Introdução

A necessidade de se enfeitar parece ser inerente ao ser humano. E o uso do adorno, em todas as civilizações— mágicas e não mágicas—, esteve sempre relacionado a funções estética, financeira, religiosa e mística.
Os bruxos, desde tempos remotos, fazem uso de peças de adorno, quase sempre carregadas de profundo valor simbólico. Feitos de ossos, conchas, pedras e metais, os artefatos corporais são carregados de significados, tanto para exaltar a conquista de uma caça, como em cerimônias e rituais mágicos, como peças de uso místico como amuletos de sorte e proteção.
Desde a Antiguidade sociedades mágicas trazem consigo ou guardam pequenos objetos tais como figuras, medalhas, figas, sinos, entre outros, por acreditar no poder mágico destes objetos de afastar maldições e magias das trevas.


Revisão bibliográfica

1. Conceito

A palavra amuleto deriva do latim "amuletum", que significa "método de defesa". Esses artefatos mágicos podem ser encontrados em diversos tamanhos, formatos e materiais. Amuletos são objetos dotados de poder mágico, feitos para propiciar proteção contra diversos tipos de males (para proteger contra pragas, doenças, maldições ou azarações, por exemplo).
Geralmente os amuletos trazem em si palavras mágicas, ervas especiais ou são feitos sob forma que represente alguma divindade, animal ou símbolo mágico específico. Os amuletos foram bastante usados pelos bruxos do Antigo Egito, onde eram feitos principalmente para proteger contra pragas, morte e maldições. Famosos amuletos egípcios para proteção são a "Cruz de Ankh" e o "Olho de Hórus".
Os talismãs também são artefatos mágicos dotados de poder. A palavra se origina de “tilasman”, plural de “tilasm” (palavra do vocabulário árabe, derivada do grego “telesma”, que por sua vez significa “rito religioso, objeto consagrado”). Podem ser feitos de diversas formas, materiais e para os mais variados fins. Capazes de conceder poderes e dons ao seu possuidor, a magia dos talismãs vem sendo usada há muito tempo objetivando ajudar os bruxos nas mais diversas ocasiões.

2. Histórico

Nas sociedades mágicas do Egito Antigo o uso da joia como amuleto pode ser observado tanto em peças preservadas nos túmulos como nos desenhos de murais. Para os bruxos egípcio, tanto a forma quanto o material, tinham valor simbólico. Seus Deuses e suas crenças foram representados na joalheria, como por exemplo, o ouro representando o Deus Sol, ou os escaravelhos e outros animais que eram usados como amuletos de proteção ou como poder simbólico de força.
Como a maioria das joias egípcias tinham um significado mágico, é quase impossível distinguir a joia amuleto da puramente ornamental.
Para os bruxos gregos da antiguidade, há a presença de elementos da mitologia incorporados a elementos simbólicos mágicos. É comum que seus amuletos fossem consagrados aos deuses, como oferendas, em troca de proteção.
Na joalheria-mágica romana além dos símbolos davam grande importância ao poder mágico das gemas. Uma forma recorrente muito utilizada pela sociedade bruxa romana antiga é a roda, símbolo que se acreditava ter poderes mágicos. Para as crianças existia um amuleto circular usado como um medalhão pendurado no pescoço, como proteção contra as forças e os espíritos do mau.

3. Diferença entre amuletos e talismãs

É comum haver muita confusão no que diz respeito às definições dos dois itens mágicos de proteção supracitados. Muitas vezes tomados como sinônimos, ao contrário do que se pensa, há diferenças entre talismãs e amuletos, embora as diferenças sejam sutis.
Um amuleto pode possuir apenas a função de proteção e defesa através de magia. Existem amuletos específicos para proteger contra ladrões, inveja ou outras situações indesejadas. A função básica de um amuleto é fornecer proteção para algo ou alguém.
Ao contrário dos amuletos, os talismãs possuem um leque mais amplo de funções, podem existir talismãs específicos para atrair amor, dinheiro, saúde, sorte no jogo, dentre outras coisas. Os talismãs não são limitados apenas à magia de proteção (apesar de também servirem para tal finalidade), pois além desse uso, eles também podem beneficiar seu possuidor com poderes, dons e qualidades sobrenaturais. Talismãs podem aumentar o poder de sedução e até mesmo influenciar o comportamento de quem usa.

4. A magia por trás dos objetos

Amuletos e talismãs são compostos por elementos mágicos dotados de energias. Tais elementos podem ser ervas, materiais de origem animal, metais, símbolos, cristais, seguindo sempre as propriedades pertinentes de cada material, estudadas por pelas mais diversas áreas de ciência mágica (herbologia, magizoologia, runas antigas, alquimia, poções, mineralogia mágica etc.). Segundo papiros mágicos datados de 180 d.C., a criação de um amuleto ou talismã pode ser fundamentada em influências astrológicas, de divindades (ou entidades) e de cores, ou numa combinação desses aspectos. Também é importante lembrar que não é apenas o objeto em si que possui a essência mágica, para que ele seja "carregado" de poder é necessário algum mecanismo de ativação (algo que ative a energia mágica dormente do objeto), que costuma ser um encantamento, ritual ou preparo mágico. Estes objetos mágicos variam desde os mais simples (símbolos desenhados em papel) até os mais requintados (que usam materiais como ouro, prata, pedras preciosas e outros materiais nobres).

5. Influências mágicas no poder dos amuletos e talismãs

A arte de criar amuletos e talismãs mágicos, apesar de muito antiga, perdura até os dias atuais nas comunidades bruxas. A magia utilizada no processo de criação, segundo historiadores, sofria a influência destes três elementos, que ainda hoje são considerados como uma tríade de poder no que diz respeito aos amuletos e talismãs. Segundo a historiadora Adamantina Alves, em sua obra “Patuás: uma arte mágica”, todos os componentes de um amuleto ou talismã devem estar em sintonia para que sua finalidade seja alcançada. Sejam eles quais forem (pedras, ervas, cristais, ingredientes de origem animal, entre outros), devem seguir na mesma direção mágica e servir para os mesmos propósitos. Por exemplo, Adamantina afirma que não se pode utilizar uma erva regida pelo astro solar com propósitos ocultistas, uma vez que o astro em questão não rege esse ramo da magia.
A respeito da tríade de influência, tem-se:

5.1. Influência Astrológica

Por se tratar de uma prática bastante antiga, a criação de amuletos e talismãs seguia os preceitos definidos pela teoria astrológica, tomando como base o conceito de dias planetários. Os primeiros atestados de uma semana de sete dias associada aos corpos celestes são do renomado bruxo astrólogo grego Vettius Valens, escritos cerca de 170 d.C. em seu manuscrito Anthologiarum.
A teoria astrológica diz que os dias são regidos por sete astros (sol, lua, marte, mercúrio, júpiter, vênus,  e saturno) e, da mesma maneira, as horas do dia também o são, seguindo a mesma ordem. Esses astros possuem energias mágicas que, quando canalizadas através de ritos e encantamentos, potencializam o poder dos amuletos e talismãs. Entretanto, cada um dos astros possui um tipo de energia, cuja especificidade é apropriada para a execução de determinados tipos de magia. Assim, entendia-se que a melhor forma de utilizar o poder dos astros a seu favor é entendendo a sua influência em cada situação.

5.2. Divina e de seres elementais

A magia antiga era grandemente atrelada a divindades e seres elementais da natureza. Por isso, é muito comum encontrar registros de rituais em que houvesse a conexão entre bruxos e a energia de deuses ou entidades para fortalecer o poder da magia. Documentos históricos apontam que amuletos e talismãs eram comumente consagrado à divindade escolhida, também podendo ser confeccionados com cores e ervas relacionadas à entidade. A escolha da entidade variava de acordo com o objetivo e a energia trabalhada na confecção do amuleto ou talismã. O panteão trabalhado também era uma escolha pessoal do bruxo, variando, geralmente, com sua localização geográfica, época, coven, e outros aspectos da sociedade na qual estava inserido.

5.3. Influência das cores

Cada cor possui sua própria magia, esse é um aspecto que pode ser levado em consideração nesse criação. A confecção de um talismã ou amuleto de tecido, por exemplo, deve estar intimamente atrelada a uma cor relacionada ao seu objetivo (vermelho para afastar inveja, rosa para talismã de amor, verde para prosperidade etc.). Na confecção de talismãs de tecido ou papel, a cor é muito importante, como fica muito claro nos papiros mágicos egípcios, datados de 170 d.c.

Considerações finais

Os papiros mágicos antigos são uma fonte de primorosas informações acerca de hábitos e crenças muito poderosas. A cultura da utilização de amuletos e talismãs segue sendo muito presente em diversas sociedades mágicas, e o entendimento de suas propriedades, da forma como são criados e dos fatores que influenciam seu caráter mágico, principalmente, da forma como eram usados desde os povos mais antigos, permite uma leitura da sociedade mágica como um todo e da forma como essas comunidades lidavam com as adversidades da magia das trevas, enfermidades, ou, no caso de talismãs, realizavam encantamentos mais simples para inúmeras finalidades.

Muito ainda se vê de resquícios desses hábitos nas comunidades mágicas modernas, em certos povos (como os da América Latina, por exemplo) mais que em outros. Amuletos e Talismãs contam a história da magia das mais diversas formas, cores e tipos e, do ponto de vista arqueológico, há ainda muito mais para se desvendar a respeito da magia antiga que esses poderosos instrumentos contém.