Não era do feitio da Bedoya passar tanto tempo estudando ao ponto de esquecer as horas passando. Nunca nenhum dia sequer na vida tinha ficado até tão tarde da noite revisando tanto conteúdo que ao término podia sentir a mente atribulada de pensamentos e os músculos tão tensos que ela quase podia se sentir como uma estátua sentada na cadeira. No entanto, era isso que havia acontecido naquela noite. O relógio de pulso indicava que já passava da meia noite e ela não estava nem na metade do que pretendia terminar para aquele dia. Tinha ficado mais negligente que o normal com sua educação, principalmente com a matéria que mais gostava e que tinha a sua mãe como uma especialista, e por esse motivo é que estava tão empenhada em ficar em dia.

Óbvio que esse não era o único motivo… Mesmo para alguém tão dispersa, havia sido impossível não notar o afastamento de seus familiares e aquela questão em especial estava mexendo com a morena de uma forma que ela nunca havia sentido antes. Passava parte dos dias deprimida, exausta e sem aquela vontade habitual de continuar levando a vida de forma leve e cheia de aventuras. Era como se a luz interior dela tivesse se apagado ao se afastar daqueles que mais amava. E o pior é que ela nem sabia o que fazer para reverter a situação visto que essas mesmas pessoas não pareciam se importar com a falta de convivência um com os outros.

— Hm, não! Você não tem que pensar nisso agora… Foca nas plantinhas. — A carioca balançou a cabeça negativamente ao se dar conta de que os pensamentos em relação aos seus familiares estavam voltando com tudo para perturbá-la.

Era demais… Demais. Não estava aguentando a carga emocional. Sabia que em algum momento acabaria sucumbindo ao surto por se reprimir tanto, só que simplesmente não conseguia se soltar. Os olhos atentos se voltaram para as letrinhas miúdas do livro aberto em meio a confusão de papéis e anotações que se encontravam na mesa a frente dela. Nem mesmo saber que já tinha passado do horário de dormir fora o suficiente para fazê-la levantar e ir descansar. E talvez esse fora seu maior erro. Não demorou muito para que ouvisse um estrondo vindo da porta que a fez girar o corpo com tanta rapidez que ela se desequilibrou da cadeira e foi direto ao chão. A mão tateou as vestes em busca da varinha que ela agarrou com firmeza assim que encontrou e aos tropeços e barrancos, a sextanista estava mais uma vez de pé.

— Mas o que…? — Franziu a testa, confusa com o que estava vendo. Era algum tipo de demônio? Não tivera tempo de checar, pois logo a coisa se aproximou e não de uma forma amigável. — ESTUPEFAÇA! — Recitou o encantamento tão rápido quanto podia, apontando a varinha para a criatura. — PROTEGO! — Falou pouco tempo depois, numa tentativa de tentar se proteger dos ataques.

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Não sabia se estava tudo dando errado pelo emocional abalado, pelo susto ou porque era uma azarada fodida. O ataque foi fraco e a barreira de proteção pior ainda, tanto que o demônio não teve maiores dificuldades para se aproximar e então atacá-la, jogando a para longe. Por sorte ou não, uma cadeira amparou a queda da menor que se levantou sentindo apenas uma dor na base das costas, onde havia sentido o impacto. Não conseguia entender o porquê diabos estava sendo atacada dentro da escola, onde era suposto ser seguro. Mas bastou mais uma olhadela para a criatura que ela começasse a ligar os pontos. No entanto, não era como se tivesse muito tempo para ficar pensando nos motivos quando sua vida estava claramente em risco.

— PROTEGO! — Recitou o feitiço mais uma vez, tentando criar uma barreira que a ajudasse a sair pouco ou menos machucada do que ela achava que ia sair dali.

Rondou uma das mesas e pegou uma das cadeiras, jogando na direção do demônio sem nem pestanejar. Ao mesmo tempo se amaldiçoava de ter esquecido algo tão importante, se ao menos tivesse… Não estaria ali passando por aquele inferno. Mesmo que não estivesse fazendo tanto esforço, conseguia sentir o cansaço pairando por todo o seu corpo junto com a adrenalina, era quase uma batalha tão árdua quanto a que estava travando contra o monstro.

— PETRIFICUS TOTALUS! — Lançou um novo feitiço, apontando a varinha para o servo de Anhangá.

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