Embarcando ..

– it's my birthday!
With Paula and Betina –

Caminhar pelas ruas de Porto Belo carregando aquelas duas malas enormes enquanto era seguido por uma cabra e uma mulher carregando atrapalhadamente duas mochilas estava chamando bastante atenção por onde o Barni passava. Não que os moradores locais não soubessem que dia era aquele – primeiro de fevereiro, dia do embarque –, mas o tanto de bagagem que Paula resolvera levar em cima da hora era um exagero, já tinham deixado um pouco de coisa no castelo, para quê mais duas mochilas e uma mala extragrande?  Mas tudo bem, ele iria deixar a irmã fazer suas vontades para que se sentisse o melhor possível na escola, dessa vez como uma das funcionárias. — Ansiosa para começar a receber aluninhos curiosos e, por vezes faladores, na biblioteca, maninha? – sorriu implicante para a menor, apesar de certa preocupação, adoraria ver qual seria a reação da irmã para com os bagunceiros ocupando a ala de estudos. — Se pudesse, eu deixaria Betina lhe fazer companhia, ela poderia chifrar os desordeiros e você diria que foi sem querer. Mas, bem.. acho que aí não sobraria página de livro não mordida, não é, Tina? – continuou comentando com a irmã e depois voltou-se a cabra, incluindo-a na conversa como uma igual.

Sim, para melhorar a situação, Miguel conseguia conversar com sua cabra, e conversava com ambas acompanhantes como se fosse a coisa mais normal do mundo – até por que, para ele, era mesmo –, e isso só atraia mais olhares dos vigilantes de plantão que ficavam de tocaia nas calçadas, vendas e deques do vilarejo. Estava com Betina há cinco anos, e pela primeira vez estaria levando a cabra consigo para a escola, um belo presente de aniversário havia sido aquela permissão da Diretora. Sim, primeiro de fevereiro também era o dia de seu aniversário, e como nos dois anos anteriores, quando trabalhou como docente substituto, o animal ficou em casa com sua meio-irmã, o capixaba sentia-se levemente desconfortável e solitário nas viagens e estadia na escola, mas dessa vez Paulinha estaria indo com ele para o castelo, de forma que o ser ruminante iria acabar ficando sozinho em casa se não o trouxesse – seu pai ia e vinha de Guarapari o tempo todo e não tinha a menor paciência para cuidar do bicho, preferindo sempre os aquáticos.

Ao ouvir a resposta da quadrúpede – que para todos os outros era apenas um “béee” entrecortado, mas para ele estava mais para um se não estiverem com cheiro de mofo, adoraria experimentar –, o Assis teve que soltar uma risada.— E você também ‘tá ansiosa para conhecer o famoso Castelobruxo, ‘né? Não são muitos os animais de flora da floresta permitido no castelo, viu? Então espero que se comporte para não ser despachada e banida. – lançou um olhar severo para a cabra, sabendo que ela podia ser muito arteira quando não estava morrendo na preguiça jogando pelo cantos da casa mastigando entulhos. Lançou então um sorriso suave para sua irmã, que o olhava como quem queria entender tudo que Betina falava e riu-se imaginando Paula e a cabra num diálogo.. certamente a conversa mais aleatória do planeta nasceria naquela interação.

Não demorou mais que sete minutos para que chegassem na estação, cerca de oito e dez da manhã. — Finalmente as duas vão estar por perto de mim o ano todo, hein? Como são sortudas.. – o sorriso era largo enquanto passava olhar da mulher para a cabra e então de volta para a humana. — Espero que Açu chegue lá. – comentou esperançoso, sabia que sua irmã, futura quintanista, havia entrado em um dilema e estava indecisa se continuava na escola como sênior ou parava, ou ainda, se faria um intercâmbio. A mesma estava em terras capixabas com o pai naquele momento, mas Guel ansiava por ver sua irmã caçula na escola assim pisasse em terras amazônicas. Tirou o fone que lhe rodeava o pescoço durante a caminhada e o pôs sobre o cabelo, segurando-lhe os fios acobreados, enquanto examinava a movimentação da estação. Enquanto a maioria dos funcionário havia permanecido no castelo desde os dias anteriores, alguém teria que tomar conta das crias no trem.