Tudo pronto? Cheguei a bolsa três vezes seguidas para ter certeza de que não estava esquecendo nada antes de aparatar em Porto Belo. Você deve estar se perguntando o que é que fui fazer na cidade praiana tão apressado. Então, foi emitido um alerta ao hospital — que mais soou como um pedido de socorro — por parte da Reserva Natural de Porto Belo. Aparentemente um Salamandroso havia arranhado um dos pesquisadores e, por isso, tudo foi isolado. Se eu sabia o que é salamandrose até dois minutos atrás? Deixa baixo né. Na rápida pesquisa que fiz antes de partir, vi que trata-se de uma doença infecciosa cujo curso é devastador, e se propaga pelo ar. Portanto, máscara nelas.

Meus pés tocaram a praia de Porto Belo, em frente à reserva r me apressei para entrar. Já na porta, tratei de usar todos os equipamentos possíveis para prevenir a contaminação. A última coisa que o Maria da Conceição precisava naquele momento era um medibruxo contaminado. Olha lá, eu me chamando de medibruxo, bicha iludida. Jaleco, luvas, duas máscaras e óculos. O uso de touca era dispensado né? Não é como se o vírus fosse entrar pela minha cabeça. — Boa tarde, pode me dizer o que aconteceu? — perguntei à recepcionista que me explicou tudo o que sabia nos mais sórdidos detalhes. Gostei da moça, mas podia ter me poupado tempo.

— Meu nome é Julio Torres, vim para ajudar. Como se sente? — perguntei ao homem ferido deitado na cama do dormitório ao qual fui guiado pela recepcionista. Bem, a julgar seu estado físico, tudo estava bem... Com exceção aos olhos fundos, mas isso não era sintoma da doença. — Vou começar tratar sua ferida, ok? — perguntei, mas não obtive resposta verbal. Quando tirei a coberta de cima de seu corpo a ferida em sua panturrilha se revelou inflamada. — Tergeo. — o conjuro foi feito com a ponta da varinha desenhando sobre a ferida aberta, mas sem sinal de sangramento.

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Sucesso na limpeza, a aparência da ferida estava melhor. Como é que não fizeram aquilo antes, pelo amor? O homem estava agonizando com uma lasca de unha do bicho dentro da ferida. — Tudo bem aí? — perguntei ao homem, Henrique o nome, que gemeu quando o fragmento da unha se desprendeu da ferida e caiu sobre a cuba metálica que eu havia posicionado previamente. De minha mochila retirei alguns dos suprimentos que havia trazido comigo do hospital, um frasco de poção limpa feridas e algumas bolas de algodão. A poção foi despejada na ferida e escorreu até a cuba e em seguida comecei a tocar o corte com os algodões encharcados com a ferida para acelerar a ativação dos efeitos da poção. Era um procedimento indolor.

— Então, Henrique, como isso aconteceu? — era importante manter um diálogo com o paciente para distraí-lo da possibilidade de dor, ou nervosismo diante dos procedimentos realizados. Ele respondeu sem muitos detalhes. Aparentemente, apesar de ser uma espécie bem calma e dócil, o salamandroso em questão estava estressado pela manhã e acabou ferindo seu cuidador. Um detalhe importante: não foi a primeira fez que isso aconteceu. "— Asclépio." — conjurei de forma não verbal, com a varinha apontada para a ferida assim que finalizei a limpeza de todo sua parte interna e entorno.

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— Olha, novinho em folha. — a tentativa era de animar o ferido, mas ele já havia visto aquele processo. Soube que Theodoro, um antigo magizoologista da confederação teve que se afastar de seus deferes e decidiu se isolar permanentemente para aguardar o curso natural da doença. Uma pena não querer buscar tratamentos. Ok, sei que é tudo muito novo e não existem tratamentos corretos, mas segundo os protocolos do HMC haviam algumas coisas que podiam ser tentadas para evitar e, quem sabe, curar os sintomas provocados pela doença. Com uma pinça metálica guardei a lasca de unha de salamandroso dentro de um tubo de ensaio esterilizado e coloquei na bolsa.

— Certo, vou pedir que permaneça em isolamento e eu retorno pra fazer visitas diárias até que tudo passe. — disse olhando nos olhos fundos de Henrique. — Nesse meio tempo, descanse. Beba água. Muita água. — seu exame físico mostrava sinais de desidratação e ele reclamou de insônia desde que foi infectado. Com a dor que devia estar sentindo, como dormiria bem? Impossível.

Do lado de fora do dormitório expliquei a situação aos seus colegas de trabalho. A instituição devia permanecer fechada para visitas e sua saída dali era terminantemente proibida. Uma equipe médica chegaria em breve — assim que eu retornasse ao hospital para reportar à direção quanto a seriedade do caso — para testar todos os funcionários da reserva, independente de terem entrado em contato com o infectado ou não.

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