomar minhas atividades como o bom adolescente normal que eu sou. Longe de suspeitas, claro, como sempre.

Carta: