[SEMANA 1: BEIJO-DE-MOÇA E ORQUÍDEA DA MORTE]

Herbologia nunca viera a ser um dos assuntos preferidos de Pietra. Até achava as plantas extremamente bonitinhas, apoiava as causas em que essas deveriam ser protegidas. Mas estudar sobre trazia um cansaço fora do comum para a garota. Pra piorar ela não estava em um dos seus melhores dias, então se arrastara até a classe de forma semelhante a um zumbi. — Que acabe logo... — Resmungou baixinho assim que tomou uma das cadeiras. Sem nem se dar o trabalho de pegar papel e lápis para anotar o que seria dito durante a aula, Pietra apoiou os braços sobre a mesa e o rosto acima deles. Apesar de não gostar daquela aula, a professora era uma boa explicadora e conseguia desenvolver os assuntos sem que esse se tornasse tão chato a ponto de fazer qualquer um dormir. O assunto havia sido apresentado como plantas carnívoras, algo que Pietra não sabia absolutamente nada, então fora obrigada a deixar a preguiça de lado e pegar os materiais para fazer suas anotações. Se queria não reprovar naquela cadeira, precisava tomar jeito.

Começou a escrever assim que a primeira planta foi apresentada. Nomeada Beijo-de-Moça, Pietra ouviu a professora discorrer sobre o motivo pelo qual a plantinha carregava aquele nome. Era simples: as pétalas possuíam formato similar a de uma boca. Como era de se esperar, a planta usava essa mesma “boca” para aprisionar qualquer engraçadinho que fosse importuná-la. E aí os digeria. Ficou impactada ao saber que o tamanho da planta se dava de acordo com a quantidade de alimento que ela conseguia comer ao longo de sua vida. Poderia então ser comparada aos humanos? Que precisavam de nutrientes para crescer? Engraçado. Anotou especialmente o que era mais perigoso, como o fato de que ela possuía espinhos venenosos que poderiam causar paralisia. Além de que ela conseguia alongar e movimentar as raízes como tentáculos para puxar a vítima para mais perto. Com certeza não se aproximaria dessa planta nem que fosse paga para isso. E andaria muito mais atenta pelos lugares.

A segunda planta foi apresentada como Orquídea da Morte. E só pelo nome Pietra também a levou até a lista de criaturas ou plantas que não chegaria perto. Engole-Engole fora colocado como o apelido carinhoso dado a planta que não fazia distinção de nada do que comeria. Errada ela não estava, né. Anotou que dentre as características estavam uma flor exuberante e enorme. Além do perfume que ela costumava exalar, tão tentador que era lá que morava seu perigo. Não bastasse isso, a planta também possuía ramas e trepadeiras espalhadas pelo local em que estivesse, sendo essas capazes de puxar as vítimas para dentro dela à força. Outro aviso para que tomassem cuidado por onde andavam. Nas observações deixou claro que a planta conseguia se mover de onde estava caso a comida se tornasse escassa, mas que não conseguia digerir nada se estivesse em movimento. Com essas últimas informações, a aula chegou ao fim e Pietra saiu da classe com o cerébro apinhado de conhecimento sobre plantas. Que ela sabia que esqueceria assim que desse de cara com o almoço. Pois era isto, aquela conversa toda sobre plantas carnívoras tinha despertado sua fome.

[SEMANA 2: HERBS NOCTIS E CACTO HIPNÓTICO EGÍPCIO]

A segunda semana fora a pior. Quando chegou a quinta-feira, Pietra sentiu vontade de bater a cabeça contra a parede. Não por causa da aula em si, mas porque tinha tido uma noite ruim e estava com tanto sono que processar qualquer informação além da quero dormir estava se tornando difícil. Diante daquela situação adotou uma postura automática semelhante a de um robô, diferente da semana anterior em que estava igual a um zumbi. — Várias ervas, hm. Interessante... — Ressonava baixinho, quase fechando os olhos enquanto ouvia a professora explicar sobre a primeira planta daquele dia: Herbs Noctis. Dessa vez não anotava nada, o que poderia ser um erro porque aquela docente era conhecida por pedir catálogos de plantas após as aulas. Só que Pietra simplesmente não estava em condições nenhuma.

Embora ouvisse cada palavra da mulher, o cérebro processava as informações de maneira tão lenta que enquanto a professora falava sobre uma das plantas que compunha aquela planta se reproduzia somente com excremento de dragão, Pietra ainda estava pensando na primeira que tinha sido falada. A que sentia vontade de comer carne humana, que era nomeada como Carnis Humanae Comedentis e que só se reproduzia de excremento de testrálio. Francamente, que bando de plantas pra gostar de bosta. Revirou os olhos levemente, se deixando levar pelas informações sobre as outras. Uma era associada às bubotúberas, tendo quatro bolsas de pus que poderiam ser usados em poções para gripe. Outra era considerada sombria, nomeada como Ramus Plantae Gas Venenatis e era conhecida por ter seis grandes bocas. Não, não bastava uma só.

Na segunda parte da aula fora apresentado o Cacto Hipnótico Egípcio. E as únicas coisas que Pietra conseguiu processar foram: parece com outro cacto, com a diferença de que esse é coberto de algo semelhante a areia. Puxa as vítimas para perto e suga os nutrientes dela até a morte. A aula chegou ao fim e Pietra se arrastou para fora dela mais uma vez. Precisava de sua cama.


[SEMANA 3: COME-BOI AMAZÔNICA]

Quem diria que existiria uma planta capaz de devorar um boi inteirinho? A docente de Herbologia diria. Na terceira semana, Pietra estava até que melhor em seu humor. Dormira melhor e portanto, quando chegara a aula de Herbologia estava bem centrada e disposta a aprender qualquer coisa que a professora falasse. Era a última aula sobre plantas carnívoras e naquele dia, a planta apresentada fora a Come-Boi Amazônica. Nome que tinha de fato chamado a atenção de Pietra. Não houve muito sobre o que falar dela, além do que o nome denunciava, de como se diferia na fase adulta e na fase “criança”. A Come-Boi Amazônica não era uma das melhores plantas para se obter propriedades porque ela não tinha nenhuma conhecida. Seu uso era feito por bruxos para proteger cofres e portas. Pelo nome que carregava, Pietra só poderia imaginar o quão boa ela era em fazer o seu trabalho.

Terminado o assunto sobre as plantas, a docente passou o resto da aula debatendo sobre as curiosidades sobre aquele tipo em especial. Eram as mais difíceis de se obter sumo pela dificuldade em encontrá-las e enfrentá-las. Outra observação apontada fora a de que plantas criadas em cativeiro não eram tão esbeltas e grandes quanto as que nasciam e cresciam em seu habitat natural. Algo óbvio é claro. A aula acabou com a professora passando trabalho e ao terminar de anotar o que deveria fazer, Pietra juntou suas coisas com um destino certo: biblioteca. Pois ela não tinha metade das informações que precisava para realizar as tarefas.

encerrada!

seu desejo é uma ordem!