As diferenças culturais entre humanos e outros seres são gritantes e ainda incompreendidas por grande parte da comunidade bruxa, mesmo depois de tantos anos de avanço, estudos e projetos de inclusão. Graças a mudanças nas leis, estrutura da sociedade e decadência da magia, os não-humanos estão começando a serem melhor vistos pela sociedade bruxa.

A história do preconceito da comunidade bruxa com os demais seres mágicos é antiga, mas seu primeiro marco foi em 1692 quando foi aprovado o Estatuto Internacional de Sigilo em Magia (EISM) que referia aos não-humanos como "seres mágicos de inteligência quase humana." Elfos, duendes, centauros, sereianos, vampiros, veelas, colibris, mães d'oro, maire-monans, botos estavam inclusos nessa classificação. (Sartori, 2012) Na época, os bruxos responsáveis pelas instituições de governo mágico acreditavam que seria catastrófico se alguma espécie de ser ou criatura mágica os expusesse. Portanto, além do EISM, muitas leis foram escritas para regular as os seres mágicos.

O cerceamento dos seres movido pelo medo dos bruxos em não conseguir controlar a magia dos não-humanos gerou a Lei Internacional de Controle de Varinhas (LICV) em dezembro do ano de 1889, que proibia o uso do objeto mágico por qualquer um que não fosse humano e isso gerou revolta por parte da comunidade lesada com a imposição de uma lei que lhes privou de poderes que também eram seus. Por esse motivo, em 1890, Ranrok iniciou a Segunda Revolta dos Duendes, em luta por seus direitos. Segundo a duende historiadora Dunga Petra (2020), "a revolta fracassou devido a falta de adesão dos outros seres mágicos, que não quiseram entrar em embate com a comunidade bruxa."

No Brasil, na mesma época, houve o período conhecido como "Queimadas Frias", que consistiu na reunião de Mães D'Oro de diversos clãs diferentes para incendiar a floresta amazônica com chamas que não causam dano à vida vegetal, apenas para chamar a atenção dos governantes, mas a resposta da confederação nula. Não houve tentativa de acordo pois sabiam que aquelas manifestações não perdurariam por muito tempo. (Sartori, 2016)

Benedita Dourado, 1986 cita: "O EISM foi criado para proteger a comunidade bruxa dos não-maj e esconder a existência do mundo bruxo são os focos do estatuto. Devemos considerar se estamos de fato nos protegendo dos possíveis danos que os não-maj podem nos causar." Coincidentemente ou não, é exatamente isso o que a comunidade dos seres pensa sobre o o que foi o LICV.

Por mais de um século os seres viveram privados de seus direitos e, portanto, encontraram outras formas de magia para suprir as necessidades de seu povo e é por isso que percebemos uma maior afinidade dos seres não-humanos com os elementais. Somente em fevereiro de 2020, mais de um século depois, a Confederação da Magia Sul Americana decidiu revogar o LICV nos países sob sua jurisdição e o uso de varinha para os demais seres voltou a ser possível foi aprovada uma Lei de Integração dos Seres Mágicos (LISM), sugerida por Lira Pisinoe Cotta. Não restrita somente ao uso do objeto mágico, a LISM também confere aos não-humanos a cidadania, educação, lazer, saúde, e garante à comunidade mágica a convivência conjunta em desfrute dos mesmos direitos. (COMASUL, 2020)

A Lei do Sangue Mágico (LSAM), que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino bruxo em Castelobruxo não foi o suficiente para parar o "Declínio da Magia", e é possível que a aprovação do LISM tenha sido visto que a única forma que o governo encontrou de manter a magia viva na América do Sul, além da imposição de decretos acerca do ensino primário e superior obrigatório para todos os bruxos. A situação da sociedade bruxa hoje, mesmo com tanta evolução, ainda é critica, e apesar de existirem leis de proteção aos seres não-humanos, ainda falta muito para que alcancem direitos iguais.