Talvez estivesse ficando louca.
Sim, era isso. Tudo não passava um sonho louco, o alarme tocaria em breve e Lena teria que lutar com o torpor e com o fato de ter que levantar para mais um dia de aulas. Mas não. Por causa de uma brincadeira nada inocente, ela agora estava no alojamento, ajustando a jaqueta de couro sintética e deixando uma das mangas com um corte simétrico na altura de um dos ombros. Usou um feitiço para que não parecesse um corte tão desajeitado, e para que o tecido não desfiasse (ela iria repara-lo depois) e para complementar o look semelhante ao cantor no videoclipe.

Vestiu a jaqueta por cima do cropped, ficava um pouco folgada, mas serviria e complementava o look com a calça jeans preta rasgada e os coturnos marrons, mas, ela ainda estava extremamente mortificada com a tarefa que iria realizar em pouquíssimo tempo. E o fato de ser durante uma aula contribuiu para que soltasse um gemido de frustração enquanto prendia o cabelo louro com grampos. Precisava dar um jeito de deixa-lo parecendo um topete, então, tentou ao máximo deixar as pontas para a frente, como se fizesse uma franja falsa. Usou o fixador para deixar mais ou menos parecido com o que vira no clipe. “Já que estamos no inferno... Abracemos o capeta”.

E falando em inferno. Saiu do dormitório e avançou por Ybirá até um lugar onde NUNCA imaginou colocar os pés durante sua trajetória escolar, carregando a pequena maleta de maquiagem a tiracolo. Devia ter insistido para se arrumarem no dormitório de Alice, e agradecia que os colegas estivessem em aula agora, pois com certeza não seria NADA bem visto pelo resto do time que a nova artilheira estivesse visitando o alojamento dos Jaguar.

Bateu de leve antes de entrar, e assim que viu os dois companheiros naquela empreitada louca... Os olhos castanhos se arregalaram e Helena sentiu a face corando; se aproximou da dupla e tentou não olhar diretamente para o rapaz. Que a chamassem de careta, seria informação demais de uma vez só, era isso. E ao reparar na roupa de Alice, quis rir, um pouquinho.

— Quero dizer que isso é loucura — declarou em voz alta, colocando a pequena maleta numa mesinha e a abrindo, selecionou os pincéis limpos e procurou entre as bases e corretivos que chegassem próximos ao tom pálido da pele de Morpheu. E entrou em um modo automático ao erguer com delicadeza o rosto do garoto — Fecha os olhos — avisou, antes de começar a aplicar a maquiagem no rosto alvo. — Mas, caramba, vai ser memorável e eu espero que não sejamos expulsos por isso.

Ela estava preocupada, sim. Mas não teria volta agora, teria?

Helena o encarou com o cenho franzido ante a pirraça, mas a voz era doce quando se pronunciou sobre — Exatamente, meu bem ¬— espalhou o corretivo para ocultar olheiras e para que a sombra ficasse um pouco mais pigmentada. E, então, abriu a paleta de sombras e passou a aplicar os tons de roxo e azul na pálpebra do rapaz, com cuidado para montar um efeito um tanto degradê. — Quando digo isso, me refiro a situação como um todo, não apenas a minha, sabe. E não começa, tenho um delineador e não tenho medo de fazer um desenho bem feio na sua cara.

Se algum dia lhe dissessem que ela iria maquiar um garoto em que estivesse interessada, Helena teria achado graça na situação. Aliás, se dissessem a Helena que ela iria se interessar por alguém, ela também iria achar graça. E concluiu que aquele ano trazia tantas novas experiências que a Alcaide já estava ficando um pouco tonta.

No mais, ficou no trabalho que estava fazendo. Era uma maquiagem mais forte do que estava acostumada a fazer em si mesma, mas o resultado estava saindo melhor do que esperava quando olhava em fotos no dia anterior. Fez questão de aplicar glíter à maquiagem e fez um delineado bem puxado. Finalizou com a base, o contorno e o iluminador bem aplicado. Se afastou com um sorriso no rosto, admirando o trabalho — Acabei, acho que está decente.

Segurou o espelho que sempre carregava, para que Morpheu visse o resultado final. Ela ainda estava nervosa, claro. — Agora, vamos, ou podemos fugir pras colinas?