Uma dúzia de livros estava pousada no banco à direita de Rodrigo. Os títulos variavam desde a primeira guerra dos duendes, as revoluções que o mundo bruxo tinha sofrido nas últimas centenas de anos até aspectos mais específicos como a recente publicação do É o queer tem pra hoje. O Dutra tinha um prazo longo, se fosse considerar todo o período de recesso, para produzir o conteúdo com o que trabalhariam ao regressar, mas, famoso por deixar as atribuições para a última hora e render-se apenas ao lazer, o historiador queria mudar aquela impressão.

Assim, mergulhado em livros no térreo escolar, Rodrigo tomava notas e citava trechos de cada conteúdo para a produção de suas aulas. Naquele instante, tinha aberto sobre as mãos o que julgava que iria ser a primeira aula para os sextanistas assim que voltassem à rotina escolar. Aspectos míticos da memória, de Vernant. Com uma abordagem somada a de Daniel Lins no livro Esquecer não é crime, o bruxo poderia suscitar um debate que sairia da sala no mínimo interessante.

Ao seu redor, alunos ainda corriam em algazarra de um canto a outro. Com as varinhas em punho e a postura relaxada de quem via as férias chegarem logo ali, dobrando a esquina. Os mais novos pareciam ansiosos para rever os parentes e os mais velhos, mais tranquilos, já acostumados com aquela sequência de idas e vindas, levavam seus dias de maneira quase idêntica. Era curioso ver o desenvolvimento de tantos jovens diante de si. Cada um a sua maneira, todos levando suas palavras como verdade. Não questionavam, sequer interrompiam a aula com alguma questão polêmica, vorazes de atenção. Não. Os adolescentes seguiam aprontando, seguiam dormindo em sala de aula, mas não produziam nada de útil e o Kaefer, naquele próximo semestre, estava decidido a mudar isso. Mas, primeiro, ia ter que encontrar a temática correta.