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Ϟ Uma Magia Ancestral começa a ser despertada. Poucos percebem esse fato, e dentre eles, até então, ninguém sabe dizer onde, como ou por que motivo. Será que vão descobrir?
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Data: 15/02/2021, por volta das 13 horas.
NC
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O velório silencioso e vazio, não parecia nada com ela, mas o rosto pálido por trás do vidro não deixava dúvidas: sua irmã estava morta e não havia nada que pudesse fazer a respeito. Os olhos fundos e caídos do Beaumont focavam o solo arenoso que circundava o riacho dos botos enquanto sua alva vagava em busca de acalento, como ele queria ser um bruxo sensitivo pra poder conversar com sua irmã. Tentar entender o que aconteceu, colocar o papo em dia. Quanta falta sentiu nessa semana sem ligações, sem rir das palhaçadas da menor, sem ouvir sua voz ou ver seu rosto. E quanta falta ainda sentiria até o último dia de sua vida... A única pessoa que lhe amava estava morta, e, ele, sozinho.
Uma lágrima caiu sobre a página seca do livro de magizoologia aberto sobre suas coxas e ele voltou a si. Estava sentado à copa de uma árvore qualquer lendo sobre os pais-do-mato, será que Aurora conheceu algum na vida? Provavelmente não. São raras as pessoas que vivem na mata e veem o animal devido a sua grande habilidade de camuflagem, e a Belenus estava no Brasil a apenas dois anos, não teria como conhecer. Guto secou os olhos e levantou a cabeça, com um forte suspiro de pesar e viu que alguém se aproximava dali.
—Mas você tem certeza de que era ele? — Perguntou Vicente, falando na língua do sagui-leãozinho que o acompanhava entre as árvores nativas do pátio de leitura. Estava satisfeito com a forma com que as palavras fluíam naquela nova lígua. Bastara um toque, um breve contato com o pelo macio do animal e, voilà! A língua do primata se tornara simples de compreender e de falar. — Era mesmo um pai-do-mato? Você sabe, eles são ótimos em se camuflar, e é bem difícil de alguém ver algum por aí.
—Sim, é claro que sim. — A voz do primata diminuto soou bem no ouvido do Carcará, uma vez que se empoleirava em seu ombro. — Tinha tronquilhos por toda parte, debaixo das placas de madeira do seu corpo.
—E como você sabia que eram tronquilhos, e não só brotos balançando com o vento? — Continuou o interrogatório, arqueando as sobrancelhas e olhando o sagui de soslaio, com a expressão divertida. Gostava da companhia dos animais quando saía em busca de uma sombra fresca pra estudar. Primeiro porque alguns deles se tornavam bons amigos quando descobriam que Vicente podia entende-los e falar com eles, e segundo porque eram mais espertos que qualquer humano, e percebiam qualquer sinal de perigo. Desta vez, estavam no pátio de leitura e o pequeno primata, que dificilmente descia da copa das árvores, se interessara pelo lanche do carcará— uma banana maçã. Então tinha se aproximado e, quando Vicente contou o que estava estudando naquele dia, acabou ficando.
—Porque eles não chacoalhavam com o vento, humano, eles saltitavam pelo corpo grandalhão do pai- do- mato. — O Sagui contou, passando a remexer no cabelo do garoto, procurando por piolhos. Honestamente, era melhor que não achasse nada. — Eu não fiquei olhando muito, fui logo embora.
—Eu também iria se fosse você... Eles não são criaturas más, mas um movimento inesperado pode...— Assustar, ele diria, mas foi interrompido por uma figura sentada à copa de uma frondosa árvore. A primeira reação foi espanto. A mata que cercava a escola era cheia de criaturas, e nem todas gostavam da presença dos humanos. O próprio sagui-leãozinho se assustou, e saltou do ombro do carcará para o galho da árvore mais próxima, com um guincho baixo, mas estridente.
O instinto de Vicente fez a mão buscar a varinha no bolso da calça, mas nem sequer chegou a sacá-la. Era Auguste que estava ali.
As notícias haviam corrido rápido, estampado o globo de cristal e ecoado pelos corredores da escola. Todo mundo já estava sabendo de Aurora àquela altura, bem como sabiam que Auguste era seu irmão. O Ventura não sabia bem como era perder alguém. Tinha perdido os avós, é verdade, mas ele era tão pequeno que nem se recordava do sentimento. Agora lhe restavam saudades e lembranças, mas não havia dor. Mas, pela forma como os olhos do francês pareciam anestesiados, era certo que a perda era recente demais para que a dor já tivesse sido enterrada.
—Esse lugar está ocupado? — Perguntou, desta vez em português mesmo, apontando com o queixo para o lugar ao lado de Auguste. Estavam sob o feitiço tradutor de Castelobruxo, certo? Ele e Guto tinham se falado pouco, somente na ocasião da ida para a escola e algumas vezes nas aulas, já que frequentavam as mesmas, e o francês não parecia saber muito da língua portuguesa. MAs, por sorte, Castelobruxo era uma boa anfitriã.
Sentou-se, pousando o livro de Verônica e Kala ao seu lado, e apoiou as mãos nos próprios joelhos.
—Aqui é bonito, né? — Afirmou, depois de algum tempo em silêncio. —Duvido que a França tenha um pátio de leitura como esse. Ou... — Esticou o pescoço para ver o conteúdo do livro de Guto. — Um pai-do-mato.
"Assimilação linguística": Consegue aprender qualquer língua humana e animal perfeitamente, apenas com algum contato físico.
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A não ser que você tenha tido uma sorte rara, raríssima, na vida, certamente já terá passado por experiências que o fizeram chorar. Ou seja, a não ser que tenha tido essa sorte raríssima, é de se imaginar que já saiba que uma boa sessão de choro é capaz de melhorar o ânimo, mesmo que as circunstâncias se mantenham as mesmas.
É claro que Vicente não diria aquilo a Guto. O garoto parecia desconfortável o bastante com o fato de que seu rosto estava tingido por um cor-de-rosa vibrante e os olhos parecendo o riacho dos botos sob o sol. Muito provavelmente, o tom distante da sua voz significava mais do que apenas letargia, mas trazia junto o desejo de ficar só, ou quem sabe o sentimento da solidão. Eram coisas distintas e, enquanto a primeira podia ser inofensiva, a segunda era de alto risco.
A morte de um ente querido devia ser uma coisa estranha. Como subir uma escada no escuro, e achar que tem mais um degrau, quando na verdade não tem. E então seu pé afunda no ar e acontece um grande momento de susto, um pânico instantâneo, que vem tão rápido que nem sequer há tempo para se preparar. Mas é claro, isso era a sua percepção. Um juízo de quem tinha medo de perder sua pessoa mais importante e, por isso, evitava pensar na morte.
—Estava vindo pra cá, para tentar estudar.— Confessou, enfatizando a palavra “tentar” em sua sentença. Deixou escapar um riso fraco, na forma de um suspiro, e levantou o livro de magizoologia como uma confissão, mas logo o pôs de lado. — Você vai perceber que não sou muito bom nisso de estudar. Mas eu te vi aqui, e você parece estar estudando. Pensei em... Bem, sei lá.— Admitiu, dando de ombros. Não tinha pensado, só tinha feito.— Você se importa? Fico em silêncio.
E até tentou, quando Guto concordou. Abriu o livro, apoiando o exemplar nas próprias pernas. Mas, por alguns instantes, encarou as letras como se não soubesse ler. Às vezes, não importava quanto ele sabia das palavras ou quão fácil elas se abriam pra ele. Em certos momentos, ele perdia toda sua capacidade de lê-las. Acontece que tinha algo preso na garganta, algo que não era simples de dizer, mas que precisava. Mais que isso, que sinceramente queria.
_ Je suis désolé pour ta sœur.¹ – Disse, dessa vez sentindo as têmporas formigarem com o câmbio das línguas. De alguma forma, quis levar um pouco da sensação confortável de casa até o francês enlutado. Foi sincero e tentou transparecer o que sentia nas palavras. Passou mais alguns segundo encarando as próprias mãos, mas então girou a cabeça para ver o garoto. – S'il y a quelque chose que je peux faire pour vous ...²
Sustentou o olhar de Guto por alguns segundos, mas logo dispersou. Certamente havia tanto a ser feito, mas respeitar seu espaço estava na lista. Abriu o livro nas páginas iniciais, e voltou a ler o conteúdo sobre o pai-do-mato, o mesmo que o francês lia. Embora houvesse certo constrangimento pairando entre os dois setimanistas, Ventura não achava que a solidão era a melhor saída em momentos de tristeza. Podia até estar quieto, mas de alguma forma, estava ali. Depois de algum tempo, ergueu a cabeça e franziu as sobrancelhas.
—Não é louco como uma criatura que faz fotossíntese tenha força o bastante para defender uma floresta? – Perguntou, quebrando o silêncio e pensando no que havia acabado de ler. – E o grau de periculosidade é altíssimo! Você já ouviu falar dos Maire-Monans? Será que são relacionados de alguma forma? Os dois tem a habilidade de mudar a forma com vegetação...
1- Eu sinto muito pela sua irmã.
2- Se tiver alguma coisa que eu possa fazer por você...
"Poliglota I": Possui a habilidade de ler códigos escritos em até cinco alfabetos e idiomas humanos perfeitamente (informar quais são para ser colocado na lista), mas fala e escreve com certa dificuldade as línguas animais e as muito antigas. Decifra códigos com muita dificuldade.
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Seus olhos baixaram para o livro novamente, buscando a frase em que havia parado no meio da página para continuar a leitura antes de comentar com o colega a respeito da disciplina. O ar se enchia apenas com o canto dos pássaros ao longe e a respiração pesada do garoto ao seu lado que — de certa forma — lhe incomodava por; primeiro, tirar seu foco da leitura; segundo, fazê-lo ter pensamentos que não devia ter enquanto enlutado. Certo que ainda era apenas um adolescente com hormônios a flor da pele, mas o simples fato de pensar lhe fazia sentir ainda mais culpado... A frase dita por Vicente fez os músculos do corpo do Beaumont se enrijecerem. Ele podia ler mentes?
Ambos voltaram a ler o conteúdo de seus livros novamente. Guto demorou mais um pouco, fingindo ler, para colocar a cabeça de volta no lugar. Estar sozinho era bom, mas estar com Vicente era, de alguma forma, melhor. Não é como se fossem melhores amigos ou ao menos conhecidos de longa data, mas ter alguém ali o impedia de afundar dentro de si como planejava. E Vicente era a segurança de que, se afundasse, teria alguém para segurar a mão.
Magizoo. Não era a primeira vez que ouvia a abreviação da disciplina; ele mesmo dizia as vezes, mas em nenhuma delas a palavra tinha soado como soara ao ser dita por Auguste. A pronuncia afetada pelos resquícios de um sotaque e a forma tão comum de se contrair os lábios franceses formando um pequeno “o” fizeram a expressão compenetrada do carcará cair por terra.
O rosto se iluminou, um sorriso quis ganhar espaço em seu rosto, fazendo surgir as covinhas nos cantos da boca e os olhos escuros se encolherem, ainda que o menino tenha tentado dissipar a sensação.
—Magizoo. — Tentou imitar Auguste, arqueando as sobrancelhas brevemente, e sem conseguir conter o riso dessa vez. Ainda não eram grandes amigos— honestamente, se conheciam há tão pouco tempo que Vicente teve medo de ser cedo demais para fazer brincadeiras, especialmente considerando o momento em que Guto se encontrava. — Não, os seres fantásticos não são abordados em magizoo. — brincou, uma última vez com a palavra. — A gente estuda um pouco da história dos seres quando estudamos diferentes sociedades em história da magia, e acho que em algum momento eles foram abordados em magizoologia também, mas mais superficialmente. Na real que ninguém tem muita informação sobre eles, eu acho... Ou se tem, acho que restringem as informações.
O interesse de Guto pelas criaturas parecia genuíno, e de fato devia ser. Ele acabara de chegar num país cuja fauna mágica era excepcional em relação à de qualquer outro lugar. Além disso, a julgar pela carreira da irmã que havia perdido, Auguste devia ter sido positivamente influenciado, assim como Aurélia o tinha influenciado a gostar da botânica.
—Você quer trabalhar com isso? Ser um magizoologista? — Perguntou, repousando o livro no colo mais uma vez naquele dia. Embora ele ainda quisesse aprender um pouco mais sobre a criatura até o fim daquele dia, conhecer um pouco mais de Guto parecia ter tomado a frente de suas prioridades para aquela tarde.
Reclinou a cabeça, olhando para o garoto. Havia sido pego em sua própria afirmação, mais cedo. Auguste tinha razão, embora parecesse ter jogado verde— ele não gostava de estudar, hábito esse que não era socialmente aceito. Não gostava de ter que aprender as coisas no papel ou em aulas teóricas. Entendia a necessidade de se preparar com a teoria para encarar a prática, mas isso não tornava o processo menos penoso. Talvez fosse esse o motivo de não se sair melhor nas aulas, ele estava sempre pulando uma etapa.
—E você tá certo, eu não gosto de estudar na maior parte das vezes. — Dando de ombros, confessou, sem qualquer resquício de constrangimento. —Mas às vezes, estudar pode ser surpreendentemente bom.
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— Restringem as informações? — perguntou incrédulo. Como uma escola de magia situada em um país conhecido por sua extensa fauna e flora restringiria informações sobre seres mágicos? Não lhe parecia certo. — Uma pena... Queria poder aprender sobre eles. — admitiu e deu de ombros, voltando o olhar para as páginas do livro aberto sobre seus joelhos, afim de evitar olhar para Vicente por muito mais tempo. Mal conseguiu encontrar o lugar onde parou sua leitura e foi interrompido pelo Ventura novamente. Normalmente Guto deixaria bem clara a sua intenção em estudar para quem quer que fosse, a famosa sinceridade francesa, mas algo no carcará começara a despertar no Beuamont o desejo de deixar o estudo para outro momento.
Será que ele percebeu o desejo — e talvez vocação — de Auguste apenas por seu interesse na disciplina mágica? Provavelmente sim. — Sim. E esse foi um dos motivos pra eu ter escolhido o intercâmbio para cá. — respondeu, evitando citar a principal motivação que agora já não existia mais entre os vivos. Até então a conversa estava sendo feita de altos e baixos. Houveram momentos de riso e de tristeza, mas, aos poucos, Vicente se mostrava mais a vontade e sem pisar em ovos frente a situação em que o estrangeiro vivia. — Quais são seus planos? — perguntou fechando o livro para mostrar interesse. O dedo indicador de sua mão marcava a página para retomar caso o outro resolvesse sair. — Vou adivinhar... Jogador de quadribol profissional! — concluiu. A julgar por seu porte físico e posição atual dentro da escola, essa era a possibilidade mais provável. — Quer dizer, olha pra você, é capitão do time, então acho que é isso, né? — perguntou em tom mais baixo dessa vez. — Sem contar que você admitiu que não gosta muito de estudar... Não que pra ser um jogador não seja necessário estudo, mas é que...
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