Iniciei o estágio em Castelobruxo no início do meu sexto ano letivo. As pessoas próximas a mim questionavam minha escolha, já que sabiam que a carreira de docente não era cogitada por mim. Dentre as opções possíveis, escolhi a que eu considero mais difícil. Não gosto de menosprezar as outras áreas, mas minha tarefa é diária, tendo pausas somente durante os períodos de provas. E por que escolher um trabalho que me rouba tanto tempo livre? É bastante simples. Acompanho os funcionários da escola em algumas de suas tarefas, ajudo a enfermeira quando ela está cheia de trabalho, nas raras ocasiões em que a diretora solicita algo, lá estou, e geralmente o que mais faço é acompanhar professores na coleta de itens e até defesa de algumas criaturas nos terrenos. Não existe uma área específica, eu tenho aprendido sobre tudo. Coletar plantas, lidar com criaturas, ajudar no preparo de poções, identificar utilização de transfiguração… meu trabalho aqui me favorece nas mais diversas áreas de conhecimento e vai me formar uma bruxa com o conhecimento prático elevado e amplo. Essa era minha motivação para os dias de folga que, diferente dos meus colegas, eu não podia descansar.

Foi assim naquele domingo. Estava terminando de almoçar e fazendo planos para passar a tarde com meus primos quando fui chamada pela professora de poções. Além de linda e dona de uma voz apaixonante, a senhorita Cavendish também era muito inteligente e parecia muitíssimo interessada em ser uma excelente profissional. Nós ainda não havíamos trabalhado juntas, então eu queria impressionar. Quanto mais gostasse do meu trabalho, mais oportunidades de aprender com ela fora da classe eu teria. Ela precisava de erva de anis, cujo estoque estava sendo esvaziado pela enfermeira para poções antídoto contra envenenamentos. Duas coisas se fizeram claras naquele momento: eu passaria a tarde de domingo procurando ervas, e precisava ficar mais atenta as fofocas para descobrir o motivo desse aumento de alunos carecendo de tratamento para venenos comuns.

Resolvi iniciar meu trabalho indo até a biblioteca e procurando edição do livro Plantas mágicas e suas funções vol. 1, de Magda Flores. Não era nenhuma planta potencialmente problemática, mas levando em consideração que fazia muito tempo desde que eu tivera aula sobre as ervas, achei prudente não arriscar. Teria de passar nas estufas de herbologia para pegar um par de luvas feitas de tentáculos de anêmona. Outra vantagem desse estágio é poder usar dos recursos oferecidos pela escola sem toda a burocracia que um aluno regular enfrenta. Por sorte eu já estava vestida com as vestes de campo, de forma que passar no meu dormitório e acabar caindo na cama e dormindo sem querer não iria ocorrer. Munida de varinha, luvas especiais e até um óculos de proteção – se essa planta pode deixar o nariz dormente, por via das dúvidas vai ficar bem longe dos meus olhos, prendi o cabelo em um rabo de cavalo e parti em direção a clareira. Minhas aventuras sempre começam por lá, e essa não seria diferente. — Ok. De acordo com o livro e com as aulas de herbo, estou procurando uma plantinha que pode ter até setenta e cinco, raiz afilada e caule ereto. Ou seja, vou me basear nas fotos. — Dei uma boa rolada de olhos pois odiava não saber das coisas, ainda mais as importantes, mas poções sempre me deixou mais preguiçosa que o normal. Agora eu pago o preço. — Foco, pequeno gafanhoto. Não posso esquecer que funcho e anis são coisas diferentes. — As flores do funcho são amarelas, a de anis são brancas e tem as sementes mais arredondadas. — Oh, pai, me ajuda aqui! — Se eu fechasse os olhos poderia me ver com nitidez pegando a planta errada e a transformando em uma erva que não ficaria azulada. Não, hoje não. Calcei as luvas conforme ia me aproximando da clareira, primeiro porque mesmo sendo a erva que gera dormência, talvez eu encostasse na planta errada e acabasse pior. Foi aí que eu comecei a me afastar da clareira em si e começar a buscar por locais com vegetação mais rala, onde provavelmente eu teria meu duelo de funcho contra anis.