Lorena era uma grande fã de poções, não somente pelo enorme ramo de oportunidades que um aluno bom com poções conseguiria atingir, mas também pelo professor, sem dúvida o mais animado de todos. Aurora era sua estrela guia, mas mesmo ela não batia o entusiasmo de Adrian. O que era perfeito, porque sua aula estava marcada para uma sexta feira logo depois do almoço. Lorena costumava sentir sono após comer, mas naquela tarde sentia que estaria pronta para passar boas horas acordas aproveitando aquela aula divertida. Qual fora sua surpresa quando adentrou o laboratório e este estava levemente escuro, sendo iluminado somente pela luz do quadro que deixava a figura do professor visível no meio da escuridão. Nascido para brilhar, isso era fato. E enquanto esperava que Lorena e os colegas se sentassem, não disse sequer um olá. Introduzira a aula de forma séria, quase beirando o formal, e questionando o que era a alquimia, o que era um alquimista de verdade. Ela estava ferrada, porque não sabia direito as respostas para tais perguntas. Quando se fala em alquimia, o pensamento gira pelos trouxas procurando ouro e pelos bruxos na caça pela vida eterna. Mas a definição, de fato, ela não sabia. Talvez um alquimista de verdade fosse alguém interessado em todos os componentes químicos que influenciam em um processo, mais do que o resultado em si. Isso era o que ela teria respondido se tivesse sido questionada.

Após deixar os alunos darem uma leve fritada em seus cérebros em busca de uma resposta plausível, o professor desatou a falar sobre ninguém mais, ninguém menos que Nicolas Flamel, cujo nome é tão famoso por ter sido o criador da pedra filosofal e do elixir da longa vida. O professor explicou que na literatura de Flamel ele deixava claro o interesse em transformações da matéria através da alquimia, o que trazia à tona novamente o questionamento do que é a alquimia em si e de o que se precisa para ser considerado um alquimista. O homem podia até ser um gênio, mas o fato de beber de sangue de unicórnio, aqueles seres tão puros, era de arrepiar. E graças a sua bebida diferenciada que ele descobriu propriedades mágicas no sangue da criatura. Interessante, mas bizarro para a mente de Lorena. Pensou que se Mogli estivesse presente naquela aula, teria tido um desmaio ali mesmo.

Com a imagem mudando do senhor Flamel para um outro homem, que fora apresentado como Philippus Aureolus von Hohenheim, a atenção de Lora voltou a ser o assunto da aula. Aquele homem exibido em sua frente também fora famoso, embora o nome extenso não tivesse sido ouvido por ela jamais. Ficou curiosa para saber de seus feitos e o motivo pelo qual não era tão famoso quando Nicolas. E seu feito não havia sido nada mais nada menos do que criar uma forma de vida inteiramente artificial. O queixo da aluna quase caiu. Ele havia conseguido criar uma pequena criança em um frasco de vidro. Uma vida, mesmo que pequena, inteiramente artificial. Lorena nem percebeu que começara a bater palmas até notar o olhar nada feliz do processor e os olhares curiosos dos colegas. Cessou e fingiu que nunca havia acontecido, mas estava encantada. Como é que se reproduz a vida de forma artificial? Mesmo para a magia, isso era uma grande coisa. Será que havia alguma relação com os quadros que mantém os mortos conscientes e ainda presentes, mesmo que sem possuir um corpo físico que possa de fato sair por aí vivendo?

E como quem tem uma ideia genial, a luz se fez presente no laboratório novamente, fazendo com que os olhos levassem alguns segundos para se adaptar a nova fonte de luz. "Descansem, bastonetes", pensou ela antes de sentir o perfume emanando do cabelo recém jogado para trás pelo professor. E então como quem conta que amanhã choverá, o professor contara que era ele mesmo um alquimista capaz de criar poções dignas de alterar a estatura e o corpo humano. Ele não havia somente descoberto a cura para uma doença, mas uma forma de mudar os genes de forma eficaz a ponto de alterar coisas como a altura de alguém. Até onde sabia sobre genética, ele teria conseguido alterar a cromatina? A heterocromatina? Estava viva, contemplando o mesmo ambiente e o mesmo tempo de vida de um gênio, e só não voltou a bater palmas porque sentiu uma certa frustração vindo do mestre. "sinto que ainda não entrei para a história", disse ele, e Lorena sentiu muita vontade de interrompê-lo para dizer sobre Galileu, por exemplo, que demorou anos após sua morte para sua obra ter sido legitimizada, mas não queria parecer metida, sequer incentivá-lo a cometer suicídio. Então calou-se, pois ele não precisava de um conselho de uma aluna qualquer. Ele era um alquimista, pelo amor dos deuses, ninguém precisava dizer nada a ele!

Então o olhar do homem caiu sobre ela por alguns segundos, passando para os próximos alunos. Sua voz parecia tocar a alma quando ele questionou qual era o objetivo de cada um deles como alquimistas. Quais suas ambições? Como marcariam história? Quase pode ouvir a continuação de sua fala: seriam famosos como Flamel ou pouco valorizados como ele, que também havia feito tanto e tinha tanto em seu currículo? E então a sineta de fim de aula soara, trazendo todos de volta a realidade. Lorena ouviu que precisava pesquisar grandes alquimistas do passado para trazer para a próxima aula, e recolhendo seus materiais com calma para ganhar tempo, jogou a bolsa nos ombros e se aproximou do mestre. — Ahn, com licença. Perdão por atrapalhar, eu só... — Fez uma pausa, pensando se deveria mesmo dizer o que estava pensando, mas não seria Lorena se não abrisse a boca para falar o que pensava. — Isso não é puxação de saco, eu juro, mas preciso dizer. Talvez o senhor não sinta, mas já marcou a história. Tenho certeza que um dia será uma imagem sua exibida na tela de uma sala de aulas, contando como você descobriu coisas incríveis e marcou o mundo, sim. E algo me diz que esse reconhecimento será em breve, e que se eu tiver filhos ou netos, eu vou poder dizer para eles que tive o prazer de ser instruída por alguém tão sábio e tão famoso. É um prazer dividir esse tempo e esse espaço com o senhor. — Disse, afastando-se rapidamente para dar veracidade ao que dissera. Não era uma puxa-saco, sequer precisava, mas quando se vê alguém brilhar, ao invés de fechar os olhos, se deve elogiar o brilho. Essa era Lorena, afinal, e torcia para que um dia tivesse tantos feitos quando aquele professor tivera.