Falar sobre espíritos é uma tarefa árdua e complexa no nosso mundo bruxo contemporâneo, uma vez que é bastante difícil estudar aquilo que não se pode examinar com meticulosidade. Desde de 1690 d.c. existiu uma crescente preocupação em enquadrar as criaturas do mundo mágico, que para tal, convencionou-se a atual definição estabelecida pelo bruxo Grogan Stump em 1811: ¹Um Espírito é uma criatura não-corpórea, embora não necessariamente não-sólida; ²Espíritos não são dotados de vida, logo não poderiam ser classificados como seres; ³Por não possuírem o critério de ‘ser-vivente’, são incapazes de morrer.

Embora sejam critérios interessantes, afinal alguns espíritos enquadram-se as 3 regras, essa é uma forma pouco inclusiva e promissora de estudar essas fantásticas criaturas. Contudo, essa conotação segue vigente por questões políticas e rigidamente fortalecidas nas engrenagens da bruxaria moderna, falaremos melhor sobre esse tema no volume 2  – O Divino Profano.

Espíritos nada mais são do que a impressão terrena (e tridimensional) de criaturas que habitam outras camadas dimensionais, que por generalização são conhecidas como planos espirituais, em uma dicotomia de antítese ao plano terreno (o qual habitamos). Por exemplo, quando um bruxo morre sua alma passa a residir uma dimensão fúnebre, nomeada de acordo com a cultura de um povo como: paraíso, inferno, Hades, Valhalla... em alguns casos, acabam abandonando um – ‘imprit’ – impressão ou marca mnêmica em uma forma corpórea, isto é, a personificação de suas memórias em vida terrena, o que chamamos de fantasma.

Outro exemplo é que algumas dimensões acabam interagindo com a psiquê humana e suas emoções mais primitivas e que a partir disto são capazes de gerar não-seres ou amortais, como um dementador (regido pela depressão). As dimensões também podem residir criaturas grandiosas de puro poder mágico, conhecidas como entidades, elas fomentam o panteão de divindades de diferentes culturas, alguns exemplos são: Olimpo, Asgard, Duat, Illapu....

Fantasmas: A impressão mnêmica, isto é, a personificação das memórias da vida terrena de alguém que veio a falecer. Embora permanecer como um fantasma possa ser escolha de um bruxo que teme o que vem após a morte, é possível contactar alguém que morreu através da formação de seu fantasma, contudo momentaneamente seu estado espiritual perde as lembranças do pós-vida e é por isso que ninguém sabe ao certo como é a vida após a morte. Fantasmas não são capazes de possuir corpos humanos, a não ser que sejam forçados por sensitivos. Ademais, só se mantém em plano terreno, sem nenhum auxílio mágico, se for uma escolha antes do pós-vida, incapazes de causar qualquer interferência.

Aparições ou Assombrações: São espíritos que, em vida, já pertenceram ao plano terreno, mas acabaram perdendo a sua senciência e tornaram-se seres de pura magia com finalidades diversas e exclusivas, por exemplo: O Negrinho do Pastoreio é uma aparição que auxilia pessoas perdidas, uma Banshee é uma aparição que representa pessoas enlutadas, Romãozinho tornou-se uma assombração sádica. Surgem apenas em contextos específicos ou quando são invocados, são capazes de assombrar/permanecer em um local durante um certo período, quando benevolentes acabam sumindo sem necessitar de um banimento. Possuem caráter de onipresença mágica e podem ocupar espaços diferentes de forma simultânea.

Desgarrado: Trata-se de qualquer ser extradimensional que vibra em um estado de negatividade, frustração, angústia, culpa ou ódio. Pode ter sido um humano que não conseguiu realizar sua ambição em vida, ou uma entidade menor que foi descredibilizada com o tempo, ou rejeitada pelo seu panteão. São frequentemente contatados por engano, especialmente por sensitivos, como possuem uma aura tão fraca acabam passando por despercebido por seres mais poderosos. Dividem-se em espíritos ardilosos que precisam de um corpo terreno para se manter e fortalecer; ou espíritos lamuriosos que aguardam um momento de reencarnar (até mesmo como animal) para corrigir algum erro de sua vida terrena. Ao longo da história foram frequentemente confundidos com os demônios cristãos ou até mesmo sintomatologias psicóticas. É muito comum um desgarrado contaminar um corpo de quem faz uso de ayahuasca, quando alimentam-se de muita energia mágica são capazes de influenciar no ambiente como poltergeists e acabam sendo reconhecidos como almas-penadas.  

Não-Seres: Ou amortais, é um espírito mágico que se forma a partir de emoções humanas. Existem três espécies de não-seres conhecidas: dementadores (depressão), bichos-papões (medo) e poltergeists (caos e desordem). Alguns estudiosos afirmam que um Alebrije seria um quarto tipo de não-ser ligado ao sentimento de amor e proteção, outros afirmam que é a materialização de um plano onírico. Chamam-se de amortais uma vez que trazem consigo o conceito de ‘amortalidade’ que é a condição de nunca ter morrido e ser incapaz de morrer, sem sequer possuírem uma vida, diferentes de imortais que conseguem preservar sua condição de vida perpetuamente.

Criaturas Espirituais: são seres que não são afetados pelo véu, ou limiar, que delimita as dimensões, tendo livre acesso a mais de um plano, conseguindo preservar suas características originais. Estão intimamente ligadas com a natureza, o que advém sua segunda nomenclatura – espíritos da natureza, ou ainda, entidades menores. As criaturas Espirituais, juntamente as entidades, são os ancestrais da fauna mágica que conhecemos e até mesmo flora, em alguns casos. Exemplos: Caiporas, Curupiras, Dríades, Ninfas. Recebem o título de criaturas, pois em sua maioria são sólidas e suscetíveis a morte; contradizendo Grogan Stump (1811)

Entidades: seres detentores de grande poder mágico e capazes de realizar ou conceder milagres, bem como maldições. As entidades podem ser de caráter divino ou demoníaco, representados por diferentes panteões e monopolizam grandes capacidades de manipulação da realidade, estando intrinsecamente ligados ao surgimento da magia no nosso plano, embora esse seja um tabu nas rodas acadêmicas.

Tendo um Norte de pesquisa, aplicou na Universidade Bruxa De Londres com o viés de pesquisadora em sociologia mágica e desde então passou a contribuir com a área acadêmica. Conciliou suas paixões o Ocultismo e Espiritologia – junto a demonologia – e percorreu mundo a fora aprendendo sobre diferentes cultura e formatos menos eurocêntricos de se praticar a magia, doutorando na Universidade de Salem. Atualmente o seu trabalho é controverso e Luma costuma ser perseguida por cutucar feridas antigas.