Do you feel me now?

O vestido preto contrastava a pele alva, os cabelos geralmente brancos coloridos com magia pelas pontas. Sentia-se novamente muito nova, muito colegial e inocente. Keegan era sempre mais robusto em postura e aparência! Um homem com a selvageria contida em elegância, diferente da aura ligeiramente comportada de boa doutora a que Kiara se cedia. Naquela noite parecia querer fazer diferente: o cinto fino contornava a cintura estreita por vezes suficiente para formar um X antes de ser fechado, os saltos cor de piche, brilhantes e altos, davam-lhe uma voluptuosidade rara. Olhou-se no espelho pela décima vez, parecendo querer se assegurar que as mangas de renda e os detalhes rendados eram uma boa escolha.

— Ivy, vou jantar com Keegan hoje... Você consegue arranjar comida sozinha? — Não se preocupou nem mesmo em sair do quarto antes de gritar, sabendo que a irmã a ouviria pelo apartamento pequeno. Aliás, a julgar pela risadinha recebida em resposta, teve a impressão de que a menor ouvira até mesmo quando praguejou para colocar os saltos ou reclamou baixo sobre roupas comportadas demais. Foi o suficiente para fazer a Dra. Cheshire corar. — Vou entender isso como um sim. — Disparou de mal humor enquanto pegava a pequena bolsa de patê brilhante, metendo-lhe um bocado de moedas de ouro e o batom que há pouco delineara-lhe a boca. Naquela noite tinha se banhado com os produtos da mais nova, de modo que não precisou de perfume - manteria o cheiro de amortentia por 24h.

— E, por favor, não faça nenhuma festa! — Atirou em tom ligeiramente maldoso, apenas para se vingar da vergonha que a morena tinha dado para si. Já quase saía do quarto quando viu seu pequeno acessório esquecido na cama. Talvez aquela fosse a mudança mais brusca em todo o visual da noite: ao invés das correntes finas de ouro polido ou mesmo da ausência de qualquer coisa em si, optara por uma gargantilha cor de pele. Não era grande coisa... A não ser que se considerasse ali a argola larga e prateada que pendia-lhe, dando uma conotação bastante diferente para o traje por completo. — Se precisar de qualquer coisa é só me ligar! — Anunciou antes que Ivy tivesse a oportunidade de vê-la avançando rapidamente pelo corredor.

Desceu pelo elevador do prédio antes de aparatar para o restaurante combinado com o mais velho, parecendo ligeiramente desconfortável com a ideia de algum paciente ou colega acabarem por intercepta-la na rua daquela maneira. Talvez por isso tenha apressado ligeiramente os passos, avançando para a entrada do estabelecimento sem sequer se atentar à fachada do lugar. Mordiscou ligeiramente o lábio inferior, rindo internamente de si mesma. Uma adulta, médica e pesquisadora, agindo como uma criança em seu primeiro amor, cheia de timidez e provocações silenciosas. Foi impossível impedir o sorriso agridoce dançava pelos lábios, os olhos de um azul límpido faiscando sob o delineado grosso.

A vestimenta da coloração escura com delineamentos caíra perfeitamente na ocasião em questão. Isenta de objetos a lapela não ficaria, supôs que sua noiva poderia vir a adorar uma flor – uma miniatura de uma rosa. Tal gesto é apenas visto em casamentos demonstrando o quanto os convidados que auferem são importantes, homens de pouca fé em sua classe não se atentam ao artefato. Os olhos se vislumbravam com sua elegância quando se via no espelho bordado a ouro, ponderou os tempos que não tinha muitos trajes formais e tentava de tudo para parecer bem vestido - o que o tempo e o dinheiro não fazem com o homem. Em tempos modernos como este, os não bruxos usam perfumes dê olfato de extrema classe; Malbec a essência que viria a vir agradar Kiara, estará impregnada na região do pescoço masculino.

— Alessa, Marjory e Leo. — Profira em um tom forte querendo a atenção por um breve momento de tempo. — Convidei a Kiara para jantar na Capital, não ousem aprontar. A casa tem ouvidos e olhos. E caso tenham algum problema, a prima de vocês, também conhecida como Isis vai dar suporte. E o mais importante, não esperem por mim! — Tais indagações irá se propagando aos ventos, enquanto seus passos certos e firmes iam se desenhando rumo as escadas. Ouve-se uns murmúrios e outros nos quais qualificara como bons e ruins, a parte ruim provavelmente ficou com não aprontar, então previu que acertou em cheio. Mordiscou o lábio inferior com um sorriso despojado.

Gesticulara o punho canhoto aos ângulos para visualizar o horário. Engolira ao vento, ou seja, seco. Sentira o estômago se virar, é o momento para iniciar sua partida.  — On y va! — A língua francesa sempre fora seu forte, visto que ele é, francês - em ocasiões especiais tinha-se a superstição de falar em sua língua nativa para tudo seja meramente perfeito. O aparata sambara na região bocal esperando à indagação. A varinha amadeirada tocada por dedos leves e nada perdidos sua ponta acendera a luz branca, instantaneamente partirá para o restaurante mais requintado da Capital.  

Os passos demarcados esbanjaram sons delicados por trás de Kiara, e um pouco de percepção poderá notar que seu homem rumará em sua direção. Com os membros superiores livres, o membro destro deslizara para sua cintura, esperaria que o toque não a fizesse assustar. — Está magnifica, Senhorita Cheshire. — O fitar permanecerá sobre a face feminina, deixando escapar um sorriso de encantado com sua beleza e captara cada detalhe e afeições provenientes do seu elogio. Entre o término da indagação de Kiara, se aproximara o suficiente para que seus lábios se toques, deixando o clima menos tenso – no bom sentido, é claro.

— Vamos entrar amor? — Murmura num tom baixo, esticando o membro canhoto visivelmente ditando para onde irão e qual mesa iriam se aconchegar. —Nossa mesa está bem ali. — Keegan fora conhecido pelo o recepcionista e deu o sinal que estariam liberados há poderem adentrar ao recinto. Como se estivesse acompanhando sua filha mais velha para o casamento, o homem segurou um dos braços dê sua noiva, demonstrando sua classe sempre, peregrinando com ela até a mesa em questão. A disposição de espaço que o lugar poderia oferecer era magnifica e ele reservou uma das melhores mesas, não seriam incomodados com as transições das pessoas ou garçons indo de um lado para o outro. Puxará a cadeira para Kiara se sentar e empurrara deixando-a confortável, fim vim o mesmo se sentará. — Então, como anda a vida no novo apartamento? Sua irmã está animada com a ideia de morar conosco? A turminha do barulho é grande. — Profira querendo saber um pouco mais sobre a futura vida de ambos dando um leve riso ao final, mantendo o contato visual.

Do you feel me now?

O mesmo sorriso agridoce domava-lhe os lábios assim que o toque sutil tomou sua cintura. Tinha uma delicadeza e possessividade no movimento simplório que mesmo sobre a roupa a fazia arrepiar com inteiro. Sabia a quem pertencia, sem dúvidas! Não só pelo trejeito ou pelos dedos firmes, mas pelo cheiro familiar que agora a sondava, embriagando os sentidos pelo torpor que sempre a alcançava quando próxima do noivo. — O homem mais lindo de todo o mundo bruxo é meu acompanhante. Acho que às vezes é bom me arrumar de acordo. — Devolveu simplesmente, rindo baixo da própria colocação. Podia parecer exagero... Mas de certo era assim que via o futuro marido. Não só por sua aparência, mas pelo brilho único que ele recebia aos olhos da loira, em especial quando perto das filhas.

Em meio ao selinho, aproveitou a proximidade para entrelaçar os dedos esguios entre os cabelos escuros e macios do maior, deixando-os deslizar em uma caricia discreta, suspirando baixo ao se afastarem. Algo nas madeixas de Keegan lembravam-lhe as ondas suaves do mar tranquilo. Lembravam-lhe de sua mãe, da calmaria reconfortante, da paixão oceânica em seu peito, daquilo que, semana após semana, envolvia seu corpo. Assim como fazia com a água, às vezes Kiara pensava ser capaz de respirar o moreno por inteiro, sem precisar de oxigênio por várias horas seguidas. Podia viver daquele Brachmann mesmo no meio de qualquer caos... O que nunca tinha experimentado com mais ninguém. O homem era seu oceano e as duas filhas dele suas joias brilhantes no meio dos corais: eram do mar e de aventuras, não suas, o que fazia o peito doer por amá-las demais. Faziam-na pensar se seria errado pega-las para si também.

Com os pensamentos ligeiramente anuviados em um misto de felicidade e dúvida, deixou que o acompanhante a guiasse para dentro sem mais nenhuma palavra. Apenas assentiu e sorriu ao ter a cadeira afastada para si em um ato cavalheiro e sentou-se quieta enquanto ele dava a volta e acomodava-se também. Antes que percebesse já era distraída com perguntas sobre Ivy e o novo lar... E também o que seria o próximo novo lar e não mais do que alguns meses. Ainda parecia-lhe surreal morar com Keegan. Sempre fora muito independente, cuidara de sua irmã mesmo depois do orfanato, reivindicara a menina como sua responsabilidade assim que teve idade suficiente. Desde que se entendia por gente sempre foram Ivy e Kiara contra o mundo, juntas na solidão... E agora simplesmente estariam incluindo não apenas o marido da sereiana como, também, as filhas, sobrinhos e todo o restante da família dele.

— O apartamento é ótimo. Ainda estamos nos adaptando a ter um espaço maior, nunca tivemos uma casa tão legal. Nossa vista é incrível e tudo é perfeito e... Bom, acho que por isso ainda não comentei com Ivy sobre a mudança. Seria a segunda em um curto período. — Sorriu amarelo, ainda que se orgulhasse da própria habilidade de moldar as palavras como bem queria, amenizando boa parte da seriedade de grandes assuntos. — Aliás, eu queria que Marj e Alessa conhecessem o apartamento... — Desviou do assunto deliberadamente, verificando o cardápio disposto na mesa com o objetivo maior de se esconder entre as páginas do que realmente definir o prato da noite: era indecisa demais para fazê-lo no silêncio em que se encontrava. Gostava de frutos do mar, carne vermelha e massas em igual proporção.

— O que me lembra.... Será que poderíamos marcar uma pequena reunião em casa? Queria anunciar o noivado oficialmente e estrear o ofurô. — Talvez esse fosse um assunto que prendesse mais a atenção de Keegan de uma maneira segura, mas também era um catalizador para o rubor discreto da Cheshire. Chamar o noivo de amor e pensar na palavra 'noivo' ou mesmo 'noivado' eram coisas completamente diferentes de falar sobre isso. Sequer pensava em namorar sério poucos anos atrás... E desde que conhecera o auror a coisa que mais queria era consolidar a união para sempre na presença daqueles que sempre os apoiaram. O casamento lhe era tão esperado que as vezes lembra-se de manter a calma mentalmente. Parecer desesperada era uma coisa que evitava fazer à todo custo.

rp fechada

fechado por inatividade!