Depois de exatos cinco minutos, munido de uma colher longa de madeira, adicionou um dos tentáculos na água quente.  O livro não deixava claro que tipo de movimentos deveria fazer, apenas “mexer levemente”, então observou os colegas do mesmo ano, que deveriam trabalhar na mesma poção que ele próprio. Em que fase será que estavam?
Inclinou a cabeça pra trás, a fim de ver o que o Julio fazia. O anaconda não mexia sua poção, embora o livro sugerisse que mexessem suavemente. Por que os livros não vinham com tudo especificado? Mexer ou não? É opcional?  Acrescentar os ingredientes de uma vez ou não? Considerando que mexeria suavemente, decidiu adicionar um por vez, assim o líquido não ficaria tão saturado, impedindo a dissolução do ingrediente. Não fazia a menor ideia de como funcionava a solubilidade daqueles ingredientes, então fez uma nota mental: estudar a solubilidade dos tentáculos de ondina. Anotaria no livro depois.
Adicionou mais um tentáculo realizou um movimento sutil com a colher, e logo pode observar que, no primeiro contato com a água, o líquido ao redor do tentáculo tornou-se róseo e, em segundos, voltou ao incolor. O mesmo acontecera com os três tentáculos seguintes, exceto pelo fato de que quanto mais se aproximava do sexto tentáculo, mais tempo demorava para a coloração rósea se extinguir.
Quando o sexto tentáculo se dissolveu na água, a poção ganhou uma cor definitiva, rosa vibrante. Parecia estar dando certo, afinal.
Da mesma forma que fez com os tentáculos, fez com os ferrões. Adicionou-os um a um, mas desta vez sem mexer, já que o livro não recomendava essa ação naquele passo. Quando adicionou o primeiro ferrão, logo notou o motivo: o ingrediente torrado se desfazia ao menor toque com a água, como acontecia com o toque numa fuligem.
Logo que adicionou os ferrões, acrescentou as folhas de hortelã —três folhas secas, que deram à mistura um perfume mentolado e fresco.
Desligou o fogo, observando a poção fumegar. Segundo o livro, apesar de parecer pronta, a poção ainda precisava maturar sob a luz da lua e só estaria pronta na manhã seguinte. Como precisava absorver a luz durante a noite, Vicente achou por bem reserva-la num frasco de vidro transparente. Buscou um recipiente nos fundos da sala, e voltou para a bancada.
Enquanto o caldeirão resfriava brevemente, acenou para a professora, aguardando que inspecionasse o produto obtido.
—Eu acho que deu certo, professora. — Comentou, sem conseguir esconder a empolgação, enquanto a docente dava uma espiada para dentro do caldeirão. Não era todo dia que uma poção sua dava certo. Elas costumavam explodir, se transformar em gosmas, causar o efeito contrário.
Vicente colocou luvas térmicas e, segurando o caldeirão com ambas as mãos, despejou o líquido rosado dentro do recipiente de vidro com cautela— havia chegado até ali, só o que faltava era derrubar tudo pelo balcão.
—Já to terminando. — Respondeu a Julio. — Preciso só esperar um pouco pra fechar o frasco.  
Não sabia muito de poções, mas havia aprendido que devia deixar a maior parte do vapor escapar, antes de vedar os recipientes. Enquanto isso acontecia, anotou nas margens do próprio livro as coisas que havia achado pertinente no decorrer da aula: a solubilidade dos ferrões, dos tentáculos, os melhores tipos de movimento para cada poção, o efeito das ervas.... Perguntaria à professora numa próxima oportunidade.
Enquanto não eram dispensados, tratou de organizar a bancada e limpar os utensílios.
—Quantas doses será que rende?— Perguntou ao Torres, fechando o frasco e tentando imaginar quanto seria necessário para compor uma dose completa. —A gente bem que podia ficar com elas...