Os olhos de Perpétua estavam fechados se esforçando para não se atirar pela janela, ela odiava se submeter a uma invenção humana. No entanto, apesar de toda a sua frustração e sentimento de culpa, precisava reconhecer que uma viagem como aquela, feita voando, a deixaria exausta rapidamente. Pelo menos não precisava lidar com os olhares curiosos que sempre direcionavam a ela, pensou olhando ao redor, o vagão do trem estava completamente deserto.

Olhando pela janela, ela foi capaz de distinguir uma pequena vila que se escondia na encosta, às margens da ferrovia. Alguns pontos incandescentes iluminavam o chão, Perpétua estreitou a visão e percebeu que eram fogueiras já em brasa, quase apagadas. Anhangá. Murmurou fazendo algumas conexões e compreendendo o porquê do fogo. O trem seguiu seu caminho e deixou a vila para trás, porém, a mãe d'oro não conseguia parar de pensar naquelas chamas – não queria admitir, mas estava com medo, possuía uma relação extremamente íntima com o fogo e o considerava como precursor da vida e de toda a magia, por que estava temendo o elemento?

O assento do trem se tornou desconfortável e Perpétua ficou inquieta, o instinto que a mantinha viva vibrava e parecia querer prepará-la para um perigo que se aproximava. E ele estava certo, algo parecia ter se chocado contra o teto do vagão, o som metálico fez a criatura estremecer, involuntariamente, as chamas que cobriam o seu corpo surgiram e inundaram todo o vagão com uma luz ofuscante. Ela levantou do assento lentamente e foi até o outro lado para tentar entender o que estava acontecendo lá fora, o trem avançava em uma floresta e as árvores altas impossibilitavam qualquer vislumbre. Os passos cessaram e Perpétua chegou a relaxar, provavelmente algum pássaro que caiu, pensou se virando de volta para o seu assento, no entanto, a janela de vidro explodiu em todas as direções e uma figura escura se jogou para dentro do vagão. A mãe d’oro correu para tomar distância e se pôs em posição de ataque, demorou alguns instantes para identificar o que era aquele ser que rugia assustadoramente. – D'yaebl!* Exclamou em sua língua, o Auleng, sacando a varinha e mirando na direção do monstro de olhos avermelhados. – Locomotor Mortis! Bradou, já com um plano em mente, imobilizaria aquela coisa e a explodiria em seguida. – Protego!

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O feitiço percorreu o espaço como um raio, a criatura mal teve tempo para entender o que estava acontecendo e caiu sem nenhuma resistência. Perpétua riu ao se deparar com o demônio imobilizado no chão do vagão, rolando e se debatendo para todos os lados enquanto rugia furiosamente, seus braços compridos se esforçavam para alcançar a mãe d'oro. – Achou mesmo que conseguiria derrotar uma filha de Maia? Falou, sua voz potente sobrepujava os sons guturais do demônio.

Perpétua se aproximou, mantendo uma distância segura, e começou a observar o que estava enfrentando, a criatura parecia ser uma combinação mal feita de vários outros seres, cabeça de cachorro, olhos, tronco e braços humanos, as pernas eram longas e sem joelhos aparentes. Perpétua torceu o nariz ao imaginar o responsável pela criação do demônio, diferente das mães d'oro, o deus do submundo era um péssimo escultor. – Vai precisar se esforçar muito, ouviu, Anhangá? Tenho As Sete comigo. Falou tocando o próprio peito, em um sinal de respeito às mães antigas. Perpétua decidiu continuar com as suas investidas e apontou a sua varinha para o pescoço do demônio, retrocedendo alguns passos para enxergá-lo completamente. – Expulso Conjurou firmando os pés, prevendo o impacto que o feitiço teria. – Protego!

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