Meu dia já havia começado bem por três motivos: número um, o avanço que eu estava tendo nos treinos e controle da metamorfomagia; número dois, que finalmente a diretora iria dizer se aprovava ou não meu projeto de "reforma" no Centro Acadêmico; e número três, pois Pingo ainda estava comigo no quarto. É, mais do que nunca eu iria precisar confirmar: o cão é o melhor amigo que alguém pode ter, e também o mais fiel. Pingo, que antes não ficava muito em Ybirá, agora não podia me ver em um dia de tristeza, ansiedade ou mesmo pura alegria – qualquer sentimento muito forte que mexesse comigo – que já esquecia de suas fugidas noturnas ou na madrugada para voltar aos terrenos, me fazendo companhia sempre que necessário.

Já levantei da cama com um sorriso largo no rosto, o pé direito batendo primeiro ao chão, nada iria estragar aquele dia. Olhar no espelho fez meu sorriso alargar-se ainda mais ao encarar as tranças finas pendendo de minha cabeça, meu cabelo estava um arraso! Mas também, depois de tanta trabalheira e encheção de saco de minha parte para que as meninas me ajudassem, se ficasse ruim seria uma tragédia. A melhor parte era – e eu já havia testado – que agora, sempre que meu cabelo mudava de cor, as tranças se coloriam pela metade, já que parte dos fios usados não era meu cabelo de verdade, o que fazia parecer que haviam vários tererês no meu cabelo.

Pingo latiu repetidas vezes enquanto eu observava mais uma vez à coloração das tranças, certamente não havia se acostumado ainda, mas tomei aquilo como um elogio e segui para meu banho. Corpo enxuto e com aquele cheiro delicioso de flor de verbena, roupas vestidas e lá fui eu para o refeitório.

O olhar curioso sob minha cabeleira trançada me deixou meio sem jeito de início, quase ninguém havia visto ainda, mas de repente me peguei colorindo as madeixas da cor que eu bem queria, assim como os olhos esverdeados e lábios como se eu tivesse usado uma manteiga de cacau alaranjada, mas não havia produto nenhum ali. O formigamento que percorria meu corpo em direção às partes específicas das mudanças era algo bom, não mais incômodo como em tempos atrás, e como era de se esperar o sorriso apenas se prolongava em meu rosto, certamente dessa vez um pouco cinismo estava presente em minha expressão.

Uma fatia generosa de bolo de fubá e um copo de suco de maracujá que despejei dentro de minha garrafinha foram suficientes para que eu já seguisse dali para a diretoria. Diretora Dourado havia pedido para eu passar no início da manhã e já era quase fim do horário do café, então devia ser um momento bom.

Pingo já não estava mais colado em mim, devia estar correndo pelos terrenos e roubando outros nikes azuis por aí, então segui a passos largos, a pastinha de folhas embaixo do braço direito enquanto comia o bolo e desentalava com goladas generosas do suco devidamente gelado. Ao chegar na polêmica parede daquele corredor andares acima do refeitório, a confirmação de que já era hora chegou: a porta abriu-se de bom grado, sinal de que a diretora estava me esperando, e naquele momento senti meu couro cabeludo formigar de ansiedade e nervosismo, certamente meus fios estariam laranjas de ansiedade, mas não parei para olhar, apenas subi.

– Licença… bom dia, Diretora. – sorri sem jeito ao entrar, esperando a beira de um ataque de nervos que ela me dissesse o que fazer, ou que simplesmente rejeitasse meu pedido de vez. Mas claro que rezei silenciosamente para que fosse a primeira opção.

Habilidade Especial - Poderes usados: