Aurora e eu parecíamos duas baratas tontas andando de um lado para o outro. O dia fora muito corrido, desde a organização para a inauguração da loja até o tratamento dos animais, nós duas não tivemos um momento sequer de descanso, mas olhando todo o ambiente pronto, constatamos que valeu muito a pena o esforço. A decoração estava simples e linda. O intuito era não gastar muito, mas deixar aconchegante, convidativo e esteticamente agradável, e creio que conseguimos alcançar o objetivo com êxito. Sorri para Aurora satisfeita com o que via e ela devolveu o sorriso animada com o início do trabalho. Ambas estávamos, cansadas, mas não era hora de parar. A inauguração já estava preste a começar e logo, logo os amigos íntimos da Belenus surgiriam. Estava na hora de dar continuidade ao trabalho, então, mãos a obras!

As pessoas já estavam chegando e nós não poderíamos deixar de dar atenção a todos, afinal, cada pessoa que fosse ali prestigiar o evento seria um possível cliente para a loja. Inclusive, eu havia convocado meus amigos para comparecerem e pelo bem da integridade física de cada um deles é bom que eu veja seus belos rostinhos bem em breve. Não iria exigir que eles saíssem de lá com um animal debaixo do braço, até porque seria pedir demais, eles não cuidavam nem deles direito, que dirá de um animal. Contudo, a presença deles era indispensável e eu já estava mandando mensagem para o grupo novamente, ansiosa como sou, os apressando o quanto antes para o evento. Parei de mexer no celular bem quando Aurora surgiu diante de mim dizendo quais eram nossos próximos passos. Eu ainda estava me acostumando com o fato de ser um proletariado, afinal, aquele era o primeiro trabalho de toda a minha vida. Aurora e eu éramos amigas, mas eu gostava de separar amizade e trabalho, acho que a relação fica mais fácil dessa maneira para ambas. E por mais que ela fosse mais nova do que eu, eu a via como uma figura respeitável, o que não era muito difícil, pois apesar da pouca idade, Belenus era muito profissional e madura. Nos organizamos na abordagem e quando uma amiga íntima de Aurora surgiu, ela saiu para dar a devida atenção a moça e eu aproveitei a deixa para passear pelo local à procura de possíveis clientes também.  

Caminhei pelo ambiente verificando se estava tudo ok com um olhar bastante crítico até que pus os olhos num garoto que parecia menor de idade com uma taça de champagne. Olhei para os dois adultos que o acompanhavam e sorri amistosamente para o grupo, controlando-me para não me intrometer no fato da bebida alcóolica estar na mão de um bruxo menor de idade. — Olá, sejam bem vindos! Como estão? — Os cumprimentei calorosamente. — Espero que estejam gostando do evento, aproveitem também para levarem alguma criatura. Nós fizemos a confraternização aqui fora para não assustá-los com o barulho, mas se quiserem eu os levo lá dentro para darem uma olhada, vai que vocês se interessam por algum bichinho? — Pisquei para o trio tentando convencê-los a me acompanhar. Com sorte, cada um deles levaria um animal para casa. Quanto mais vendas, mais dinheiro para o meu bolso, e só Oyá sabe o quanto eu estou precisando disso!

O garoto parecia até o líder do grupo, pois foi ele quem tomou a frente. Arqueei uma sobrancelha achando-o um pouco abusado, mas não reclamei, afinal, graças a ele os outros dois adultos concordaram em fazer uma compra. — Que ótimo! Me acompanhem até o interior da loja, vou mostrar as melhores criaturas para vocês. — Disse animadamente, mas antes que pudesse me pôr a andar, Caetano surgiu com uma roupa tão espalhafatosa que eu poderia facilmente confundi-lo com uma das criaturas que estavam a venda. Tive que conter um riso tanto pelo look escolhido quanto pela piada feita. Mordi meu lábio inferior dando um tapa no ombro do Montenegro e o abracei assim que ele deu um beijo estalado em minha bochecha e envolveu-me num abraço apertado. — Que bom que veio, amor. Cadê o Francisco Theodoro? — Procurei o enfermeiro atrás de Caetano e ele não estava, achei que fossem chegar juntos, mas, como sempre, Suzlbach vivia atrasado. Revirei os olhos ao perceber que ele não havia chegado e peguei a mão de Caetano, o guiando para dentro da loja. — Venha e nos acompanhe, irei mostrar algumas criaturinhas para esse casal e esse jovem. Quem sabe você não leva alguma também. — Arrastei todos em direção a loja, mas novamente fui interrompida. Dessa vez era Manu, proprietária do Melão Violeta, estabelecimento que eu amava frequentar. — Olá, amada! Me acompanhe, estou levando todos até a fazenda. Vamos ver um cabritoso bem bonitinho pra você. — Esperei que ela cumprimentasse a todos e a guiei para dentro da loja entrelaçando nossos braços, antes que mais alguém surgisse absolutamente do nada. Não que eu estivesse reclamando, afinal, quanto mais vendas, mais eu recebo, não é mesmo?

Caminhamos todos para a porta da fazenda, a escolhi pois era a que tinha as criaturas mais agradáveis e menos agressivas, seria ótimo começar a tour por ali, até porque a criatura que Manuela queria ficava naquele ambiente. Fomos pelo caminho de pedra e ao chegarmos na área dos cabritosos, pude ver que haviam alguns lupovaporizantes ultrapassando os limites novamente para misturar-se com as outras criaturas gosmentas. Elas corriam em círculos dos cães brincalhões e isso chamou a atenção do garoto loiro que ficou fascinado com a cão que transformavam-se em fumaça para logo após assumir a forma sólida novamente. — Gostou? Eles são inteligentíssimos e conseguem nos entender, embora não falem. Escolhe um que eu pego pra você. Você também Manu, escolhe um cabritoso que eu irei trazer para ti. — Esperei que ambos os clientes fizessem suas escolhas um pouco animados e entrei na cerca, pegando duas coleiras que ficavam dispostas ali. Não tive dificuldades para lidar com as criaturas, por mais que eu parecesse uma patricinha, as pessoas não conheciam esse meu lado totalmente amante dos animais. Caminhei entre eles e peguei primeiro o lupovaporizante que o loirinho havia escolhido, ele se desfez em meu braço, mas eu consegui capturá-lo novamente. A corrente estava enfeitiçada para que ele não fizesse seu truque de evaporar, então o entreguei ao seu novo dono que ficou completamente feliz com a nova aquisição. Retornei para pegar o cabritoso de Manu e ele foi mais fácil. A criatura apenas me encarou, aceitando a coleira com tranquilidade e acompanhou-me. Aquele macho era um completo lord e acompanhou Manuela como se já fossem super íntimos. Sorri para a comerciante que pagou a nova aquisição e saiu satisfeita despedindo-se de todos apenas com um beijo no ar. — Beijinhos, querida, volte sempre! E qualquer coisa é só nos mandar mensagem, tá? Qualquer dia eu passo no Melão pra provar um sorvete com a baba desse bebezão. — Embora parecesse nojenta, a baba do cabritoso elevava qualquer sorvete a um nível extraordinário, e tenho quase certeza que Manuela o comprou já com esse intuito. — E vocês, vão querer mais alguma coisa? — A mulher do trio olhou para o homem o qual eu soube que chamava-se Miguel e, embora ele estivesse envergonhado, ela insistiu em presenteá-lo com algo que ele escolhesse, mas ele parecia não saber muito bem qual criatura levar. — Olha, se me permitem dar um palpite, eu tenho uma criatura perfeita pra dar de presente. — Segurei a mão de Caetano e caminhei com eles para outra área da loja, a menor na verdade, mas ao meu ver, a mais bela.

Mal entramos na floresta encantada e um lapino já passou correndo por nós, pedi Caetano que o capturasse e o Montenegro o fez habilmente. Meu amigo entregou-me a criatura e eu o agradeci com um beijo na bochecha. Mostrei o bichinho alado para os clientes e acariciei a cabeça dele, que olhava sem entender muito bem o que estava havendo. O lupovaporizante cheirou a criatura assim que eu abaixei para mostrá-lo ao cãozinho também. — Gente, esse fofinho é um lapino, ele é um ótimo mensageiro. Vocês vão amar tê-lo. — Aparentemente o presente seria de fato o luposo e eu sugeri que a mulher comprasse uma bolsa expandida para colocar a criatura dentro, e ela aceitou a sugestão. Parece que o dinheiro ali não era de fato nenhum problema, eu gosto assim! Após as compras finalizadas o casal agradeceu e todos saíram da loja acompanhados por mim e por Caetano que ficou encantado com os espaços do bestiário. — Voltem sempre, e qualquer problema com as criaturas é só nos procurar. — Acenei sorrindo e quando eles afastaram-se virei-me para Montenegro sorrindo e colocando ambas as minhas mãos embaixo do queixo, como uma namoradeira. — Eu sou uma ótima vendedora, não sou? — Questionei com um sorriso enorme. — Amigo, você gostou da floresta encantada? Lá é lindo né? Você podia levar uma criatura de lá, é tudo bem baratinho. — Tentei convencer Caetano a comprar algo, mas se ele não quisesse eu o entenderia. Por mais que fosse fã de animais, acho que uma criatura para se responsabilizar não era o que Montenegro precisava nesse momento.

Revirei os olhos e puxei Caetano pelo braço até a área dos pufosos. Por Oyá, esses homens ficam com medo de assumir o mínimo de responsabilidade que seja! O bichinho não era nem tão difícil de cuidar assim, sinceramente. — Amigo, presta a atenção, eu vou te falar quais cuidados você precisa tomar com um pufoso, não é tão difícil assim de lidar com um bichinho desses, todo mundo tem um! — Exceto eu, claro. Contudo eu providenciaria um muito em breve. Entrei na área das criaturinhas junto com o Montenegro e ele apontou o bichinho que ele queria. Era meio diferente dos outros, tinha o pelo loiro e parecia ser mais desinibido. Achei a cara dele e das pessoas com quem ele se relaciona, seria perfeito para Caetano. — Presta a atenção. Esse é macho, geralmente eles são brincalhões, mas esse aqui parecesse ser em excesso, então dê atenção a ele! Ele come toda e qualquer coisa, então fica de olho para ele não acabar ingerindo algo que não deve, e cuidado, pois ele costuma comer meleca do nariz das pessoas enquanto elas dormem. — Dei uns risinhos e entreguei o Pufoso ao novo dono, apertando a bochecha do Caetano quando ele me deu o dinheiro da compra. — Por favor, cuida direito dele, amigo. Qualquer dúvida você pode falar comigo ou com o Frans, ele já teve um. — Eu só não sei que fim teve o dele né? Mas enfim...

Caminhamos para o lado de fora da loja e então eu fiquei ali um tempo, o local ainda estava bastante movimentado e eu sorri bastante empolgada com a inauguração. Estava um pouco chateada por Francisco ainda não ter aparecido, mas ele deve ter seus motivos. O garçom estava passando e então eu peguei duas taças de champagne, uma para mim e outra para Caetano. — Vamos comemorar, meu amor. Um brinde ao nosso sucesso. — Brindei com meu melhor amigo e sorri gostando do rumo que minha vida estava tomando. Aos poucos eu conseguia colocar tudo no eixo. Eu só precisava mesmo era achar minha mãe, urgentemente.

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