As aulas a tarde eram as melhores, eu tenho certeza absoluta que não era uma pessoa das manhãs. Quanto mais tarde melhor meu cérebro rodava. Já tinha almoçado e passado umas horas no pátio da escola desenhando as flores que encontrava. Meu diário de bordo do final de ano ficaria lindo demais! Enquanto caminhava de volta para o primeiro andar observava os grupinhos e não conseguia afastar o pensamento de se eu realmente estava fazendo a coisa certa. Será que eu deveria largar tudo e voltar para minha mãe? Todos os meus amigos estavam em Beauxbatons, toda a vida acadêmica e social que havia construído naqueles três anos ficou para trás…

 Cocei minha cabeça e respirei fundo na expectativa de afastar aqueles pensamento. Nunca havia me duvidado antes, porque começara agora? Antes de qualquer outro pensamento ruim me assolar já estava de volta ao hall das salas de aula e pude me concentrar em achar a de transfiguração. Como de praxe, fui uma das primeiras a entrar na sala e segui direto para mesa da professora. Me apresentei seguido de um pedido de desculpas pela ausência da primeira e entreguei para Sra. Tamoio a cópia da carta de recomendação que a diretora da outra academia havia feito para mim. Não estava tendo dificuldades em me adaptar ao itinerário das aulas aqui, mas não posso negar que quase perdi meio período de aula, se meus pais não tivessem se decidido antes.

 Já em minha mesa e com a sala tomada pelos alunos que faltavam, Isis começou a dar uma prévia do que havia por trás do objeto escolhido para a aula. Já tinha notado a presença inesperada das diversas estátuas pela sala, mas sinceramente não tinha muita certeza do que faríamos com elas hoje. A que tinha na minha frente era uma pequena réplica de um leão deitado sobre uma base simples. Era constituído inteiramente de madeira maciça de cor marrom intenso, levemente puxado para o vinho. Antes de sequer sacar minha varinha aguardei as instruções da professora, pois sabia como feitiços de transfiguração podiam ser traiçoeiros.

 Após sua explicação seguida da demonstração me senti na liberdade de tentar. Respirei fundo e analisei cada passo em minha cabeça. Primeiro repeti a palavra três vezes para mim mesma para ter a melhor pronúncia possível na hora de recitar o feitiço. Depois estudei o movimento que deveria fazer com a varinha e por fim mentalizei as etapas que deveriam ser cumpridas: concentração, verbalização, movimento, luz e transfiguração final. Inclusive tentei mentalizar a forma exata do coelho que deveria aparecer na minha frente. Quando finalmente chegou a hora olhei diretamente para a estátua e exclamei:

- Lapifors – Movimentando minha varinha com leveza e precisão.

 Não demorou muito mais do que dois segundos para que uma luz verde saísse de minha varinha. Então o leão tremeu e aos poucos se torceu como um dragão do Ragnarok, sendo sugado por uma espécie de buraco negro interno e por fim regurgitando, desse mesmo buraco, uma criatura felpuda e acinzentada. Quando suas orelhas saltaram e vi seus focinho balançar não me contive:

- Yay! Perfeito! - Soltei um grito de alegria.

 Poucos na sala haviam conseguido a mesma proeza e podia notal que alguns inclusive conseguiram destruir suas estátuas, mas achei que o mais ábio agora era ficar na minha. Já não estava sendo tão bem recebida e sabia que não estava na hora de ganhar fama de nojenta nem de esnobe. Ao fim da aula a professora anotou os resultados e indicou para que continuássemos treinando. Sorri, arrumei minhas coisa e segui de volta para o hall.