Logo mais era hora de ir para a aula de Miguel, ele parecia bem animado andando pelos corredores hoje mais cedo, provavelmente estava preparando algo interessante, mas a questão é: O que será? Se eu pudesse chutar, diria que ele tem alguma criatura diferente para apresentar na aula de logo mais. Sei que parece óbvio um professor de magizoologia trazer uma criatura para a aula, mas nesse caso eu digo algo diferente do padrão, sabe? Eu não sei especificar o quão diferente, mas é isso.

Eu tinha pego apenas uma maçã para o lanche da tarde, mas acabei dando apenas uma mordida antes de me esquecer completamente dela. Abri o livro de Magizoologia e comecei a folhear, passei as primeiras páginas sem dar uma olhada sequer, eram apenas o sumário e a introdução e sendo sincero não me interessa muito no momento saber a ordem das criaturas naquele livro. Quase como uma criança fascinada nos desenhos e figuras, fui jogando as páginas escritas para o lado até ver a criatura linda que estudamos na aula passada. — Dragão do Caribe. — pensei alto demais enquanto passava o dedo sobre a escrita. Aproveitei para reler as informações da criatura, a leitura era fácil, bem didática e cheia de exemplos, então acabei lendo o capítulo todo sobre a criatura sem nem perceber. Mas quando vi a imagem da outra criatura fiquei tentado a ler também, mas já não havia mais tempo, tinha de ir para a aula.

Fechei o livro e com a outra mão peguei a maçã que estava basicamente intacta. Fui até a sala de Magizoologia, alguns alunos já se reuniam ali e conversavam sobre assuntos que eu não entendia. Mas não foi isso que me chamou a atenção, pois no fundo da sala se encontrava um aquário gigante. Olhei curioso mas não questionei, Miguel já parecia animado para falar, então só precisava esperar, apenas sentei no meu cantinho e esperei. E como disse, não demorou nadinha para que Guel começasse a aula, e não teve rodeios, foi direto ao ponto. Enquanto ele falava minha cabeça revirava a leitura que havia feito há pouco, e quando ele fez a pergunta para a sala, minha resposta foi praticamente automática. — Dragão do Caribe? — Soou mais como se eu tivesse pensado alto do que propriamente falando por querer. Mas deu para ver que o professor me ouviu.

Ele prosseguiu com a aula revisando as características da criatura, felizmente estavam frescas em minha cabeça. Era hora de ver o conteúdo na prática, em teoria o Dragão do Caribe consegue se esconder, camuflando-se na água. Será mesmo? Bem era o que veríamos, Miguel pediu para que nós nos fossemos até o aquário ver se conseguimos ver o bichinho. Escolhi o cantinho mais próximo de mim, torcendo para que eu conseguisse vê-lo.

Lembro que na aula anterior fiquei impressionado pela beleza do Dragão do Caribe, cheguei a grifar isso em meio as minhas anotações, então não contive o brilho no olhar ao vê-lo naquele aquário. Tudo bem que não fui o primeiro a enxergá-lo no meio daquela imensidão de água, mas o fato dele ter se mostrado para mim é algo muito legal. Estava ansioso para saber o que viria a seguir, só torcia para que não tivéssemos de entrar ali dentro com ele, não sou muito chegado em nadar, então espero que a aula tome um outro rumo, qualquer um que não seja esse.

Agora as coisas ficaram um tanto mais complexas, não bastará apenas ter um breve conhecimento sobre o Dragão do Caribe, talvez precisaremos contar com um bom tanto de sorte, ou será que apenas um olhar muito atento servirá? Não faço ideia. Temos de escolher um objeto qualquer e subir ao mezanino para lançá-lo no aquário, nosso objetivo é acertar a trajetória para que o objeto venha a cair próximo da criatura e com isso ela possa congelá-lo. Mas para complicar um pouquinho mais, não é qualquer objeto que poderá ser congelado, somente aqueles que tiverem um tamanho igual ou inferior conseguirão. E que droga, fiquei tão fascinado em olhar a criatura em si que me esqueci de ver seu tamanho, quer dizer, eu vi a criatura, sei que ela não é muito grande, mas também não é muito pequena.

Eu precisava então escolher o objeto, mas o que? Não é como se eu tivesse muitas opções dentro de uma sala de aula, se eu tivesse trazido comigo meu livro de poções, esta seria uma boa escolha, se bem que talvez não, esse ano eu tenho gostado um pouco mais dessa disciplina, até me dei bem no último clube. Mas voltando ao foco, preciso pensar um pouco mais rápido. Olhei cada canto da sala atrás de algo, até encontrar algo que me parecia interessante, uma bola de cristal, não muito grande, aparentemente tinha o tamanho ideal. Peguei-a e subi correndo ao mezanino, prestando muita atenção para não tropeçar e rolar escada abaixo. Olhando lá de cima, tudo parecia estar completamente parado, não conseguia enxergar nada além de água. — Deixa eu ver, talvez ali. — Comentei quando vi um mínimo estremecer na superfície do aquário, havia sido um chute, se eu acertasse pois muito que bem, mas se não, tudo bem também, eu tentaria de novo.

Aquela esfera era um tanto engraçada, parecia uma bolinha de gude tamanho família, mas não daquelas caras que tem tipo um filete de pasta de dente dentro, era daquelas lisas e transparente. Então eu estendi o braço para fora da proteção do mezanino tentando mirar onde eu havia visto um pequeno sinal de movimento, mas nem estava tão convicto assim.

Sabe quando você fica tão atento em alguma coisa que parece que todo o universo desacelera para que você possa prestar atenção naquilo? Então, isso normalmente acontece em situações ruins, mas dessa vez era apenas eu olhando aquela bola de cristal indo em direção a água. Vou falar que eu estava um pouco nervoso e apreensivo, imaginem só se eu erro e acerto a parede do aquário, ia fazer uma sujeira que só. Tchibum. A esfera adentrou a água, e foi assim que vi que ela não era uma escolha tão boa assim, eu não consegui enxergá-la direito, dava apenas para notar uma leve distorção lá dentro.

Poxa, aqueles segundo eram eternos, nada acontecia e eu ia ficando nervoso. Vamos lá Dragão do Caribe, um soprinho só, não precisa mais do que isso. Quando desviei o olhar para os lados, não era apenas eu na esperança de que algo acontecesse, quase todo mundo olhava fixamente para o interior do aquário. Será que eu havia errado tão grotescamente? Esperava muito que não, e movido pela minha ansiedade eu tombava meu corpo para frente, ficando apenas nas pontas dos pés, olhando lá para baixo.