Haviam dias em que estava mais introspectiva, ainda mais se os dias que se seguiam eram incertos e cheios de mudanças. De certa forma gostava de segurança e monotonia, mas a vida me obrigava a ver além das fronteiras que havia posto diante de meus olhos, a aceitar os fatos. Eduardo havia voltado para a Itália, e mesmo querendo ver o crescimento de meu irmão já havia me acostumado com sua presença, e sua volta repentina foi algo bem desagradável. Mantínhamos o respeito e amor fraternal, mas isso seria bem mais fácil se o moreno continuasse em terras brasileiras. Os negócios iam bem, grandes coisas estavam por vir, e na ansiedade de preparar tudo acabei passando noites em claro, organizando tarefas de um mês em uma semana, o que agora me deixava sem ter o que fazer no escritório. Hora ou outra subia para a loja, e não tendo muito movimento só me restava tomar uma xícara de chá e voltar para meu casulo abarrotado de papeis e mais livros, embora não tivesse ânimo para fazer nada além disso.

Tinha também meu projeto ultrassecreto, e esse pensamento desperta novamente uma dúvida em meu coração: Devia seguir com isso? Ou seria melhor continuar sendo apenas uma humilde proprietária de livraria apaixonada por literatura? A dúvida me perseguia toda vez que abria em meu notebook uma nova página em branco, ideias fluindo a mil por hora enquanto os dedos continuavam paralisados no ar acima do teclado. Nem lembrava quando foi meu primeiro contato com livros, mas desde aquela época sabia que um dia escreveria pelo menos um, nem que fosse para mantê-lo tão secreto como um diário embaixo de minha cama, e os pensamentos de infância acabaram por trazer novamente a inspiração que necessitava para finalmente começar a digitar o que um dia esperava ser talvez publicado e reconhecido, embora ainda sem ter a certeza se isso aconteceria.