Estava sendo complicado para Mikael se adaptar a sua nova escola já que sua mãe tinha mudado de país e com isso o garoto teve que lidar em ir para uma escola nova de novo.. Desde seus onze anos ele já tinha passado por diversas escolas por conta do trabalho de sua mãe, mas nunca entendia o motivo dela mudar tanto, afinal qual o problema de arranjar um emprego onde deixasse ela morar em um país até que se formasse? Pelo menos ele sempre teve aulas particulares de outros idiomas e com isso não era o mais novo brinquedo de veteranos que pegavam no pé de um novato que não sabia falar o mesmo idioma que eles. As primeiras semanas no Castelobruxo vinham sendo até tranquilas por assim dizer, o menino estava conseguindo se equilibrar nas aulas e até mesmo tinha conseguido fazer alguns amigos, porém passava a maior parte de seu tempo na parte externa da escola correndo ou só se exercitando, pois tinha medo de ficar gordo como seu pai era, o progenitor não chegava a ser obeso mas o corpo que o mesmo tinha não lhe agradava nenhum pouco em imaginar que um dia podia ser igual a ele.

Ele não tinha conhecido entrada de escola ainda e levaria um tempo para conseguir isso, porém já estava informado de alguns rumores de alunos que não pensavam muito bem antes de agir, afinal quem vai atrás de uma criatura do nada? Sentado no espaçoso banco de pedra o menino tinha contra sua perna que estava dobrada um caderno de desenho e em sua mão esquerda segurava um lápis de escrever de coloração amarela. Ele nunca tinha visto uma caipora ou curupira em sua frente, mas com base nas descrições que o professor Miguel passou em sala de aula o jovem tentava dar vida a pagina que só continha alguns risquinhos até o momento. O primeiro traço que apareceu na folha branca como a neve fora dois pés de forma contrária enquanto a cabeça estava virada em direção a Mikael,  os pés do que ele criava estava ao contrário. Porque ele desenhava daquela maneira? Muitos podem julgar que o menino tinha alguns problemas, mas só aqueles que não conhecessem o que um curupira podia fazer. Pelo que tinha absolvido da aula que teve a criatura do sexo masculino era guardião das matas e  que gostava de levar a vida mais solitária, ou seja, não gostava de viver em bando. Criaturas arriscadas e que eram dotados de poder virar os pés para trás, mas isso tinha um objetivo bom, pois era assim que eles confundiam as pessoas que fazem mal para os animais e desmatavam as matas. 

Enquanto escutava algumas conversas ele continuava a mover a mão em que continha o lápis, pouco a pouco o desenho se formou e seu curupira estava pronto. Após o desenho do guardião do sexo masculino ele voltou a mover a ponta do lápis contra a folha a mesma folha deixando só um pequeno espaço entre o que já estava pronto. Assim como o outro as mesma características tomaram conta do papel, a altura era a mesma, as orelhas pontudas, o corpo peludos lembrava muito ao que tinha acabado de desenhar, mas aquele era um pouco diferente por duas coisas. Tinha cabelos que batiam na altura dos ombros e seus pés estavam virados para frente como de qualquer ser humano, era a senhorita caipora, outra guardiã das matas e dos animais. — Acho que não esqueci nada.. — Murmurou olhando de um desenho para o outro e deu um sorriso de canto, ele amava fazer desenho de tudo que lhe chamava atenção ou despertava sua curiosidade. Com as duas criaturas desenhadas, Mikael trocou o lápis de escrever por um de coloração avermelhada pintando assim os dois desenhos, depois usou a cor esverdeada para dar um contraste legal. “Espero que eles não fiquem bravos caso meu desenho não seja bonito ou parecido com eles.” Pensou e aproveitando que já estava com o verde em mãos tratou também de desenhar várias árvores atrás dos dois guardiões, desenho maçãs, mangas e outras frutas em cada uma das árvores que colocou para incrementar seu desenho.

Mais uma vez revelou o que tinha entre os dedos e voltou para o lápis de escrever e então começou a colocar algumas perguntas no final da página onde o desenho não pegava. Irmãos? Primos? Namorados? Amigos unidos para salvar a natureza e os animais? Eram perguntas sem resposta até o momento, mas sem dúvida alguma um dia ele conseguiria encontrá-las. Talvez se oferecesse uma cachaça da boa e um ótimo fumo teria como ter uma prosa tranquila com eles, se bem que as caiporas viviam em bando e com isso ele teria que levar muitos fumos e cachaça, pois não sabia se elas dividiam as oferendas entre si. O tempo passou mais rápido do que ele esperava enquanto desenhava, mas era normal tal coisa acontecer quando estava envolvido em seus desenhos. Com calma guardou suas coisas dentro da mochila para só então levantar e seguir para a aula que teria em poucos minutos, não era de seu feitio chegar atrasado mesmo que já tenha acontecido uma vez aqui e outra ali por acabar falando que dormiria mais cinco minutos. Em passos calmos e tranquilo deixou o local para se juntar a turma que adentrava a sala.