Mavis não era a maior fã do assunto Astronomia. Não que ela tivesse algo contra a matéria, ela só tinha uma dificuldade fora do comum para entender tudo que aquilo envolvia. Eram questionamentos demais para alguém que não gostava de ficar se questionando sobre nada. Qual a origem do universo? De sua própria existência? Ela não fazia ideia e não tinha interesse nenhum em saber. Porque aos olhos dela, seria praticamente impossível chegar a uma resposta certa para tais perguntas. Mesmo assim, assistia às aulas de Astronomia com certo gosto. Se perdia no assunto várias vezes, tinha que tirar mais dúvidas do que gostaria com a professora e se dedicar um pouco mais do que achava necessário. Mas as aulas da professora Aurora estavam sempre trazendo um ambiente novo que para Mavis eram quase como se fosse um grande imã. Então talvez ela não estivesse indo para as aulas pelo conteúdo em si, mas sim pelo que poderia vivenciar através do material que a professora usava. A escada do terceiro andar era o caminho certo para se chegar ao terraço, local da aula referente aquele dia, e Mavis subiu os degraus pulando de dois em dois até que chegasse ao topo. Ignorando a respiração ofegante, passou pela porta mais rápido do que poderia. Estava atrasada, como era de praxe ao menos naquela aula, então não se demorou muito em se juntar a sua família em uma das várias mesas espalhadas pelo ambiente.

Foi só quando se sentou que os olhos curiosos percorreram todo o terraço, brilhando de excitação. Tinha que admitir, o lugar estava impecavelmente lindo. Por um momento, a atenção de Mavis foi conquistada apenas pelas pequenas luzes espalhadas. Estava se sentindo tão confortável que ali era como se nenhum problema pudesse afetá-la. Se deixou levar pela voz da professora, buscando prestar atenção ao que ela falava. E aproveitou daquele momento para se servir com uma xícara de chá, que estava disposta sobre a mesa. Não demorou muito para que a mente de Mavis começasse a divagar, sendo capaz de processar apenas alguns trechos das falas da professora. Algo sobre as estrelas serem usadas como guias desde a antiguidade, como haviam sido necessários anos de pesquisa pro ser humano entender que não era o centro do universo - e fala sério, Mavis julgava que aquilo estava mais que óbvio, naquele momento só conseguia pensar como a raça humana tinha a breve mania de se elevar mais do que deveriam. Suspirou assim que os pontinhos de luz se apagaram. Tinha sorte que a aula era interessante, ou sabia que dormiria por ali mesmo.

Era Inflacionária? Mavis não fazia a mínima ideia do que seria aquilo. Mas sua dúvida logo foi sanada pela própria professora, que explicou calmamente como o cosmos inflou. E foi por aí que a brasileira começou a se perder no assunto novamente. Estava prestes a cutucar a prima para tentar se achar, mas Lora parecia tão atenta a aula que não quis atrapalhar. Não era pra menos, afinal, sabia como a tia era louca por tudo que envolvia o universo e com isso, a prima tinha acabado desenvolvido o gosto pela coisa também. Os olhos de Mavis se atentaram no pequeno grão de cristal, o único que estava aceso, bem no momento que ele começou a inflar. Ganhava uma cor alaranjada tão linda que as orbes da garota brilharam pela segunda vez naquela aula. Como a professora conseguia fazer algo tão lindo? Magia, é claro. Eram nesses momentos que ela agradecia plenamente por fazer parte daquele mundo. Tudo era tão incrível que ela nem ao menos conseguia expressar o quão grata se sentia. Ouviu a voz da professora quase que de fundo, explicando sobre o que aquela bola representava. O cosmos primevo. Outra coisa que Mavis não fazia nem ideia do que era. Era certo que teria que dar um rolê na biblioteca para se inteirar no assunto. Ou então usaria Lorena de enciclopédia mais pra frente.

— Hm, esfriar… enfraquecimento dos fótons… fótons? — Sussurrou baixinho, tentando ao menos memorizar o que estava sendo dito. Vexame, vergonha, humilhação eram as palavras exatas para a atenção de Mavis naquela aula. E estava começando a ficar frustrada por nem ao menos conseguir se manter no ritmo. Apoiou os cotovelos na mesa e o rosto entre as mãos ao mesmo tempo em que tentava focar o olhar apenas na professora. Queria mesmo prestar atenção ao que ela falava, mas ficava difícil no meio de toda aquela escuridão enxergar até mesmo Aurora. Tarde demais, Mavis só tivera tempo de ouvir “o nosso querido cosmos ficou de 380.00,00 até 200 milhões de anos no completo escuro.” antes que o espaço fosse tomado pelo breu total. O silêncio reinou só para que segundos depois um pontinho de luz voltasse a brilhar. Seguido de outro e outro e outro… A brasileira observou a cena quase que de boca aberta, fascinada por aquele pequeno momento. Era como se ela estivesse no céu junto das estrelas que tanto gostava de observar, mas só observar mesmo, simplesmente pelo prazer de apreciar a beleza da coisa. Ali, naquele momento, a certeza que tinha era de que a vida humana não representava quase nada perto das outras coisas. Não tivera tempo nem para processar o fato jogado pela professora: As primeiras estrelas tinham aparecido apenas após 200 milhões de anos. Nunca que ela saberia disso. A aula chegou ao fim, deixando a Mavis outro fato: ela não sabia de absolutamente nada. — Lorena, tu vais ter que me dar um reforço nessa matéria porque nesse tempo todo eu só consegui descobrir que sou uma anta nesse assunto. — Sussurrou baixinho para a prima.

AULA DE ASTRONOMIA ⋅ COM LORENA